Seis indígenas, um fotógrafo da Reuters e um padre foram feridos durante ataque da polícia em manifestação em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr).

 

Após manifestarem na Praça dos Três Poderes e protocolarem uma denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) contra dois deputados federais, os mais de 500 indígenas presentes na capital federal para a Mobilização Nacional Indígena engrossaram o coro junto a cerca de 400 trabalhadores sem teto, além de dezenas de movimentos e organizações sociais, coletivos e ativistas de diversas áreas que participaram do Comitê Popular da Copa, que aconteceu na tarde desta terça-feira (27), em Brasília (DF).

O objetivo da manifestação é explicitar os diversos crimes e violações cometidos contra a população para possibilitar a realização de uma Copa do Mundo que não traz benefícios para a população. Dentre eles estão: a remoção de 250 mil pessoas de suas casas para a construção de obras, a mudança da legislação para a efetivação de políticas de exceção, a criminalização dos movimentos sociais, dentre outros.

Durante a manifestação pacífica – e a menos de três semanas do evento esportivo que vai colocar o Brasil nos holofotes de todo o mundo –, a polícia mostrou novamente suas armas contra a população, como em junho do ano passado. Seis indígenas, um fotógrafo da Reuters e um padre foram feridos durante o ataque da PM. Três pessoas foram presas.

Antes de se juntarem à marcha que seguiu pela Esplanada dos Ministérios até o estádio Mané Garrincha, os índios ocuparam a marquise do Congresso Nacional em protesto contra o abuso de propostas legislativas a seus direitos Constitucionais, e entoaram discursos inflamados em frente ao Ministério da Justiça.

Frente à desvirtuação do foco da grande imprensa quanto às notícias sobre a violência na manifestação, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) divulgou uma carta repudiando a ação das forças armadas brasileiras e esclarecendo o verdadeiro ocorrido.

Veja abaixo a íntegra da carta:

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) vem a público repudiar a violenta e despropositada ação da Polícia Militar do Distrito Federal, que reprimiu na tarde desta terça-feira, 27/05, ato pacífico em que participavam cerca de 600 lideranças indígenas de todo o país.

Por volta das 17h40 os indígenas, que estão em Brasília participando da Mobilização Nacional em Defesa dos Direitos Territoriais de seus povos, se uniram ao ato convocado pelo Comitê Popular da Copa – DF e marchavam tranquilamente em direção ao Estádio Nacional Mané Garrincha quando foram surpreendidos pela Cavalaria da Polícia com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, spray de pimenta e tiros de bala de borracha.

O Tenente Coronel Moreno, da Polícia Militar, havia feito acordo com o Comitê Popular da Copa para assegurar a chegada do protesto pacífico ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Porém, quando os manifestantes se aproximaram do estádio, começaram a ser atacados pela polícia.

Seis lideranças indígenas foram atingidas por balas de borracha, entre elas uma mulher do povo Pankararu, do Nordeste. Um fotógrafo da Agência Reuters sofreu ferimento na perna por resquícios da explosão de uma bomba de efeito moral. Um padre que acompanhava o povo Xerente foi atingido na mão por uma bala de borracha. Além dos feridos, três manifestantes foram presos.

Diante desses fatos, exigimos a apuração imediata dos abusos cometidos pela polícia que são parte da estratégia de criminalização dos movimentos sociais e dos nossos povos.

Brasília-DF, 27 de maio de 2014.

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB