O principal ponto que ainda está aberto e merece atenção é a revisão das metas nacionais antes de 2020

Marcha pelo Clima em Genebra (© Anouk van Asperen / Greenpeace)

Nos corredores da COP21, um novo texto acaba de sair do forno, trazendo mais novidades sobre como deve ser acordo de Paris. Falta apenas um dia para a conferência acabar e, comparando a versão anterior, vemos alguns avanços nesse texto. “Restam ainda alguns pontos-chave em aberto. E eles ainda devem gerar muita polêmica entre os negociadores nas próximas horas”, diz Pedro Telles, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

Em relação ao teto de temperatura que devemos estabelecer para os próximos anos, permanece o trecho que diz ser 1,5 oC. O mais provável é que isso não mude mais até o acordo final. Portanto, os países que o assinarão terão que se esforçar para  não permitir que a temperatura do planeta suba mais que 1,5 oC.

O acordo prevê que poderemos ter até 2050 um pico de emissões de gases. Depois disso, seria hora de neutralizar essas emissões para evitar que a temperatura da Terra suba mais do que 1,5 oC. Isso manteria o aquecimento global com um mínimo de controle, afinal, os estudos mostram que se passarmos de 2 oC, as consequências para todas as populações e para o meio ambiente serão bem mais drásticas.

“A ideia de ter um pico em 2050 e a neutralização em seguida não é a pior opção entre as que tínhamos em outras versões do acordo. Mas está longe do ideal porque permite muitos anos de emissões e um risco eminente de subir demais a temperatura do globo. Vamos continuar pressionando por um texto que proponha a descarbonização até o meio do século, para garantir um futuro mais seguro”

Em relação à meta de cada país, as chamadas INDCs, o teor do texto está ruim. Se for mantido o  proposto até agora, as metas só serão revisadas depois de 2020. Como alguma das INDCs são pouco ambiciosas e cortam poucas emissões de gases de efeito estufa, isso significa que ficaremos por pelo menos dez anos com compromissos fracos para combater o aquecimento global. “Esses dez anos são um tempo crucial para os países se adaptarem e cortarem suas emissões. Por isso, a sociedade civil presente aqui na COP pressionará os negociadores até os últimos momentos para que eles estabeleçam uma revisão pré-2020", disse.

Segundo Martin Kaiser, da área de política internacional do Greenpeace, estamos assistindo a uma exibição de impotência internacional, na COP21. “O texto fala de neutralizar os gases de efeito estufa. Mas por que essa conferência não pode simplesmente dizer que precisamos desistir do carvão, do petróleo e do gás natural pelo menos até 2050? E por que só há uma única menção à palavra “renováveis” e uma em relação à África, sendo que as renováveis com certeza vão dominar a economia do século?”

Sobre o posicionamento de países desenvolvidos e em desenvolvimento, o texto mantém um direção boa, ainda que tenha pontos em aberto. A linguagem é forte e garante apoio e flexibilidade a países em desenvolvimento.

A COP 21 está chegando ao final, mas é difícil dizer que esteja perto de um acordo final. Há muitos pontos em aberto que podem garantir um acordo bom ou não. As próximas horas dirão se os presentes na conferência voltarão para casa com a missão cumprida.