Prateleiras fora da lei

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Notícia - 16 - nov - 2010
Apesar das promessas, supermercados continuam vendendo carne ilegal, tornando seus clientes cúmplices do desmatamento e da invasão de terras indígenas.

Há 40 anos, os Xavantes, tribo do Mato Grosso, lutam pelo direito de ocupar sua própria terra. Expulsos na década de 60 pelo governo, ganharam o direito de voltar na década de 1990 e encontraram seu território tomado por fazendas de gado. Na outra ponta desta ocupação ilegal, estão clientes de produtos pecuários no mundo todo, incluindo os supermercados brasileiros, que compram a carne vendida por estas fazendas, transformando seus consumidores patrocinadores involuntários de um crime humano e ambiental.

Uma equipe do Greenpeace foi convidada pelos Xavantes para conhecer a situação da terra indígena Maraiwatsede, palco da disputa. “Vimos invasão, desmatamento e o desrespeito total à lei” diz Márcio Astrini, da Campanha da Amazônia. Um pouco do que encontramos lá pode ser visto no vídeo abaixo. No último mês, a repórter do jornal O Globo, Liana Melo, também conheceu de perto a realidade local. Seu relato saiu em reportagem no último domingo.

Na aldeia, grande parte das crianças está doente, a população bebe água contaminada e os conflitos violentos são uma constante. Devido ao desmatamento, não há caça, nem madeira para fabricação dos produtos essenciais para a vida dos indígenas. Até mesmo o peixe, antes abundante, hoje tem que ser comprado. É neste cenário que se desenvolve a pecuária. “A realidade é que esta carne, vinda de fazendas dentro de terras indígenas como a de Maraiwatsede, podem estar tranquilamente expostas nas prateleiras de qualquer supermercado no Brasil, ou em qualquer parte do mundo”, diz Astrini.

O caso dos índios Xavantes é só um exemplo do que acontece em tantas outras terras indígenas e unidades de conservação na Amazônia e mostra as consequências da falta de governança, aliada ao descontrole do mercado. A Amazônia já perdeu aproximadamente 730 mil quilômetros quadrados, 80% fruto do desmatamento para pecuária. É uma área maior que países como Holanda, Alemanha e Inglaterra juntos. "É possível alcançarmos o desmatamento zero, produzindo mais e melhor sem derrubar mais nenhum hectare de floresta”, conclui Astrini.

 

O blá-blá-blá dos supermercados

Após a divulgação do relatório Farra do Boi, do Greenpeace, e pela sua repercussão na mídia, em dezembro de 2009, a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) anunciou, com a presença do então ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, um acordo para frear o desmatamento da Amazônia estimulado pela pecuária. Para enfrentar a ameaça de perder mercado, comprometiam-se a eliminar das prateleiras qualquer carne com origem em áreas recém desmatadas na Amazônia, com trabalho escravo e em terras indígenas e áreas protegidas. Ficaram só na promessa.

Os três gigantes do setor Wal-Mart, Carrefour e Pao de Açúcar também se comprometeram em não comprar mais de fazendas envolvidas nessas mesmas condições na Amazônia, mas até agora não apresentaram nenhuma ação concreta sobre como irão implementar esse compromisso.

Para atestar que cumprem sua palavra, os supermercados precisam ter controle sobre quem fornece a carne de suas prateleiras e apresentar estes dados com transparência. Para isso, é fundamental somente comprar carne que venha de fazendas com Cadastro Ambiental Rural (CAR), primeira etapa do licenciamento ambiental de uma propriedade, com o qual é possível cruzar os dados com mapas de satélite da floresta e identificar o responsável pelo desmatamento.

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11 Comentários Adicionar comentário

João Vitor Lorenzi says:

eles sempre inventam uma desculpa para a populacao

Enviado 25 - mar - 2011 às 11:47 Denunciar abuso Reply

willfelix says:

Não consigo ver ações de mercado ou abras em diminuir o desmatamento apenas um aumento crescente de desmatamento e lucros cada vez maio...

Enviado 3 - dez - 2010 às 1:06 Denunciar abuso Reply

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@jefzlopes says:

A fiscalização brasileira sempre foi um grande desafio em todas as áreas, mas de fato não é apenas culpa do governo por todos...

Enviado 29 - nov - 2010 às 22:58 Denunciar abuso Reply

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jhonasn says:

Eu gostaria muito de participar em alguma forma de fazer pressão sobre os supermercados para que saibamos a procedência da carne que vemos n...

Enviado 19 - nov - 2010 às 23:24 Denunciar abuso Reply

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pankika says:

A reportagem esqueceu de mencionar que sete crianças Xavantes morreram esperando a determinação da justiça para entrar em suas ter...

Enviado 18 - nov - 2010 às 9:45 Denunciar abuso Reply

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pankika says:

A reportagem esqueceu de mencionar que sete crianças Xavantes morreram esperando a determinação da justiça para entrar em suas ter...

Enviado 18 - nov - 2010 às 9:45 Denunciar abuso Reply

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says:

Existe um vídeo muito bom chamado A carne é Fraca. Vou procurar mais referências e envio.

Enviado 18 - nov - 2010 às 0:12 Denunciar abuso Reply

Wanderley says:

Conclamo todos a combater a farra do boi, inclusive nas terras dos xavantes:

1) deixando de consumir carne vermelha: é bom para a s...

Enviado 17 - nov - 2010 às 22:44 Denunciar abuso Reply

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hetienemarques says:

MAs isso nao é um problema total do governo. È responsabilidade de quem compra os produtos de origem de terras invadidas, ou seja, somo n...

Enviado 17 - nov - 2010 às 13:22 Denunciar abuso Reply

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Fernando brito says:

Eu fico chocado com os descasos que sofrem os indígenas no Brasil, se não bastasse toda a exploração que sofreram em toda a sua historia, ainda são vitimas de gananciosos inescrupulosos sem nenhum compromisso com os direitos humanos . Continuem denunciando, precisamos de um povo mais consciente para seguir mudando.

Enviado 17 - nov - 2010 às 2:19 Denunciar abuso Reply

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