Acabo de receber notícias do meu grande amigo Phil Kline, que segue a bordo de um dos navios do Greenpeace, o Artic Sunrise. Eles estão nesse momento documentando todos os impactos que o vazamento de óleo no Golfo do México deixou na região, principalmente para a biodiversidade, que sem dúvida nenhuma acabará afetando a economia e beleza local.

Phil acaba de retornar de férias e havia me enviado imagens maravilhosas de um mergulho nos recifes de corais da Indonésia. Ele estava extasiado ao notar que ainda existem lugares belos e preservados no mundo. Mas logo que retornou ao trabalho e recebeu a proposta de embarcar para a região onde ocorreu o derrame de óleo, percebeu que não seria tarefa fácil. Como coordenador da campanha de oceanos do Greenpeace, ele precisava documentar e expor o problema da exploração de combustíveis fósseis para a sociedade civil.

Nos primeiros dias visitaram a região da ilha Horn, no Mississipi. Eles encontraram na areia da praia bolas de piche. Sabe aquele material oleoso, duro e grudendo que é usado para fazer nossas ruas, estradas e rodovias? Pois é. Agora imagine este material invadindo a sua praia. Realmente os vestígios de um dos maiores desastres ambientais da história americana ainda estão assombrando os moradores locais e impactando a biodiversidade local.

Depois da documentação, o Artic Sunrise seguiu pelo mar junto com um time de cientistas liderados pela Dra. Natalia Sidorovskaia, professora da Universidade da Lousiana, em parceria com a Universidade de Nova Orleans, Texas e Sul do Mississipi. Essa equipe é a única que tem a base de dados com sons dos mamíferos marinhos do local do vazamento e que irá contribuir para comparar sons e comportamentos dos mesmos antes e depois do vazamento.

Durante os anos de 2001, 2003 e 2007, nessa mesma localidade, foram observadas altas densidades de cachalotes e baleias bicudas. Os sons poderão colaborar na estimativa de se há menos baleias na região agora, pós-vazamento, ou não.

Os equipamentos, altamente tecnológicos, foram colocados na água durante 3 dias e irão registrar os animais por 12 dias consecutivos. Ancoraram em uma região com profundidade de 1.500m, onde normalmente as cachalotes são vistas se alimentando. Phil me disse que espera ter muitos dados nos próximos dias. As cachalotes, mais conhecidas como moby dicks, são residentes no Golfo do México.

Durante esses dias, muitos olhos, praticamente de toda a tripulação, procuraram por baleias na área. Até então nenhuma baleia tinha sido observada. Isso não é um bom sinal para uma área onde normalmente as baleias são abundantes.
Essa semana, Phil teve a oportunidade de sair com o time de vídeo e foto em nosso helicóptero para sobrevoar a área e tentar procurar por baleias e outros mamíferos marinhos. Essa foi a primeira vez que ele sobrevoou a região e ficou emocionado. As condições climáticas estavam perfeitas para a observação de baleias, mas nenhuma foi observada.

O que ele realmente pode observar foi a quantidade de dutos, navios de perfuração, plataformas e uma frota de navios de apoio. Sem dúvida, esse não é um lugar que baleias escolheriam para nadar, se alimentar ou desfrutar. É quase uma cidade no mar. O pior de tudo isso é que após o choque visual fomos informados de que em Washington acabam de decidir que a moratória da exploração de petróleo na região irá acabar em novembro. Sem nenhuma conversa ou discussão sobre um banimento completo dessa atividade na área.

Finalmente, no dia seguinte, eles puderam observar uma baleia 63 milhas longe do local do vazamento. Foram 6 baleias cachalotes, muito próximo de onde haviam colocado os equipamentos. À tarde viram mais 3 baleias, um cardume de atuns, barracudas e muitas aves marinhas, como as fragatas. Isso realmente fez com que Phil acreditasse fortemente na resiliência dos oceanos e em seu poder natural de recuperação frente aos impactos antrópicos.

Essa boa notícia soou como um alívio para a tripulação. Ainda há vida no Golfo do México. Iremos todos esperar pelos resultados da pesquisa para entender melhor o impacto da exploração dessa energia suja na população de baleias, já ameaçadas.

A discussão agora em torno da tripulação é: como podemos trazer as pessoas do mundo todo aqui, para que eles possam entender que está mais do que na hora de limparmos a nossa matriz energética e mudarmos o rumo do desenvolvimento desse nosso planeta azul, e que não podemos permitir que ele vire um planeta negro, ou seria melhor dizer MORTO!