Sem hora para acabar

Notícia - 4 - ago - 2010
Seca, falta de infraestrutura e ano eleitoral formam a combinação propícia para fazer de 2010 um ano cheio de queimadas. E elas já começaram.

Área de queimada registrada pelo Greenpeace no último mês, em Mato Grosso. ©Greenpeace/Rodrigo Baleia

Acostumada a chegar junto com o início do segundo semestre, a temporada de seca, este ano, veio com tudo na Amazônia. Quem dá o sinal é o fogo, que tem se espalhado pelo bioma. Virada a folha do calendário, o mês de julho foi mais um em que os focos de queimada ficaram acima do registrado nos últimos anos. Mais de seis mil focos foram identificados na Amazônia Legal somente esse mês, um aumento de 40% em relação ao mesmo período de 2008 e de 175% se comparado a 2009. Uma pista de que ainda vem muita labareda pela frente.

Segundo levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), os próximos meses na região podem ser ainda menos úmidos que o normal. Com a evolução do fenômeno La Niña no Pacífico, a tendência é que a massa de ar seco permaneça forte pelo próximo trimestre, principalmente no Acre, Rondônia e no Mato Grosso. Prato cheio para que as chamas se alastrem.

“A estação da seca mal começou e os números já estão lá em cima, mesmo em estados que tem um histórico de enfrentamento do problema, como o Mato Grosso. O ritmo é preocupante”, observa Raquel Carvalho, da Campanha Amazônia do Greenpeace. O Mato Grosso, aliás, está no topo do ranking das chamas. Só em julho, foram mais de dois mil focos de calor registrados no estado.

“Considerando que esse deve ser um ano mais seco, o cenário pode se agravar ainda mais”, diz Raquel. Para o pesquisador Alberto Setzer, que está à frente do monitoramento de queimadas pelo Inpe, os índices medidos até julho são uma faísca do que ainda está por vir. Segundo ele, tudo isso representa apenas cerca de 10% de tudo o que ainda será queimado esse ano.

De julho a setembro, a estação da seca na Amazônia é a porta de entrada para o fogo. É quando os produtores riscam o fósforo para limpar o terreno, como parte do processo de preparação para áreas de cultivo. Mas em mata seca, não há quem segure as labaredas. E, volta e meia, o que começa como um pequeno foco de queimada vira um grande incêndio.

“Nem as unidades de conservação, que são áreas protegidas por lei, estão escapando. Se uma pessoa toca fogo numa área no entorno, a queimada pode facilmente perder o controle e chegar às UCs”, afirma Raquel Carvalho. Segundo os dados do Inpe, elas já estão chegando, e em todo o Brasil. Desde janeiro, foram 4.045 focos registrados em unidades de conservação, um aumento de 124,3% em relação ao mesmo período de 2009. Nas Terras Indígenas, a situação segue o mesmo caminho. Até agora, 3.563 focos foram identificados, contra 968 no ano anterior.

“Em geral, os estados não têm infraestrutura para lidar com esse problema. E há uma desarticulação dentro do próprio poder público. Os órgãos de monitoramento, fiscalização e combate aos incêndios deveriam estar mais articulados”, critica Raquel, apontando um outro problema que faz de 2010 um ano especialmente propício para o fogo se alastrar: “Estamos em ano eleitoral. E nesse período, a pressão da fiscalização tende a diminuir”.

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