Notícia - 2 - nov - 2008
Carga radioativa só sairá de Caetité após realização de audiência pública convocada pelo Ministério Público Federal para discutir evidência de contaminação da água da cidade.
Armazenada em precários contêineres, carga de 175 toneladas de concentrado de urânio tem como destino o Canadá, onde será enriquecido.
Um carregamento de cerca de 200 toneladas de concentrado de
urânio, ou yellow cake, está retido em Caetité (BA) por
motivos de segurança, segundo a Polícia Rodoviária Federal. A carga
pertence à estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que opera
a mina e a usina de beneficiamento de urânio no município baiano.
Fontes locais ouvidas disseram ao Greenpeace que a carga devia ter
saído na semana passada, mas foi retida na área do empreendimento
na última sexta-feira (31/10).
As informações disponíveis indicam que o transporte do material
radioativo deverá ser realizado somente após a audiência pública
convocada pelo Ministério Público Federal para o dia 7 de novembro,
em Caetité (BA). A audiência deverá tratar da denúncia de contaminação da água da cidade
feita pelo Greenpeace, e também da falta de segurança dos
trabalhadores, segundo informações reveladas por reportagens da TV
Record.
No dia 16 de outubro, o Greenpeace lançou o relatório Ciclo do Perigo: Impactos da Fabricação de
Combustível Nuclear no Brasil, denunciando a contaminação
da água por urânio em um raio de 20 quilômetros no entorno da
operação da INB. A água utilizada pelas comunidades locais para
beber e cozinhar apresentou índices de urânio até sete vezes acima
dos tolerados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Após a
denúncia, o MPF agendou a audiência pública e o Instituto de Gestão
das Águas (INGA) fez a coleta de amostras para análises
complementares em laboratório. Os resultados das análises serão
divulgados na primeira quinzena de novembro.
Clique aqui para ler a íntegra do
relatório (arquivo pdf para baixar)
Todos os anos, cerca de 300 toneladas de yellow cake produzidas
em Caetité percorrem mais de 700 km de estradas federais e
estaduais, atravessando cerca de 40 municípios e povoados até
chegar a Salvador. Para expor os riscos dessa etapa do ciclo do
combustível nuclear, o Greenpeace demarcou no dia 23 de outubro o
trajeto percorrido pelo comboio de caminhões até o portão principal
do porto de Salvador. Uma linha contínua e cerca de 30 símbolos
radioativos continuam pintados em amarelo no asfalto por cinco
quilômetros da avenida Bonocô da capital baiana.
"O adiamento do transporte de yellow cake mostra que o governo e
a própria empresa estão mobilizados em torno das denúncias de
contaminação radioativa e dos riscos do ciclo nuclear brasileiro",
disse Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do
Greenpeace.
"O Greenpeace está acompanhando a situação de perto e
colaborando com os processos do INGA e do MPF com dados e suporte
técnico sempre que solicitado. Vamos participar da audiência
pública em Caetité com o objetivo de esclarecer os verdadeiros
impactos ambientais da produção de material nuclear na região."
Confira aqui a nossa página especial sobre
o ciclo do urânio.