Placa revela a que ponto chegou o conflito entre os Xavante e os posseiros: "índio bom é morto, vamos matar." (Divulgação)

 

Começou hoje (10) a retirada dos não indígenas de Marãiwatsédé. Este é um momento crucial para a desintrusão da terra dos Xavante, processo liderado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) e que conta com respaldo de forças policiais. Como era de se esperar, no intuito de tumultuar o processo, posseiros do Posto da Mata, em Alto Boa Vista, no Mato Grosso, bloqueiam desde quarta-feira passada o entroncamento da BR-158 com a MT-242. Houve conflito nesta tarde entre moradores e policiais em uma fazenda localizada no distrito de Estrela do Araguaia, dentro da Gleba Suiá Missú. Oito pessoas se feriram levemente.

E os ânimos vão se acirrando ainda mais no estado: Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, vem recebendo ameaças de morte por defender os Xavante. Ele foi escoltado pela Polícia Federal de sua casa até o aeroporto na sexta-feira (7). O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a CPT (Comissão Pastoral da Terra), entre outros, divulgaram uma carta de solidariedade a Dom Pedro na semana passada.

Os Xavante estão acuados em seu próprio território há décadas. O drama que os assola remonta à época da expansão dos programas de colonização nos anos 50 e culminou com sua diáspora em 1966, em pleno regime militar. Expulsos de sua terra, foram para outras localidades, mas retornaram anos depois.

Após muitas reivindicações, tiveram Marãiwatsédé declarada como Terra Indígena em 1993 e cinco anos depois - já estando demarcada -, foi homologada por decreto da Presidência da República. No entanto, os Xavante continuam a lutar para assumir os 165 mil hectares que lhes são garantidos por decisões judiciais respaldadas pela Constituição Federal.

Ilegalmente invadida, o que outrora era “antiga mata bonita” passou a dar lugar a pastos de gado e extensas plantações de soja e arroz. Restaram apenas 10% da área total com floresta. Importante destacar a concentração de terra que há pois quase um terço da área xavante está nas mãos de 22 grandes posseiros.

Para desestabilizar o trabalho da Funai, os invasores têm adotado a estratégia da desinformação para colocar a opinião pública contra os Xavante. Eles dizem que 7 mil pessoas serão afetadas pela desintrusão. Porém, censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta 2.427 pessoas em Marãiwatsédé, sendo que 1945 delas declararam-se ou consideraram-se indígenas. Há 482 não índios.

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