Nuclear nos outros é refresco

Notícia - 8 - jun - 2011
Em protesto na embaixada, Greenpeace denuncia incoerência alemã, que baniu energia atômica mas mantém crédito para construir Angra 3.

Na porta da embaixada alemã, pedimos o fim do incentivo para nuclear no Brasil.

Ativistas do Greenpeace bateram à porta da embaixada alemã em Brasília na manhã de hoje para exigir coerência da chanceler Angela Merkel em sua política nuclear. Ela anunciou no final de maio que até 2022 não haverá mais energia atômica na Alemanha, mas não suspendeu em definitivo a antiga parceria com o Brasil para a construção da usina de Angra 3.

Na porta da embaixada, os ativistas exibiram um cartaz com a frase “Merkel, não dê dinheiro para nuclear no Brasil”, estampada com fotos de seguidores do Greenpeace nas redes sociais: as imagens acompanhavam uma frase de protesto contra a construção de Angra 3. Foram mais de 250 fotos recebidas em pouco mais de um mês de mobilização. Uma carta com o pedido de suspensão do financiamento foi protocolada na embaixada.

Veja o vídeo:

 

Angra 3 conta com 41,4% de capital internacional, ou cerca de R$ 3 bilhões, valor acordado entre o Brasil e a Alemanha, parceiros atômicos desde a década de 1970. O aporte vem de uma associação de bancos europeus, com garantia de empréstimo dada pela Hermes, agência estatal de crédito alemã. É o único atrativo para os bancos e para a empresa que fornecerá maquinário para a usina, a francesa Areva.

Veja a galeria de imagens do protesto:

 


“Se o governo alemão entendeu que a energia nuclear deve ser banida do seu país, deveria manter a coerência em sua política externa e cancelar este crédito para o Brasil”, diz Pedro Torres, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace. “A garantia alemã dá uma falsa impressão de segurança ao negócio.” A Alemanha também ainda não se pronunciou sobre se pretende seguir exportando os equipamentos e a tecnologia que agora querem ver pelas costas – que equivale a manter empregos alemães à custa da segurança dos brasileiros.

Caso o dinheiro de fora não venha, os custos totais da construção ficarão na mão do BNDES, que já anunciou que repassará a batata quente para os bolsos da Eletrobrás. De qualquer jeito, o contribuinte brasileiro é quem pagaria. O Greenpeace esteve na porta do BNDES no dia 25 de abril, com um pedido pelo fim deste financiamento pelo bem da população – pedido esse que foi negado.

O projeto de Angra 3 conta com tecnologia alemã dos anos 80, considerada obsoleta por sua própria criadora – tanto que, após a crise nuclear em Fukushima (Japão), a Alemanha desligou sete usinas desse período. As demais usinas serão desligadas até 2022 e os planos são de substituí-las por fontes renováveis.   

“Mais que a Alemanha, o Brasil tem todas as condições de crescer com energia limpa. Podemos ter uma matriz energética 100% renovável, abolindo de vez a nuclear do cardápio”, diz Pedro Torres. “O país deveria seguir o exemplo alemão e de outros países que repensaram seus programas nucleares, ao invés de apelar por incentivos financeiros para uma usina jurássica, de energia cara e insegura.”