Lideranças do povo Munduruku fazem manifestação em frente ao Ministério de Minas e Energia, e entregam documento com demandas a assessor de Edison Lobão (© Greenpeace/Nathália Clark).

 

Há exatos 44 dias, cerca de 150 indígenas, em sua maioria do povo Munduruku, deixaram suas aldeias para mostrar ao mundo que suas terras e seus direitos não são brincadeira. Numa manifestação que já tem sido considerada pela imprensa internacional como a 'Primavera Indígena', os índios têm saído em defesa de suas populações e repudiam a construção de novas hidrelétricas nos rios Tapajós, Xingu e Teles Pires. Depois de deixar o canteiro de obras da usina de Belo Monte, no Pará, eles se dirigiram à capital federal para serem ouvidos pelas autoridades.

“O governo não tem nos levado a sério. Dizem que querem o diálogo, mas colocam barreiras policiais para não nos receber. Viemos a Brasília para mostrar que não abrimos mão da conversa e da consulta, que nos é garantida pela Constituição. Mas até agora, nenhum funcionário do alto escalão desceu de suas bases para conversar com a gente. Eles acham que vão nos vencer pelo cansaço, mas nós vamos resistir”, afirmou um dos líderes, Josias Munduruku.

Nesta segunda-feira, dois dias após a saída da presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marta Azevedo, os Munduruku ocuparam o órgão em protesto. Sem garantia de alimentação ou hospedagem, eles afirmam que vão permanecer por lá até que tenham um sinal de resposta do governo.

A desocupação da Funai teve apenas uma exceção: hoje, por volta de 11h30, eles desceram pela Esplanada dos Ministérios a caminho do Ministério de Minas e Energia, para entregar um documento com suas demandas ao minsitro Edison Lobão. Mesmo assim, cerca de 20 guerreiros permaneceram no local sinalizando que não há intenção de desistência.

 

No Ministério, eles foram recebidos por um assessor do ministro, que se comprometeu a protocolar o documento e levar às autoridades competentes. Ele disse também que está aberto a dialogar com o povo Munduruku: “É só vocês dizerem o dia e o local, que estamos dispostos a conversar.” Essa afirmação, no entanto, não foi suficiente para os indígenas.

“É justamente isso que estamos fazendo aqui. Mas o governo não tem demonstrado querer conversa, como você está dizendo. A forma de vocês conversarem é essa aqui”, contestou Valdenir Munduruku, liderança da Aldeia Teles Pires, mostrando uma foto do assassinato de Adenilson Munduruku, ocorrido em novembro durante a Operação Eldorado, da Polícia Federal.

Os indígenas seguirão na cidade até que consigam uma audiência oficial com alguma das autoridades responsáveis pelos projetos de empreendimentos dentro dos limites de suas terras. Eles reivindicam a consulta pública, o respeito à legislação federal e à Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da qual o Brasil é signatário, e que prevê a consulta prévia aos povos indígenas em quaisquer atividades que afetem seus territórios e suas populações.