Supermercados já reconhecem a sua responsabilidade
Quatro dos seis grupos de retalhistas incluídos no Ranking já adoptaram uma política de compra e venda de peixe sustentável - três das quais já se encontram disponíveis para consulta do consumidor.
Em 2010, dois anos depois do lançamento da campanha da Greenpeace, o conceito de sustentabilidade parece ter sido interiorizado pela maioria dos retalhistas em Portugal.
O Lidl é o retalhista que está mais empenhado em melhorar as suas práticas de comercialização de pescado. A Sonae desenvolveu uma política de compra de peixe que tornará pública ainda este ano e tem dado passos largos para recuperar o atraso inicial, definindo práticas de comercialização de pescado responsáveis e sustentáveis. A Auchan tem apostado em melhorias graduais mas seguras e continua a trabalhar no desenvolvimento da sua política de compra e venda de peixe.
O grupo Carrefour, detentor da marca Dia, tem demonstrado vontade de incorporar o princípio da sustentabilidade nas suas operações a nível internacional. No entanto, em Portugal, o retalhista continua sem apresentar medidas concretas, limitando-se a fornecer uma cópia da sua política de pescado internacional.
Os Mosqueteiros afirmam ter desenvolvido uma política de pescado para melhorar a sustentabilidade dos produtos de marca própria, mas continuam sem fornecer um documento comprovativo e as prateleiras das suas lojas espelham uma realidade contraditória.
O grupo Jerónimo Martins é o único retalhista em Portugal que continua sem responder à Greenpeace, ignorando o apelo de milhares de consumidores para que adopte uma política de compra e venda de peixe que valorize a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos.
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Demasiadas espécies de peixe ameaçadas nas prateleiras
Embora a maioria dos supermercados continua a vender um número elevado de espécies da Lista Vermelha da Greenpeace, três cadeias de distribuição alimentar já estão a dar sinais positivos. Para manter o equilíbrio dos ecossistemas marinhos, os supermercados têm que acelerar a descontinuação das espécies de peixe ameaçadas.
O Lidl descontinuou a venda de uma série de espécies de peixe (tubarões, espécies de profundidade, solhas, peixe-espada e peixes-vermelhos); a Sonae já não comercializa duas espécies vulneráveis (cação e alabote da Gronelândia) e pretende reduzir as vendas de tamboril. A Auchan tomou a decisão de terminar a venda de todas as espécies de tubarão ameaçadas. Para além disso, os três grupos afirmam ainda estarem empenhados em aumentar a oferta de bacalhau de linha e bacalhau proveniente de stocks bem geridos.
É de realçar que o Lidl evita a comercialização de peixe proveniente da pesca de arrasto. Também a Sonae está a dar os primeiros passos nesta direcção, embora ainda tímidos, ao reduzir o abastecimento de peixe capturado por arrasto em 10%.
Contrastando com os esforços dos retalhistas mais responsáveis, o grupo Os Mosqueteiros e o grupo Jerónimo Martins vendem quase todas as espécies de peixe presentes na Lista Vermelha da Greenpeace e não apresentam qualquer iniciativa para reajustar da sua gama de produtos do mar.
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Supermercados estão preocupados com pesca ilegal
Vários supermercados do ranking afirmam que o combate à pesca ilegal é uma das prioridades da sua política de compra e venda de peixe. No entanto, em muitos casos o consumidor ainda não pode ter a certeza que o peixe que está a comprar é legal e justo.
Os retalhistas que têm demonstrado mais empenho no combate à pesca ilegal são: o Lidl, a Sonae e o grupo Dia/Carrefour.
O Lidl incorporou na sua política a rastreabilidade do pescado até ao barco (para peixe selvagem) ou até ao viveiro de origem (para peixe de aquacultura), exigindo aos fornecedores documentos comprovativos de que o peixe é legal e foi capturado dentro das quotas definidas para a zona.
A Sonae também se comprometeu em eliminar o pescado ilegal e cortar relações comerciais com fornecedores suspeitos ou documentados a praticar pesca ilegal (ou seja, todos os operadores ou navios constantes das listas negras oficiais e lista negra da Greenpeace), exigindo garantias e verificando o cumprimento deste critério anualmente.
A nível internacional, o grupo Dia assume o compromisso firme de combater a pesca ilegal, através da implementação de um sistema de rastreabilidade e referenciação dos produtos e fazendo pressão a nível político.
Já a Auchan ainda não desenvolveu um sistema de rastreabilidade e mantém este critério pouco realçado na sua política. Os Mosqueteiros afirmam simplesmente que seguem a regulamentação para o sector, o que na prática significa que não têm conhecimento se o peixe que vendem é ou não ilegal. O grupo Jerónimo Martins não disponibiliza informações sobre as suas políticas, não podendo garantir aos consumidores a legalidade do pescado que vende.
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O papel dos retalhistas na preservação da biodiversidade
A indústria da pesca parece querer continuar a fechar os olhos à viabilidade do sector a longo prazo, incentivando a exploração excessiva e descontrolada numa corrida para pescar o último peixe dos oceanos.
Actualmente, os métodos de pesca em voga são os que capturam mais peixe em menos tempo e que ignoram a perturbação cada vez mais irreversível dos habitats marinhos e de toda a cadeia alimentar dos oceanos. Com a taxa de consumo dos produtos piscícolas a crescer a um ritmo superior ao da taxa da população mundial e menos de 1% dos nossos oceanos protegidos, os cientistas começam a alertar para o colapso iminente das reservas de peixe.
É estimado que as consequências da gradual perda da vida dos oceanos possam ser tão catastróficas no futuro, quanto são hoje imprevisíveis. É urgente, por isso, travar a perda da biodiversidade marinha e todos assumirmos a nossa responsabilidade, individual e colectiva, pelos recursos que consumimos.
Este alerta geral tem incentivado um número crescente de consumidores e cidadãos a exigir aos supermercados uma gama de produtos de peixe sustentáveis. A palavra sustentabilidade começa assim a fazer parte do vocabulário do sector de distribuição alimentar que, em reposta ao desafio, está gradualmente a retirar as espécies de peixe mais ameaçadas das suas prateleiras, recusar peixe ilegal e peixe proveniente dos métodos mais destrutivos e oferecer alternativas mais amigas dos oceanos.
A tendência começa a ser notada também em Portugal, onde cerca de 70% do peixe é vendido nas grandes superfícies. Em 2008, a Greenpeace chumbou todos os supermercados portugueses por nenhum ter ou disponibilizar ao público políticas de compra e venda de peixe. Após dois anos de campanha da Greenpeace em Portugal, quatro dos seis maiores retalhistas já têm uma política escrita e estão a trabalhar activamente com a organização para implementar medidas que preservem um dos recursos mais preciosos e ameaçados do planeta: o peixe.
“Em 2010, insto todos os países e cidadãos do Planeta a formar uma aliança global para proteger a vida na Terra” Ban Ki-Moon, Secretário Geral da Nações Unidas
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O que é o Ranking dos Supermercados?
O Ranking da Greenpeace analisa as práticas de compra e venda de peixe dos supermercados segundo critérios desenvolvidos a partir das recomendaçõse da Greenpeace para a pesca e aquacultura sustentáveis e para a comercialização de pescado.
Nesta análise os supermercados são avaliados com uma percentagem de cumprimento destes 7 grupos de critérios:
- A existência de uma política de compra e venda de peixe sustentável e a sua robustez
- As medidas adoptadas para excluir o pescado vindo de práticas de pesca e aquacultura insustentáveis ou ilegais
- As medidas adoptadas para apoiar as práticas de pesca e aquacultura sustentáveis
- A política de rastreabilidade dos produtos de peixe
- A etiquetagem dos produtos de peixe
- A existência de espécies da Lista Vermelha da Greenpeace na gama do supermercado
- A transparência das políticas e a informação veiculada aos consumidores
Os supermercados são classificados com uma percentagem de cumprimento com estes critérios, desenvolvidos a partir das recomendações da Greenpeace para pesca e aquacultura sustentáveis e para comercialização de pescado, publicadas no seu site internacional. Estas recomendações seguem o Código de Conduta para a pesca responsável da FAO, adoptado em 2002 com o objectivo de restabelecer os stocks de peixe a nível global até 2015.
Para efeitos de classificação só são tidos em consideração aspectos da política comprovadamente implementados ou alegações comprovadas por documentos facultados à Greenpeace.
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