Escrevemos este texto como duas mulheres liderando uma organização global de campanhas e que, como muitas outras mulheres, estão extremamente inspiradas pelo movimento #MeToo [#EuTambém, em português. A iniciativa surgiu nas redes sociais para denunciar casos de assédio].

O movimento está mudando e desafiando o mundo ao nosso redor. É nestes momentos que a sociedade pode ser transformada de diferentes maneiras e em uma velocidade que ninguém achava que fosse possível. Nesses momentos um padrão novo e melhor pode surgir nas nossas sociedades.

Jennifer Morgan (esq) e Bunny McDiarmid são diretoras executivas do Greenpeace Internacional Foto: Bas Beentjes

 

Nós celebramos a coragem de mulheres ao redor do mundo que estão compartilhando suas histórias, exigindo justiça e mudando a vida de outras pessoas. Nós nos solidarizamos com elas. Nós nos juntamos a elas.

Todas as mulheres têm direito a um espaço seguro, livre de assédio; nós merecemos igualdade e paz. Não pode haver paz sem igualdade e nem sustentabilidade sem paz.

A maneira como tratamos uns aos outros está diretamente ligada com a maneira como tratamos o planeta. Não podemos mudar uma coisa sem mudar a outra. A solução para cada injustiça está no cerne da solução de todas as injustiças.

Ao buscar inspiração e coragem em mulheres do mundo todo, também estamos olhando para dentro do Greenpeace. Estamos nos olhando no espelho e perguntando se gostamos do que vemos. Estamos fazendo tudo o que podemos para garantir que merecemos sua confiança, seu apoio e sua participação?

O Greenpeace é o modelo do espaço seguro que queremos que o mundo seja? É um lugar onde todas as pessoas podem prosperar em seu esforço para proteger o meio ambiente, sabendo que no coração da proteção do nosso planeta está o nosso cuidado um pelo outro?

Não, não é. Ainda não.

Nossa missão de proteger o planeta não deve nos cegar para a realidade do trabalho que temos que continuar fazendo para que a nossa própria organização seja um espaço seguro para o ativismo criativo e colaborativo. Temos que ser realistas e honestos. Nos esforçamos constantemente para ser melhores, mas nem sempre conseguimos. Estamos aprendendo e estamos comprometidos em continuar aprendendo com nossos erros.

Sabemos que são necessários sistemas robustos para construir e manter um ambiente de trabalho seguro. Especialmente no apoio, investigação e ação relativos a qualquer reclamação. Isso deve ser sustentado por uma cultura de inclusão e equidade. E isso também implica trabalho.

Em junho do ano passado, todos os escritórios do Greenpeace elaboraram um pacote de integridade comum, incluindo um Código de Conduta sobre como se comportar e um protocolo para lidar com diversos tipos de reclamações. Cada escritório faz parte de um ecossistema legal único, mas estamos atualizando estruturas e processos para garantir que as pessoas sejam ouvidas, apoiadas e que qualquer ação necessária seja tomada.

Embora atualmente não tenhamos um mecanismo de denúncias global para coletar as denúncias que forem recebidas em todos os escritórios do Greenpeace, estamos trabalhando para estabelecê-lo. Estamos comprometidos em elaborar relatórios anuais sobre a quantidade, tipo e conclusão sobre as denúncias recebidas. Faremos o nosso melhor para alcançar o equilíbrio certo entre transparência, responsabilidade e confidencialidade.

Idealmente, não teríamos necessidade de processos e mecanismos de denúncia, uma vez que o objetivo, em primeiro lugar, é eliminar o assédio ou abuso de poder.

Estamos trabalhando para uma cultura em que:

  • Todos atuem segundo os mesmos padrões e sejam protegidos da mesma maneira;

  • As pessoas se sintam empoderadas para intervir quando testemunharem assédio;

  • As pessoas sejam apoiadas e encorajadas a denunciar;

  • Todos os funcionários participem de um treinamento sobre assédio;

  • Workshops e discussões sobre como construir uma cultura mais forte, inclusiva e diversificada aconteçam regularmente;

  • Nossos procedimentos e processos de reclamações sejam regularmente revisados ​​e atualizados com a ajuda de especialistas independentes;

  • As lideranças de toda a organização devem se dedicar, como prática cotidiana, ao desenvolvimento de nossa cultura de trabalho;

  • Nossa liderança e prática de trabalho refletem a ampla diversidade de pessoas, cultura, classe e raça que somos;

  • Todo staff do Greenpeace - equipe, tripulação e voluntário, independentemente de qual escritório ou navio do Greenpeace trabalhem - tem acesso a uma pessoa de confiança ou agente de integridade treinados, alguém com quem possam contar para  conversar caso necessário.

Essa pode ser uma conversa desconfortável. Essa deve ser uma conversa desconfortável. Nós participaremos dela com os olhos e os ouvidos bem abertos.

Não é uma distração da nossa missão principal ou propósito mais importante, como alguns podem pensar. Essa é nossa missão principal e propósito mais importante. Como tratamos as mulheres, que são a metade da população do planeta, influenciará o nosso destino e o do próprio planeta.