Retrocesso ambiental

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Notícia - 8 - jun - 2010
Aldo Rebelo apresenta seu relatório de mudanças no Código Florestal. Seu texto anistia desmatadores, legitima a devastação e abre espaço para novos desmatamentos.

Castanheira isolada por queimadas na Amazônia. © Greenpeace/Rodrigo Baleia

O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) finalmente apresentou seu relatório na Comissão Especial criada pela Câmara dos Deputados para consolidar as propostas de alteração do Código Florestal. A bancada da motosserra à qual Aldo se ligou umbilicalmente nos últimos meses, está, obviamente, exultante. O relator fez um serviço ainda melhor do que eles esperavam.

Na prática, o relatório de Aldo propõe reverter 76 anos de evolução de nossa legislação ambiental. É, portanto, um retrocesso. Legitima o corte indiscriminado do passado recente e abre brechas para novos desmatamentos. Sugere também que desenvolvimento só se faz com destruição da natureza e passa o custo integral da conservação para o contribuinte brasileiro. “O deputado está propondo a socialização dos custos da devastação e a privatização dos lucros imediatos que ela gera”, diz Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Aldo propõe o fim da função social da propriedade rural no Brasil. Seu texto revoga um artigo que estava na versão original do código, de 1934, e que foi mantido na revisão feita em 1965. Ele tratava as florestas como bens públicos. Pelo que Aldo escreveu, se o contribuinte não estiver disposto a pagar pela conservação ambiental, o fazendeiro pode fazer o que bem lhe der na telha nas terras que ocupa. Foi este tipo de mentalidade, por exemplo, que transformou uma das áreas mais férteis do país, o Vale do Paraíba, entre Rio e São Paulo, numa terra imprestável para a atividade agrícola.

O texto de Aldo também agracia com o benefício da anistia quem, pela legislação em vigor, cometeu crime ambiental. Qualquer desmatamento feito até 22 de julho de 2008 – não importando o tamanho da propriedade – estaria, pela proposta do ex-comunista que virou ruralista, automaticamente perdoado. A Reserva Legal, o pedaço de qualquer fazenda que precisa permanecer destinado à mata nativa, também foi trucidada pelo deputado.

Na Amazônia, ele sugere acabar com ela para propriedades com até 600 hectares. Isso já tinha sido previsto pela própria área ambiental do governo em negociações com representantes da agricultura familiar. Mas Aldo aproveitou a deixa e meteu o pé na porta. Nas outras regiões, fazendas com tamanho de até 4 módulos rurais também estão dispensadas de ter a Reserva Legal. Para as propriedades maiores, Aldo manteve a obrigação nos percentuais atuais – 80% para a Amazônia, 35% para o Cerrado e 20% nos demais biomas – mas deu aos estados e municípios a possibilidade de reduzirem esta demanda pela metade

“Aldo no fundo abriu a brecha para se acabar com a Reserva Legal, porque qualquer fazendeiro com mais de 600 hectares de terra na Amazônia poderá fracionar sua propriedade para fugir da obrigação”, aponta Sergio Leitão, diretor de Campanhas do Greenpeace.  Ele sugere também que, para fins de recuperação de uma reserva legal, o fazendeiro pode usar espécies exóticas. Isso, de certo modo, já é uma afronta ao conceito, criado justamente para proteger matas nativas.

Mas do jeito que está escrito, sem especificação de que as espécies usadas na recuperação precisam ser arbóreas, Aldo abre a possibilidade de que um fazendeiro utilize grama ou soja para recuperar sua reserva legal. No caso das áreas de preservação permanente (APP’s), Aldo, além de reduzir a necessidade de manutenção de matas ciliares em alguns rios para 15 metros, dá aos estados o poder de diminuí-las à metade do que exige a legislação federal. Isso inverte uma regra básica da legislação ambiental brasileira, que determina que o que vale é a maior área de proteção.

No artigo 12 de seu texto, Aldo ‘flexibiliza’ a derrubada em encostas entre 25 e 45 graus. Basta uma recomendação do órgão de agricultura estadual para que ela ocorra. E no capítulo X, que trata de incêndios em áreas florestais e rurais, Aldo propõe simplesmente o seu fim. Cuida, no entanto, de deixar uma porta escancarada para a continuidade das queimadas, dizendo que consideradas peculiaridades (não especifica quais) regionais, os estados podem autorizar a queima de campos e florestas.

 

Em resumo, usando Marx e Engels para defender práticas capitalistas retrógradas no campo, invocando a bíblia para dizer que a natureza deve se submeter à vontade dos homens e posando de nacionalista para assegurar os interesses do agronegócio exportador de commodities, Aldo Rebelo conseguiu o milagre de produzir uma proposta que põe o Brasil no rumo do atraso e da devastação. Na leitura de seu relatório, ele agradeceu aliás a três eméritos ruralistas no Congresso, Moacir Micheletto, Homero Pereira e Anselmo de Jesus.

Não há de quê, deputado. Quem agradece é a turma da motosserra. Ela não poderia ter sido melhor servida.

Saiba mais no blog do Greenpeace

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26 Comentários Adicionar comentário

VALÉRIA says:

FORMA DE ATUAÇÃO EM FAVOR DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL (QUE SEJA ÉTICA E DIGNA!) É MOVIMENTO ATRAVÉS DA NET.
A ORG...

Enviado 30 - jul - 2010 às 13:18 Denunciar abuso Reply

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Respeite o Agricultor says:

Pergunta: onde estão escondidos os desmatadores das cidades??? Ou por acaso, todos os terrenos urbanos contém as suas áreas de vegeta�...

Enviado 23 - jun - 2010 às 17:54 Denunciar abuso Reply

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claudinha says:

vamos à luta !!!!!
pressão neles !!!!!!!
o q + podemos fazer ???

Enviado 23 - jun - 2010 às 17:26 Denunciar abuso Reply

lesterbsb says:

É complicado. Dizem que a democracia é uma porcaria, mas ainda assim é a melhor opção. Sou de brasilia mas nem precisava ser ...

Enviado 16 - jun - 2010 às 19:02 Denunciar abuso Reply

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Hélio says:

Parabens Sr. SChó O senhor descobriu o grande responsável pelo aquecimento global.
É o agricultor brasileiro.
Periga, n...

Enviado 16 - jun - 2010 às 16:45 Denunciar abuso Reply

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Schó says:

Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom.
Aldo e seus amigos ruralistas devem estar comemorando euforicamente o resultado de seus trabalho...

Enviado 16 - jun - 2010 às 11:29 Denunciar abuso Reply

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gisela.coelho says:

Pessoal. Hora de parar de lamentar. Vamos à luta porque esse louco quer perpetrar o cirme o mais breve possível. MOBILIZAÇÃO J...

Enviado 13 - jun - 2010 às 4:03 Denunciar abuso Reply

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Hélio says:

MARINA SE PINTA PARA A GUERRA. OU: SATANIZANDO A PRODUÇÃO RURAL





A candidata do PV, Marina Silva, lançou sua candidatura. Embora seja uma mulher-causa — a sustentabilidade —, vem tentando ampliar a sua agenda. E não é raro que se dê a generalidades e conceitos, digamos assim, humanistas sobre isso e aquilo. Uma coisa é inequívoca, e a gente pega de primeira: ela quer o nosso bem e não é um desses políticos ambiciosos que andam por aí. Tenho, às vezes, a sensação de que o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff são candidatos porque arrogantes; já Marina seria candidata porque humilde.

Fico aqui a imaginar o que aconteceria se qualquer um dos outros dois fosse flagrado participando de reuniões políticas na sede de uma grande empresa… É o “movimento Marina”, a candidata dos descolados — e de alguns jornalistas que já sentem vergonha de se dizer petistas. Marina estava em busca de um grito de guerra. E deu de cara com o relatório do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) sobre o Código Florestal, cuja leitura foi concluída ontem.

No post abaixo, há um editorial do Estadão sobre o relatório de Rebelo. A Folha também fez o seu. E descobriu um bicho novo na política. Segundo o jornal, Aldo produziu uma peça eivada de dois atrasos: o nacionalismo tacanho, que o faria atacar as ONGs estrangeiras, e os interesses dos ruralistas. Os “ruralistas”, como vocês sabem, é essa gente nojenta que, já lembrei aqui, produz a comida barata que vocês comem, que eu como e que alimenta milhões de brasileiros a um preço como não há no mundo. Também é aquele pessoal que respondeu por sucessivos superávits da balança comercial brasileira e pelo acúmulo de reservas que garantem a estabilidade brasileira.

Marina acha que o novo código é um retrocesso; ONGs como o Greenpeace já calculam as “mudanças” propostas por Rebelo — na verdade, ele se limita a regulamentar o que está aí e, pois, a legalizar produtores que hoje estariam fora da lei e que são vitais para o país — em toneladas de carbono, essa conta que está entre o inefável e o surrealista. Os “ruralistas” aplaudiram o relatório, e isso é imediatamente tomado como sinal de que a coisa não presta. “O relatório libera áreas de várzea!!!”, gritam. Áreas de várzea onde já há, e há muito tempo, vasta produção de arroz.

Investe-se num confronto estúpido entre supostos “ruralistas desmatadores” e supostos “defensores da natureza”. Não! Não é preciso ser um nacionalista do PC do B para perceber que tal debate está inteiramente pautado pelas ONGs ditas ambientalistas, a terceira maior influência nas redações depois do PT e da Lady Gaga… Até aí, vá lá. Volto a Marina.

A presidenciável resolveu se pintar para a guerra. Ok. Está no seu, bem…, meio ambiente! E convocou os outros presidenciáveis a assumir uma posição a respeito do relatório. Ou melhor: convocou os outros presidenciáveis a assumir a SUA posição a respeito do tema. Aí, não dá! Marina tem todo o direito de levar adiante a sua plataforma e de tentar conquistar os eleitores, mas não pode ter a ambição de ser uma espécie de ombudsman das outras candidaturas, por mais que suas demandas encontrem eco na imprensa. Já a elogiei aqui; já a vi ser ponderada em muita coisa; acho louvável que não tenha aderido, por exemplo, a temas momentosos a que seus eleitores seriam simpáticos, como descriminação do aborto ou casamento gay — nem entro no mérito dos temas; elogio é o fato de ela não falar o que a platéia quer ouvir.

No que concerne à questão ambiental, baixa um aiatolá em Marina, e ela sai decretando fatwas, como se fosse razoável que o setor mais virtuoso da economia brasileira pudesse ser tratado segundo a ótica do banditismo, que é o que fazem algumas ONGs, com incrível irresponsabilidade.

É fácil, como faz o editorial da Folha, acusar um deputado do PC do B de nacionalista, xenófobo, atrasado ou sei lá o quê. É mentira, por acaso, que essas entidades se tornaram monopolistas da verdade ambiental? A própria Folha já reportou a desolação em Raposa Serra do Sol depois que os arrozeiros foram expulsos. Ocupavam 0,7% (!!!) da área. Sobraram lá as ONGs, as disputas políticas e a miséria. O mesmo circo se armou então. Os “defensores da natureza e dos índios” fizeram a sua aposta na miséria ecologicamente correta, e o STF lhes deu a vitória.

Vamos devagar! O mais impressionante é que, quando os “ruralistas” estão em pauta, não se toma nem mesmo o cuidado de ouvir o “outro lado”. Na quinta-feira, publiquei aqui vídeos do Ministério Público Federal que associam a carne brasileira ao trabalho escravo, ao desmatamento e à lavagem de dinheiro. Produzir comida ainda há de se tornar algo bastante impopular no Brasil… Jornalistas podem até escrever em defesa dos produtores de folha de coca da Bolívia, mas jamais em defesa da soja, da carne, do arroz e do feijão! É coisa de reacionários, obviamente.

Quanto a Marina, não fosse seu ar missionário de quem tudo sabe, eu lhe recomendaria que se afastasse um pouco das árvores para ver se passa a enxergar a outra floresta: a da sociedade brasileira, em sua complexidade.
REINALDO AZEVEDO

Enviado 11 - jun - 2010 às 8:55 Denunciar abuso Reply

Hélio says:

Sonambullo, sem te conhecer vou traçar seu perfil.
Filhinho de papai paulista, que nunca viu uma vaca de perto, e acha que feijão d...

Enviado 10 - jun - 2010 às 22:00 Denunciar abuso Reply

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sonambullo says:

Vinicius, voce gosta de falar sozinho..
Vc está querendo convencer a quem? Talvez a vc mesmo, pq depois desse "relatório" o ...

Enviado 10 - jun - 2010 às 13:28 Denunciar abuso Reply

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