Pioneirismo de meia tigela

Notícia - 1 - ago - 2014
Em resposta a consumidores que pedem carros mais eficientes, Volkswagen se limita a dizer que cumpre “exigências políticas” do Brasil. Mas isso todo mundo faz, né?!

 

No discurso é tudo divino, maravilhoso: líderes, inovadoras, pioneiras. As montadoras de carro no Brasil sabem, como ninguém, se vestir com os melhores adjetivos. Mas na prática, falta muito para essa beleza virar realidade. Há três meses, o Greenpeace botou na rua uma campanha cobrando carros mais limpos e eficientes das três líderes em vendas no país. Fiat e Chevrolet foram as primeiras a vir a público com respostas vagas. Agora foi a vez da Volkswagen. Em carta ao Greenpeace, a empresa diz que o assunto é sua prioridade. Mas ação concreta que é bom, nada.

O pedido do Greenpeace – ecoado por milhares de consumidores que enviaram mensagens às companhias – é muito claro: que as empresas adotem no Brasil a mesma meta de eficiência energética que a União Europeia. Os carros produzidos por aqui gastam, em média, mais combustível e emitem mais gases de efeito estufa que os veículos fabricados pelas mesmas empresas na Europa.

A tecnologia, portanto, existe e já está sendo aplicada em outros mercados. Queremos o mesmo para cá. Isso é pioneirismo.

Na carta ao Greenpeace, a Volkswagen ressalta que foi “a primeira fabricante de veículos na União Europeia a anunciar, de forma proativa, sua intenção de reduzir emissões de CO2 de sua frota (...)”.Nesse sentido, é também importante ressaltar que a meta de 2015 estabelecida pela União Europeia foi atingida já em 2013 (com dois anos de antecedência) não só pela Volkswagen como por outras montadoras.

O argumento e o fato provam a contradição: enquanto se desdobra para ser inovadora do outro lado do Atlântico, no Brasil ela se limita a fazer o que as “exigências políticas” pedem, diz a carta. Seguindo esse raciocínio, a empresa ainda complementa que vai cumprir as metas do  Inovar Auto até 2017 - um programa voluntário que oferece deduções fiscais em trocas de melhorias em nossos carros – entre as quais, mais eficiência. Fechando a conta, enquanto se declara protagonista na Europa, a empresa deve oferecer aos consumidores brasileiros carros com tecnologia defasada em 4 anos, comparados aos europeus.

Isso não é pioneirismo. É seguir o jogo. Tampouco é suficiente, em um contexto onde o setor de transporte já é o segundo que mais contribui para o aquecimento global no Brasil  - só ficando atrás do desmatamento. A arrancada do setor nas emissões de gases estufa segue em disparada. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, este é o setor com maior potencial de crescimento de emissões nos próximos 50 anos. E quem vai puxar o índice são justamente os países emergentes como o Brasil, que já é o quarto maior mercado de automóveis do planeta. Está na hora de se responsabilizar.

Queremos clareza sobre ações efetivas que a empresa pretende tomar para que os carros que saírem das fábricas brasileiras tenham a mesma tecnologia dos que estão saindo das fábricas europeias, gastando menos combustível e emitindo menos gases estufa. Enquanto esse compromisso público não vier, a cobrança continua. Envie agora sua mensagem para as montadoras exigindo carros mais limpos e eficientes.

Leia aqui a carta da Volkswagen na íntegra.

E aqui, a carta que o Greenpeace enviou em resposta.

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