Alexandra Harris em audiência na corte de Murmansk, na Rússia. Na ocasião, sua fiança foi negada pela justiça russa. (© Dmitri Sharomov / Greenpeace)

 
A vida na cadeia não é fácil, ainda mais para aqueles que têm a natureza e a liberdade como ingredientes essenciais para viver. Os vinte e oito ativistas do Greenpeace e os dois jornalistas freelancers tentam driblar as circuntâncias e encontram nas cartas um certo refúgio.

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Os ativistas rebem algumas correspondências e escrevem também, exercício que alguns reconhecem como “primordial” para lidar com a solidão da cadeia. Alexandra Harris, uma das ativistas do Greenpeace presa em Murmansk, na Rússia, escreve uma carta emocionada aos familiares contando de seu dia-a-dia na prisão.

“Sábado, 13 de outubro

Queridos mãe, pai e Georgie,

Está muito frio agora. Nevou noite passada. A nevasca soprou na minha janela quase sem vedação, e eu tive de dormir vestida com meu chapéu. Estou nervosa de passar o inverno aqui. Eu tenho um aquecedor na minha cela, mas é a brisa do Ártico que deixa esse lugar tão gelado. Ouvi dizer que em dezembro, Murmansk fica escura por seis semanas. Deus, espero estar fora daqui até lá.

Nada de mais acontece nos finais de semana na prisão. São, definitivamente, os piores dois dias da semana. Ao menos, durante a semana, eu vejo meu advogado e tenho algumas notícias. Na quinta-feira eu finalmente vi algumas cartas que as pessoas me enviaram. Foi tão legal que chorei. Tem uma de vocês no meio. Georgie me fez rir ao assinar na carta a mensagem “Chin up” (ou “cabeça erguida”). Ha ha! Estou na prisão mas tentarei manter minha cabeça erguida.

Aos sábados, temos a revoltante noite das almondêgas. Eca! As meninas riram que eu já sabia o cardápio de cor. Mas hoje tem banho, o que é muito bom. O chuveiro é como uma cachoeira, o que é ótimo.

Semana que vem volto à corte para apelar, o que é algo sem sentido porque eles já negaram minha fiança uma vez. Mas qualquer coisa para sair da minha cela! E se eu tiver sorte, talvez possa ver alguns dos outros.

Estou preocupada com o que pode acontecer. Tenho momentos de pânico, mas então tento dizer a mim mesma que não tem nada que eu possa fazer aqui, então não há razão para me preocupar. Mas é difícil. Será que o meu futuro é apodrecer numa prisão em Murmansk? Bom, eu realmente espero que não.

Estar preso é a mesma coisa que uma morte lenta: você literalmente perde a vontade de viver e passa apenas a contar os dias. São dois meses desperdiçados e eu espero que esse tempo não se prolongue. Dito isto, estou me acostumando, fazendo um pouco de yoga. Acho difícil meditar, muitas preocupações na minha mente, acredito que vocês compreendam. O canal de música ajuda muito. Toda noite toca “I Will Survive”, e a Camila [Speziale, ativista argentina também em detenção] e eu batucamos na parede o ritmo da canção. Conversar com as meninas diariamente ajuda também. Ainda conseguimos dar umas risadas, o que é ótimo sob as atuais curcunstâncias. Recebemos também um aparelho para aquecer a água – por dias acreditei que fosse para cachear os cabelos. Quando reclamei para as garotas que a equipe de suporte poderia ter enviado coisas mais práticas que um cacheador de cabelo, as meninas cairam na risada.

A cama também não facilita muito as coisas. Aguardo uma massagem quando eu sair.

Sou uma pessoa diferente agora; mais forte, eu choro menos, o que é bom. E eu estou tão agradecida à vida, não tomarei mais nada como certeza daqui para frente.

Espero que vocês estejam todos bem. Espero também que as notícias estejam morrendo lentamente. Estou tentando muito não perder as esperanças.

Amo vocês, Alex”

Mais de um milhão e meio de pessoas já enviaram mensagens às embaixadas russas do mundo inteiro. A cada dia, crescem as manifestações não só da sociedade civil, mas de autoridades - como a presidenta do Brasil Dilma Rousseff e a chanceler alemã Angela Merkel - e organizações que querem a liberdade do grupo. Ajude você também, assine a petição para pressionar o governo russo a libertar os 30.

Libertem nossos ativistas