Impunidade: acusado de mandar matar Dorothy Stang é absolvido no Pará

Notícia - 5 - mai - 2008
Júri do segundo julgamento considerou que pistoleiro Rayfran das Neves Salles agiu por conta própria e não a mando de fazendeiro.

A absolvição do fazendeiro acusado de mandar matar a missionária Dorothy Stang, em 2005, é mais um caso de impunidade no Pará.

O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang,  foi absolvido nesta terça-feira em julgamento realizado em Belém, no Pará. Já o pistoleiro contratado para matar a religiosa, Rayfran das Neves Salles, o Fogoió, foi condenado a 28 anos de prisão, em regime fechado.

O júri aceitou o argumento dopistoleiro, de que teria agido por conta própria. Foi o segundojulgamento de ambos. No primeiro, Vitalmiro havia sido condenado a 30anos de prisão.

Dorothy foiemboscada em fevereiro de 2005, na região de Anapu (PA), no meio da floresta amazônica, e mortacom seis tiros a queima-roupa. Ela tinha 73 anos.

"Em vez de marcar a ação da justiça, o resultado deste julgamento é uma vitória da impunidade", lamentou André Muggiati, da campanha da Amazônia, do Greenpeace. "É improvável que os pistoleiros tenham tomado a decisão sozinhos e, ao absolver Bida, a Justiça do Pará só confirma a regra de impunidade que impera nos rincões da Amazônia".

Segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apenas cincomandantes dos 358 crimes por conflito de terra ocorridos até hoje na região foramcondenados. No entanto, não há nenhum preso.

O Comitê Dorothy, composto por entidades da sociedade civil, entregouem fevereiro de 2007 à governadora Ana Júlia Carepa e àsecretária de Segurança Pública Vera Tavares um documento relatandocasos de morte no campo e a situação de famílias que vivem em áreasrurais desde o assassinato da missionária.

Além da impunidade,as áreas protegidas criadas após o crime na região da Terra do Meio eno ano passado às margens da BR-163, ainda aguardam implementação.Nenhuma dessas áreas teve sua regularização fundiária, nem foramdemarcadas ou sinalizadas.

A missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang vivia há maisde 30 anos na região da Transamazônica e dedicou quase a metade de suavida a defender os direitos de trabalhadores rurais contra osinteresses de fazendeiros e grileiros da região, de forma absolutamentepacífica. Ela trabalhava desde 1972 com as comunidades rurais de Anapupelo direito à terra e por um desenvolvimento sustentável, semdestruição da floresta.

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