Ipê florido no meio da floresta Amazônica. Essa é a árvore preferida de Israel, que importa grandes quantidades dessa madeira ilegal 'lavada'. (© Greenpeace / Daniel Beltrá)

 

Ativistas do Greenpeace fizeram uma ação em Tel Aviv, Israel, para expor o problema da extração ilegal de madeira na Amazônia brasileira. Escaladores abriram faixas com os dizeres: “Pare o crime na Amazônia” (em inglês). Oito ativistas foram presos. Uma carta foi entregue na prefeitura de Tel Aviv para exigir que a cidade pare de utilizar madeira da Amazônia sem garantias de origem.

A atividade ocorre após o lançamento da investigação de dois anos do Greenpeace que revelou o descontrole e os altos índices de ilegalidade que imperam no setor madeireiro na região. 

Israel se tornou um dos destinos chave para a madeira proveniente da Amazônia brasileira: em 2013, o país foi o 11º maior importador em termos de valor (US$) para todas as madeiras amazônicas, totalizando cerca de 5 mil toneladas de madeira, a grande maioria supostamente de ipê, espécie da qual é o atual 8º maior importador. Cerca de 80% das importações do país vieram de dois Estados: Pará e Mato Grosso, onde, respectivamente, 78% e 54% das explorações madeireiras aconteceram em áreas sem autorização e, portanto, de forma ilegal.

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A ação ocorreu em resposta aos planos da prefeitura de usar madeira em deques e pergolados de obras públicas em Tel Aviv, onde quase todos os projetos atuais preveem a utilização de ipê. O moderno complexo do Porto da cidade, por exemplo, já construiu deques feitos de ipê totalizando mais de 20 mil metros quadrados. Acredita-se que este seja um dos maiores projetos do mundo que utiliza esta espécie de madeira.

Além do Porto de Tel Aviv, outros exemplos são a mais antiga estação de trens em Jerusalém e, mais recentemente, o Passeio de Tel Aviv, onde está sendo feito um projeto de reforma para instalar deques e pérgulas  com o uso de ipê.

A investigação do Greenpeace também apontou que a empresa contratada para a primeira fase do projeto do Passeio de Tel Aviv negocia com fornecedores brasileiros que compram de várias pequenas serrarias ligadas com a lavagem de madeira ilegal.

Na Amazônia, o atual sistema oficial de controle da exploração florestal não é capaz de oferecer garantias de que a origem da madeira seja legal. Por este motivo, há cerca de duas semanas o Greenpeace lançou a campanha “chega de madeira ilegal”, onde pede a consumidores de todo o mundo que só adquiram madeira proveniente da Amazônia caso esta apresente garantias de origem e rastreabilidade de produção.

A denúncia e os protestos também se espalharam por outros países que compram madeira brasileira como Itália, França, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. Como resposta, o ministro italiano de Agricultura e Florestas, Maurizio Martina, anunciou a aprovação de decreto que regulamenta a aplicação da legislação europeia de combate à madeira ilegal. Na França, ativistas embargaram simbolicamente um carregamento de madeira vindo da Amazônia brasileira, com indícios de ilegalidade. Na semana passada, ativistas do Greenpeace bloquearam, no estado de Virgínia, Estados Unidos, a entrada da empresa Lumber Liquidators, uma das maiores varejistas de produtos de madeira do país, durante reunião de sócios e investidores da companhia.

“A situação da madeira brasileira está completamente fora de controle. Os sistemas que deveriam controlar a extração de madeira na Amazônia estão na verdade servindo pra legalizar boa parte da extração predatória e ilegal. Iremos denunciar isso ao redor do mundo até que os problemas sejam solucionados”, afirmou Marina Lacorte, da campanha Amazônia do Greenpeace.

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