Há uma semana em alto-mar para a campanha que está documentando os Corais da Amazônia, nossa analista de redes sociais conta a experiência sua bordo do navio Esperanza pela primeira vez

Esperanza, um dos três navios do Greenpeace, na região da foz do rio Amazonas, no Amapá. Foto Marizilda Cruppe/Greenpeace.

 Algumas coisas no navio são bem diferentes. Uma delas é dormir. Não tem nada a ver com o quarto, ele é normal: um armário, uma escrivaninha, uma pia e um beliche, com cortinas para dar mais privacidade ao nosso sono.

Estou dividindo o quarto com uma marinheira-paramédica italiana. O mais curioso é dormir balançando – quando não rolando – de um lado pro outro da cama. A qualidade do meu sono depende do quanto o barco balança: se o mar está calmo, o sono é tranquilo. O balançar do barco é bem gostoso, mas o bicho pega quando o mar está agitado. Você tem que se ajeitar de um jeito para não ficar literalmente rolando com o chacoalho do navio. Tem quem use o travesseiro para se prender, ou quem durma só de bruços.

Outro ponto curioso é o jeito que andamos aqui. Nos primeiros dias, quem não era da tripulação não estava adaptado a andar em um barco, que obviamente balança. Por isso, andávamos como bêbados ou crianças aprendendo a dar os primeiros passos. Você tropeça em tudo, bate nas paredes, trança as pernas (leia-se, quase cai) e por aí vai. Agora,  já mais acostumados, temos o que os marinheiros chamam de sealeg. Em uma tradução livre, seria pernas de mar, ou pernas adaptadas para o balanço do navio.

Mas a experiência no barco não é só mareio. Há coisas absolutamente magníficas. Para mim, as duas principais acontecem à noite: brilhos no mar e o céu estrelado. Quando o casco do barco bate na água, você vê pequenos brilhos verdes, como vagalumes nadando. É hipnotizante. A água escura faz com que fiquem mais evidentes.

O biólogo Ronaldo Francini Filho nos explicou que esses brilhinhos verdes são um tipo de protistas chamados Noctiluca, muito comum na costa brasileira. Para mim, foi novidade: todas as noites saio da cabine para vê-los dançarem na água.

Já o céu estrelado... (suspiro!) Que céu estrelado! Estamos no Oceano Atlântico, a mais de 100 quilômetros da costa brasileira, sem nenhuma luz ao nosso redor. Vemos o céu salpicado de pontos luminosos com direito a Via Láctea e nebulosas. Aquele céu de filme mesmo, sabe?

Outra  curiosidade: diz-se que a pessoa mais importante do navio não é o capitão, e sim o cozinheiro. Ele cuida de toda a nossa alimentação e garante que teremos sempre comida boa e fresquinha nas refeições. Quando se tem um bom cozinheiro, a tripulação é mais feliz. Nós nos demos muito bem com o Babu, um indiano sempre sorridente, que faz uma comida deliciosa.

A tripulação normalmente trabalha das 8h às 17h. Depois do trabalho nos reunimos em uma sala do navio para conversar sobre como foi o dia, contar histórias e jogar dardos. É nesse momento que temos a oportunidade de nos conhecermos melhor. É uma troca cultural muito rica e interessante. Ontem, o Kim, que é sul-coreano e o 3º oficial do Esperanza, nos contou que, na Coreia, sempre que alguém compra algo para comer, é divido entre amigos. Mas não como nós brasileiros, que perguntamos se pode pegar um pedaço. Eles pegam sem enrolação e comem, simples assim!

Viver sobre as ondas é um mundo diferente. Aqui se tem a disciplina de um samurai e o bom humor de um brasileiro. O trabalho é pesado e as gargalhadas são leves. O navio balança, mas a nossa determinação em defender os Corais da Amazônia continua firme.

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Vida a bordo: Thaís Herrero (esq), Juliana Costta e Thiago Almeida, do Greenpeace Brasil, na defesa pelos corais. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace.

 

Juliana Costta é Social Media do Greenpeace Brasil