A absolvição do fazendeiro acusado de mandar matar a missionária Dorothy Stang, em 2005, é mais um caso de impunidade no Pará.
O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o
mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, foi
absolvido nesta terça-feira em julgamento realizado em Belém, no
Pará. Já o pistoleiro contratado para matar a religiosa, Rayfran
das Neves Salles, o Fogoió, foi condenado a 28 anos de prisão, em
regime fechado.
O júri aceitou o argumento dopistoleiro, de que teria agido por
conta própria. Foi o segundojulgamento de ambos. No primeiro,
Vitalmiro havia sido condenado a 30anos de prisão.
Dorothy foiemboscada em fevereiro de 2005, na região de Anapu
(PA), no meio da floresta amazônica, e mortacom seis tiros a
queima-roupa. Ela tinha 73 anos.
"Em vez de marcar a ação da justiça, o resultado deste
julgamento é uma vitória da impunidade", lamentou André Muggiati,
da campanha da Amazônia, do Greenpeace. "É improvável que os
pistoleiros tenham tomado a decisão sozinhos e, ao absolver Bida, a
Justiça do Pará só confirma a regra de impunidade que impera nos
rincões da Amazônia".
Segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apenas
cincomandantes dos 358 crimes por conflito de terra ocorridos até
hoje na região foramcondenados. No entanto, não há nenhum
preso.
O Comitê Dorothy, composto por entidades da sociedade civil,
entregouem fevereiro de 2007 à governadora
Ana Júlia Carepa e àsecretária de Segurança Pública Vera Tavares um
documento relatandocasos de morte no campo e a situação de famílias
que vivem em áreasrurais desde o assassinato da missionária.
Além da impunidade,as áreas protegidas criadas após o crime na
região da Terra do Meio eno ano passado às margens da BR-163, ainda
aguardam implementação.Nenhuma dessas áreas teve sua regularização
fundiária, nem foramdemarcadas ou sinalizadas.
A missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy
Stang vivia há maisde 30 anos na região da Transamazônica e dedicou
quase a metade de suavida a defender os direitos de trabalhadores
rurais contra osinteresses de fazendeiros e grileiros da região, de
forma absolutamentepacífica. Ela trabalhava desde 1972 com as
comunidades rurais de Anapupelo direito à terra e por um
desenvolvimento sustentável, semdestruição da floresta.