Já dizia Chico Science, em sábias palavras. Essa é a atual situação do Sul da Bahia, mais precisamente da região de Ilhéus. O plano do governo estadual, associado a uma grande empresa de capital estrangeiro, a Bahia Mineração, de instalar um porto na região sofreu esta semana grande modificação.

O governo da Bahia alterou a localidade de construção do Complexo Porto Sul para Aritaguá, também em Ilhéus. A decisão reconhece a relevância ecológica da Ponta da Tulha, apontada por estudos científicos, e acata o parecer do Ibama pela busca de uma outra opção locacional. A sociedade civil foi parte fundamental nesse processo.

Nos tempos de hoje, em que o desenvolvimento econômico a qualquer preço é o objetivo principal das políticas públicas, é uma grande conquista conseguir mudar a localização de um empreendimento dado o passivo ambiental e o impacto na biodiversidade de uma das poucas regiões de mata atlântica remanescente e zona costeira intocada. 

Essa primeira conquista revela a dimensão dos cuidados necessários e reforça a importância do embasamento técnico para viabilizar a infraestrutura necessária ao crescimento do país de forma sustentável. Por esse motivo, os ambientalistas continuam a alertar para a necessidade de realizar estudos que identifiquem os impactos à biodiversidade local e às atividades econômicas já em andamento.

O Greenpeace é parte da coalizão Rede Sul da Bahia Justa e Sustentável, e esteve na área avaliando a região e participando das consultas públicas. Muitos foram os pontos do estudo de impacto ambiental (EIA/RIMA) que mereceram uma avaliação mais cuidadosa.

Um dos pontos mais fortes que estimularam a decisão de busca por uma alternativa foram os recifes de corais encontrados pelo Prof. Gill Reus da Universidade de Santa Cruz, que se encontravam na área onde SERIA construída o porto offshore. O ecossistema de recifes de corais são frágeis e sensíveis, mas extremamente fundamentais para o equilíbrio climático e marinho. Esses foram os pontos reforçados pelo Greenpeace durante a audiência pública.

Para Renato Cunha, do Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBÁ) e porta-voz da Coalizão, a mudança de localidade deve ser analisada com cautela, uma vez que alteração é de apenas 5 km do local cogitado anteriormente. “Temos muitas dúvidas em relação à nova localidade e estamos abertos para discutir junto com a sociedade e com o governo essa possibilidade. Certamente houve um avanço, pois o olhar se voltou para a questão da preservação dos recifes de corais e da biodiversidade”.

Sem dúvida ganhamos uma batalha, mas não a luta. A região Sul da Bahia tem um gigantesco potencial para crescer e desenvolver economicamente de forma sustentável e isso será cobrado pela sociedade civil, agora ainda mais fortalecida por essa vitória.