Primeiros resultados sobre água da bacia do Rio Doce são revelados

Notícia - 22 - dez - 2015
Relatório preliminar com a análise da qualidade da água e de sedimentos na área afetada pela lama registra índices de manganês, arsênio e chumbo muito acima do permitido

Camada de lama seca contendo resíduos minerais no município de Paracatu de Baixo, cerca de 70km de Mariana, MG. Ao fundo, trecho do rio Gualaxo do Norte (© VIctor Moriyama / Greenpeace)

Com o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG), no último dia 5 de novembro, o mar de lama também carreou diversas informações desencontradas sobre a composição dos rejeitos e os potenciais impactos da lama sobre os ecosistemas atingidos. Incomodados com a falta de transparência e a gravidade da situação, pesquisadores de diversas universidades criaram o Grupo Independente de Avaliação do Impacto Ambiental (GIAIA), que se auto define como um “coletivo cidadão-científico”.

Assista ao vídeo sobre o trabalho dos pesquisadores:

 

Ao contrário do que a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e a Samarco afirmam a respeito da ausência de metais pesados nas água do Rio Doce, o GIAIA, que conta com apoio do Greenpeace, divulgou um Relatório Parcial sobre a contaminação da bacia a partir de coletas realizadas em campo entre os dias 4 e 8 de dezembro. Pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) coletaram e analisaram amostras de 17 pontos entre o rio Gualaxo do Norte, em trecho acima da barragem rompida (portanto não atingido pela lama), até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, onde a massa de lama chegou no dia 21 de novembro.

Entre os elementos analisados, o manganês, por exemplo, está acima do permitido pela resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em 16 dos 17 pontos pesquisados, inclusive à montante da barragem de Fundão (o que indicaria contaminação anterior ao desastre). Em dois locais à jusante (rio abaixo) da barragem, em Ipatinga (cidade mineira de 150 mil habitantes) e na confluência do Rio do Carmo com o Rio Gualaxo do Norte, na cidade de Rio Doce, a concentração de manganês foi de 2,65 mg/L, ou seja, 26 vezes acima do limite máximo estabelecido (0,1 mg/L). O manganês é um elemento neurotoxico, cujo consumo pode causar diversos distúrbios e doenças mentais.  

Em outro resultado preliminar do trabalho dos pesquisadores, a água captada em Governador Valadares mostrou uma concentração de arsênio quatro vezes superior aos valores máximos permitidos para água potável. Já o chumbo, metal pesado com efeito sobre o sistema cardiovascular e nervoso, apresentou limites acima do permitido no Rio Gualaxo do Norte (0,029 mg/L) e na cidade de Rio Doce (0,016 mg/L).

O CONAMA não impõe limites para o ferro e o alumínio, mas, segundo o texto do relatório, ambos “estão em concentrações extremamente altas em todos os pontos de coleta afetados pela lama de rejeito”. Viviane Schuch, uma das idealizadoras e coordenadoras do GIAIA, explica que se trata de um estudo preliminar, mas que os resultados são muito confiáveis. “Essas mesmas amostras serão enviadas a laboratórios nacionais, e possivelmente internacionais, para que os dados sejam confirmados”, disse ela.

Vista aérea do município de Bento Rodrigues, em MG, tomado pela lama de resíduos minerais (© Alexandre Moreno/TerraSense/Greenpeace)

Segundo o GIAIA, os estudos de impacto ambiental devem ser transparentes e as informações levantadas, disponibilizadas livremente. “Qualquer pessoa da sociedade deve ter livre acesso ao conjunto de dados e análises que foram executadas “, defendem em sua página na internet.

Um levantamento da SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), aponta que a lama destruiu pelo menos 324 hectares de mata nativa. O rompimento da barragem também afetou um total de 679 km de rios, incluindo o Rio Doce. Clique aqui para acessar o relatório completo.

Uma semana após o desastre, o Greenpeace enviou uma equipe para registrar o estado das comunidades atingidas pela lama e para percorrer o curso do Rio Doce até o Oceano Atlântico, registrando os impactos pelo caminho. Confira o nosso relato aqui e aqui. A organização também vai seguir apoiando a pesquisa sobre os impactos do desastre na região de Mariana e ao longo da Bacia do Rio Doce, bem como divulgando seus resultados.