Família coleta água na região de Caetité: Ministério Público Federal da Bahia vai convocar audiência pública para discutir denúncia de contaminação da água local por urânio. INB, responsável pela mineração, diz que não há problema algum.
A denúncia sobre a contaminação da água de Caetité (BA) por
urânio, feita pelo Greenpeace no último dia 16 de
outubro, começa a surtir efeito. Um dia depois da
apresentação dos dados do relatório Ciclo do Perigo - Impactos da Produção de
Combustível Nuclear no Brasil, que revelam problemas na
área de influência direta da estatal Indústrias Nucleares do Brasil
(INB), o Ministério Público Federal (MPF) da Bahia anunciou a
realização de uma audiência pública para discutir os problemas com
a população local e também representantes da INB. Uma equipe
formada por técnicos de órgãos do governo do estado da Bahia, entre
eles o Instituto de Meio Ambiente (IMA), o Instituto de Gestão das
Águas e a Secretaria de Saúde, viajará a Caetité amanhã
(terça-feira, dia 21/10) para fazer um diagnóstico da situação
social e ambiental no entorno do empreedimento.
A empresa também se manifestou por meio de nota oficial, na qual
nega todo e qualquer problema na região. Segundo a INB, "sua
operação não apresenta qualquer evidência de contaminação ambiental
ou que tenha colocado em risco a saúde dessas populações". Diz
ainda que "realiza aproximadamente 16 mil análises ambientais por
ano e ao longo de 8 anos de operação montou um banco de dados que
lhe permite assegurar que opera dentro dos limites estabelecidos
pelos órgãos de licenciamento" e que, "ao realizar perfurações para
atender às comunidades do entorno, só libera a sua utilização após
comprovada inexistência de urânio".
Não é bem assim que fuciona, segundo informações dos moradores
de Caetité. Em oito anos de operação da mina de urânio, eles
confirmam que a INB fez testes na água local mas dizem que a
estatal nunca revelou o resultado dessas análises. De acordo com
pessoas ouvidas pelo Greenpeace ao longo dos oito meses que a
organização esteve no local investigando o caso, a INB sempre se
fechou às preocupações da população sobre uma possível contaminação
da água e do meio ambiente por urânio.
"A nota divulgada pela INB beira o cinismo e indica que a
empresa vestiu a carapuça", afirma Rebeca Lerer, coordenadora da
campanha de energia do Greenpeace.
"Nossa denúncia é sobre a contaminação da água na área de
influência direta da mineração e processamento do urânio.
Solicitamos aos entes competentes que procedam a uma investigação
para detalhar o que está realmente acontecendo - ou seja, não
acusamos diretamente a INB. Se a empresa não tem nada a temer,
deveria apenas se colocar à disposição e apresentar todos os dados
que acumulou, mas nunca divulgou, ao MPF e aos órgãos
públicos."
Conheça aqui a nossa página especial sobre
o ciclo do urânio.
Para a procuradora da República, Flávia Galvão Arruti, que atua
em Guanambi (subseção judiciária que abrange Caetité e outros
municípios da região), "o relatório do Greenpeace corrobora a
necessidade da realização de uma perícia independente, como já vem
sendo apontado pelo MPF". Além da audiência pública para ouvir a
população de Caetité, o MPF vai pedir informações à INB, Ibama e
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) sobre a denúncia de
contaminação da água por urânio.
Leia também:
Clique aqui para ler artigo de José
Goldemberg, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, sobre os
problemas da energia nuclear.
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