Debate de SP: opiniões rasas sobre Mobilidade

Notícia - 23 - ago - 2016
Uma análise de organizações da sociedade civil sobre a fraca discussão de Mobilidade Urbana no primeiro debate eleitoral em São Paulo

Arte: Julia Mente / Greenpeace

Foi realizada nesta segunda-feira, 22, o primeiro debate eleitoral entre os candidatos para a Prefeitura de São Paulo. O Greenpeace, ao lado de outras entidades parceiras, acompanhou a discussão em tempo real, com atenção a como o tema da mobilidade urbana surgia nas falas.

A avaliação é que as citações no debate foram recheadas de erros, opiniões rasas e  argumentos muitas vezes infundados. Greenpeace Brasil, Idec, Cidade dos Sonhos, Ciclocidade e Cidadeapé comentaram as falas ao vivo pelo Twitter e fizeram uma conversa de avaliação ao final do debate, cujo vídeo pode ser visto acima.

A discussão de mobilidade foi marcada pela simplicidade nas opiniões e pela tentativa dos candidatos de contradizer políticas públicas alinhadas com o que preconiza a Política Nacional de Mobilidade Urbana e que já contam com o apoio da população.

Temas

Questões amplas da cidade como o Plano Municipal de Mobilidade e a nova licitação de ônibus, que estão em discussão há alguns anos e pautarão o desenvolvimento da cidade por décadas, foram deixados de lado. Dominaram o embate rixas partidárias, propostas infundadas e erros flagrantes.

A questão da redução de velocidades nas vias, por exemplo, segue proposições de segurança no trânsito decorrentes do Código de Trânsito Brasileiro e da Política Nacional de Mobilidade Urbana, apresentando resultados claros em diversas cidades do país e do mundo. No debate, ela foi criticada sem dados embasados. A política cicloviária também segue legislação federal e municipal, e foi totalmente esquecida pelos candidatos. A fiscalização de trânsito, elemento fundamental do tripé da segurança viária, foi criticado pela tendenciosa expressão de “indústria da multa” em alguns discursos, que ignoraram as metas e planos de melhoria da fiscalização das infrações previstos no Plano de Mobilidade Municipal.

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Outro assunto tratado com simplicidade foi a inspeção veicular, vista por alguns como a melhor forma de melhorar a poluição do ar paulistano, e como necessariamente gratuita. Mas discutir a inspeção veicular como forma única de resolver as emissões da cidade serve apenas aos interesses da imobilidade urbana: para reduzir a poluição precisamos urgentemente reduzir o uso do automóvel e dos veículos motorizados particulares, não apenas fiscalizar sua emissão de poluentes. Por outro lado, a inspeção, que é parte de uma estratégia mais ampla, deve ser custeada por quem opta por usar o carro, não por toda a sociedade, que já paga diariamente com seu tempo e sua saúde os problemas e externalidades causados pelo uso excessivo do automóvel.

Até a proposição de terminais e corredores para o transporte coletivo sofreu com colocações simplistas e eleitoreiras, baseadas em propostas surpresa feitas em assessorias de campanha, sem participação popular, e ignorando a infraestrutura que já está implantada na cidade, além do já citado Plano Municipal de Mobilidade. A discussão do Minhocão entrou na mesma onda, tratando o carro como inevitável no deslocamento das pessoas e ignorando o corredor de ônibus que passa por baixo dele e transporta mais que o dobro de pessoas.

O tema da saúde pautou muito mais a discussão do que o da mobilidade urbana. Porém, nem a clara correlação entre os dois assuntos melhorou o nível do debate. Um exemplo é o estudo feito pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade que aponta que aumentar o índice de biodiesel no diesel fóssil de 5% para 20% tem o potencial de reduzir em 7.319 mortes até 2025, evitando R$ 1,4 bilhões em custos de saúde pública e privada. Outro assunto relacionado citado sucintamente foi a organização espacial da cidade (distribuição de empregos e moradias), que gera a necessidade de tantas viagens. Embora tenha surgido no início do programa, seguiu sem aprofundamento.

O Greenpeace continuará a acompanhar os debates à Prefeitura de São Paulo ao lado de organizações parceiras, explicando e divulgando a pauta da mobilidade urbana na esperança de que a discussão evolua e as políticas públicas da área melhorem, garantindo mais segurança no trânsito, qualidade de vida para as pessoas e proteção ao meio ambiente.

Veja os comentários do Greenpeace Brasil, Idec, Cidade dos Sonhos, Ciclocidade e Cidadeapé logo após o debate: