Festa do carvão no Congresso

Notícia - 20 - out - 2016
Medida Provisória com incentivo para termelétricas a carvão é aprovada por deputados e senadores; artigo agora está nas mãos de Michel Temer

Brasil depende de um veto de Temer ao artigo 20 da MP 735 para poder cumprir seu papel no Acordo de Paris

Após passar pela Câmara dos Deputados, o Senado Federal aprovou hoje (19/10) em plenário a Medida Provisória 735/16 com a inclusão do artigo (art.20) que cria um programa para colocar novas usinas térmicas em operação na matriz energética brasileira entre 2023 e 2027. De acordo com estimativas do setor de carvão, o programa poderá destinar mais de US$ 5 bilhões para garantir o nível de produção de carvão mineral para atender 100% da demanda das termelétricas. Agora cabe ao presidente Michel Temer sancionar ou vetar o artigo.

O artigo incluído na medida vai frontalmente contra os objetivos do país no combate às mudanças climáticas. O Acordo de Paris aponta para o fim do uso de combustíveis fósseis, e as metas brasileiras só serão atingidas se descartarmos as térmicas a carvão e a óleo combustível imediatamente.

As usinas a carvão são responsáveis por 46% dos gases de efeito estufa emitidos por uso de energia no planeta. Enquanto diversos países do mundo se movimentam para abandonar essa fonte energética, que é considerada a pior com relação à contribuição para as mudanças climáticas, o Brasil não pode ir na direção contrária. Corre o risco de colocar tudo a perder ao investir no setor mais poluente do planeta, enquanto o que precisamos fazer é iniciar uma transição rumo a 100% energias renováveis em 2050.

Temer tem até 15 dias úteis para fazer sua decisão. É preciso que fique claro para o novo presidente que um retrocesso desse tamanho seria desastroso para o clima do planeta, e impactaria fortemente a imagem do Brasil no exterior e nosso papel no combate global às mudanças climáticas. Agora é pressionar pelo veto ao artigo.

Compromisso Brasileiro

Em setembro de 2015, o Brasil apresentou à ONU o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030 com relação ao que foi emitido em 2005. Especificamente com relação ao setor de energia, o objetivo é chegar a 45% de renováveis no mesmo ano. Isso já exigiria uma mudança de rota com relação aos atuais planos de dedicar 70% dos investimentos a fontes fósseis na próxima década, e ainda assim seria pouco de acordo com os cálculos do Greenpeace.

Aprovando incentivos ao carvão, o governo mostraria mais uma vez que o discurso que levamos a conferências internacionais está descolado da realidade. O Acordo de Paris, transformado em lei no Brasil em 12 de setembro e sob o qual estão nossas promessas, aponta claramente para o fim das energias sujas. Não podemos passar vergonha enquanto o mundo age pelo clima.

ONGs pedem veto de Temer

Um grupo de 21 organizações e redes de organizações da sociedade civil pediu na última sexta-feira (21) ao presidente Michel Temer que vete o programa de estímulo às termelétricas a carvão, recém-aprovado pelo Congresso Nacional.

Em carta enviada a Temer, as ONGs demandam o veto ao artigo 20 da MP, afirmando que ele “afasta o Brasil do cumprimento de suas obrigações no âmbito do acordo do clima de Paris e coloca o país na contramão do resto do mundo e de decisões recentes do próprio governo brasileiro”.

 

Leia a carta na íntegra.