Comunidade mais estruturada do Bailique, a Vila Progresso está suspensa por palafitas e rodeada de floresta e água por todos os lados. (©Greenpeace/Nathália Clark)

Pense num mar doce. Longe de ser apenas uma força de expressão, é assim o caminho que leva até o arquipélago de Bailique, a 160 km da capital, Macapá (AP). Chamado de Canal do Norte, o oceano de água doce onde o Amazonas se encontra com o mar aberto do Pacífico é a porta de entrada para o mais extenso rio do mundo.

Referindo-se à foz do Amazonas, Salviano, um dos sargentos do Corpo de Bombeiros que nos guiou até lá, explica: “Para nós, aqui é o início de tudo.” Trabalhando há 12 anos como bombeiro de Macapá, ele e seu companheiro, o sargento Eli, conhecem como a palma das mãos as águas navegáveis que levam até a famosa pororoca.

O  fenômeno do encontro das águas do oceano com o rio forma ondas de até seis metros de altura e vários quilômetros de extensão. A pororoca ocorre com maior intensidade entre janeiro e maio, época das chuvas, e atrai milhares de surfistas de todas as partes do Brasil às águas do Amapá.

Até o Bailique, o caminho é margeado por cadeias enfileiradas de buritis e açaizeiros, e leva-se, no mínimo, quatro horas de barco rápido. As comunidades locais, normalmente viajando de Recreio, levam de 10 a 12 horas para se deslocar da capital até o arquipélago.

Antes de chegar à Vila Progresso, a maior e mais estruturada das comunidades do Bailique, fizemos uma rápida parada na Vila de Itamatatuba. Chegando lá, as crianças nos receberam com admiração. A potência do barco, que fazia em muito menos tempo um percurso do mesmo tamanho, era algo incomum para seus olhinhos inocentes. Acostumados com canoas de madeira e, no máximo, uma voadeira monomotor, eles nos olhavam curiosos. “Olha, dois motores, deve ser rápido mesmo”, frisou Josué, de 9 anos.

Atracando na Vila Progresso, vimos uma cidade suspensa por palafitas e toda elevada por pontes sobre o mangue e as vegetações alagadas. A comunidade de 4 mil pessoas foi fixada na base de quatro assentamentos estaduais e tem sua economia baseada na pesca e no extrativismo – basicamente de açaí. A vila possui comércios, igrejas, bancos e postos de saúde. Mas apesar de todo o aparente progresso do nome, ainda é carente de algumas benesses da modernidade, como energia elétrica permanente.

Ao todo, no arquipélago existem 7.000 habitantes, espalhados por oito ilhas e 32 comunidades. No total são 1.700 quilômetros quadrados de área, incluindo água e continente. Localizado no Estado mais preservado da Amazônia e cheio de histórias para exportar ao mundo, o Bailique é uma verdadeira ilha de floresta intocada no meio desse oceano de água doce.

* Nathália Clark está a bordo do Rainbow Warrior

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