Ativistas protestam, fantasiados de turbinas eólicas, barris de petróleo, árvores, painéis solares e chaminés
© Greenpeace / Glaucio Dettmar
Brasília (DF) - Os policiais que guardavam a entrada do prédio do Itamaraty em Brasília onde ocorria uma reunião entre Índia, Brasil e África do Sul antes da cúpula dos Brics, da qual participariam, além dos dois primeiros países, a China e a Rússia, tomaram um susto quando abriram-se as portas de dois veículos semelhantes aos carros oficiais. Ao invés de autoridades, dele saltaram quatro ativistas do Greenpeace, dois fantasiados como árvores e os outros vestidos como barril de petróleo e painel solar, para protestar contra a falta de um comprometimento claro desses governos com um plano de desenvolvimento limpo – fundamental para reverter, ou ao menos mitigar, os impactos do desmatamento e das energias fósseis no clima do planeta.
A segurança agiu rápido contra os ativistas. Alguns foram jogados no chão e tiveram suas fantasias rasgadas pelos policiais. Quatro foram presos, mas liberados cerca de uma hora depois de levados para a 1ª Delegacia da Asa Sul. Ao todo, oito ativistas participaram da ação, que apesar de ter durado pouco tempo, serviu para lembrar que o encontro dos Brics em Brasília, focado em questões econômicas e financeiras, deixou de fora da discussão a crise do clima. Se ela não for encarada, o mundo corre o risco de, no futuro, nem ter uma economia para ser tema de uma discussão.
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“Esse encontro poderia ser uma oportunidade para que os governantes, líderes de países que, de acordo com o FMI, foram responsáveis por 46, 3% do crescimento mundial nos dois últimos anos, discutirem maneiras de gerar desenvolvimento e, ao mesmo tempo, evitar a catástrofe climática”, disse João Talocchi, coordenador da campanha de Clima do Greenpeace. “O comprometimento desses países, novos motores da economia global, com uma economia verde, que inclua a proteção de florestas e a implementação de uma matriz limpa de geração de energia, é crucial para manter o aumento médio da temperatura do planeta abaixo dos 2 graus nas próximas décadas”.
Infelizmente, o comportamento nessa área dos países que formam os Brics, e mais a África do Sul, tem sido no mínimo errático nesse aspecto. O caso brasileiro é um bom exemplo. A destruição de florestas, sobretudo na Amazônia, é a principal fonte de emissões brasileiras de CO2, um dos gases do efeito-estufa. Lula diz que quer reduzir sensivelmente o desmatamento. Seu governo, no entanto, não age de forma definitiva para barrar, no Congresso Nacional, a ofensiva ruralista contra nossas leis de proteção ambiental. E diz que fará Belo Monte na marra, uma hidrelétrica que provocará um dos maiores desmatamentos deste ano – 50 mil hectares – no Norte do país.
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“A proteção de florestas é vital para a biodiversidade e a criação de um modelo de desenvolvimento sustentável”, afirma Rafael Cruz, da campanha Amazônia do Greenpeace. O governo brasileiro também parece agir de forma contraditória na área de geração de energia. Apóia a nova Lei de Renováveis que tramita na Câmara, mas investe em geração de energia suja e propagandeia que no petróleo do pré-sal está o futuro do Brasil. A crescente dependência das economias emergentes em petróleo e carvão para a geração de energia vai significar um desenvolvimento efêmero porque elas não são fontes sustentáveis.
“Dado o peso global de suas economias atualmente, que lhes dá uma capacidade de influência e liderança imensa no mundo, o engajamento desses governos com energias renováveis como solar e eólica podem provocar uma revolução virtuosa”, diz Talocchi. “Mais do que reduzir emissões, essas tecnologias estimularão a criação de empregos e a distribuição de energia, contribuindo para melhorar a qualidade de vida nesses países e no planeta”.