Desastre do Exxon Valdez: uma contínua história de mentiras

Notícia - 23 - mar - 2004
Em 1989, o desastre do navio da maior petrolífera do mundo derramou 41 milhões de litros na costa do Alasca, afetando a vida animal até hoje

No 15º aniversário do acidente do navio Exxon Valdez, que despejou 41 milhões de litros de petróleo em uma área de vida selvagem no Alasca (EUA), o Greenpeace exige que a empresa petrolífera ExxonMobil limpe a área atingida. Maior companhia petrolífera do mundo, a empresa, que comercializa seus produtos sob a marca Esso, utiliza seu poder financeiro e sua influência para fugir de qualquer responsabilidade sobre o desastre. A empresa foi multada em mais de US$ 5 bilhões pelos danos ambientais decorrentes do acidente do Exxon Valdez, porém entrou na justiça com um pedido para recorrer da decisão (1).

Em 1991, a ExxonMobil foi considerada culpada por infringir inúmeras leis ambientais e foi multada em mais de US$ 1 bilhão. Essa foi a maior punição da história com o objetivo de minimizar os danos causados por um desastre ambiental corporativo. A gigante petrolífera também tenta encontrar um crime para acusar formalmente 38 voluntários do Greenpeace, que entraram na sede da ExxonMobil no Texas (EUA) a fim de protestar contra a posição da companhia sobre as mudanças climáticas.

No início da década de 90, a ExxonMobil financiou pesquisas que afirmavam que a área atingida estava saudável e se recuperando bem. Entretanto, novas pesquisas científicas, conduzidas por mais de 14 anos, atestam o contrário. O mais recente desses estudos, publicado pela revista científica Science (2) concluiu que a recuperação da área está longe de alcançar um nível ideal. A região continua a apresentar problemas resultantes dos resíduos do petróleo derramado.

Com 500 milhas de costa coberta com petróleo, a mortalidade de animais após o derramamento foi alta. Lontras, aves marinhas e populações de focas foram os que mais sofreram. Ao contrário do que afirmam as pesquisas da ExxonMobil, até hoje a área está contaminada pelo óleo, além de substâncias tóxicas persitentes, resultando em impactos a longo prazo.

Denis Kelso, membro da comissão do Departamento de Conservação Ambiental do Alasca, concorda que as declarações da Exxon Mobil que se seguiram ao derramamento foram "parte das deliberadas informações erradas da companhia" (3). Essa posição é sustentada pelo cientista marinho Rick Steiner, que acredita que a ExxonMobil construiu sua própria "realidade" sobre o derramamento, baseada em impactos mínimos e recuperação rápida (4).

"As táticas da ExxonMobil são bem conhecidas e este é um caso clássico de negação, enganação e demora", disse a campaigner do Greenpeace Anita Goldsmith. "Assim como a empresa não aceita as evidências científicas sobre as mudanças climáticas, nega que o petróleo derramado está causando danos na área. Em ambos os casos, a Exxon faz campanhas enganosas sobre sua responsabilidade corporativa ambiental e social. Enquanto a ExxonMobil continuar neste caminho, o Greenpeace continuará a fazer campanhas como a dos voluntários do Texas, para expor isto".

Pagar pesquisas que dêem suporte a este argumento e informem erroneamente o público não é novidade para a ExxonMobil. A empresa financia a publicação de pesquisas em revistas acadêmicas, que validam o argumento da companhia de que os juízes não são competentes para determinar uma sentença para os danos ambientais como no caso do Exxon Valdez (5). Estas pesquisas são uma tentativa de incentivar uma mudança na legislação, que permita à ExxonMobil vencer nas apelações para outorgar as indenizações que deve.

A empresa também conduz campanhas organizadas para minar as constatações científicas sobre as mudanças climáticas. Em uma época em que o mundo sofre as consequências do aquecimento global, como inundações e secas, a ExxonMobil defende que são necessários mais estudos antes de se iniciar uma ação efetiva de combate às causas do problema. A versão da empresa para o derramamento de petróleo de seu navio há 15 anos é uma história cheia de mentiras. Uma herança que a empresa mantém em suas atividades até os dias de hoje.

(1) Exxon, "Attorneys general ask Exxon to pay up" ("Procuradores pedem que a Exxon salde sua dívida"), Anchorage Daily News, 13 de maio, 1999.

(2) Revista Science, 19 de dezembro de 2003, Vol 302, "Long-term Ecosystem Response to the Exxon Valdez Oil Spill" (Resposta a longo prazo do Ecossistema ao vazamento de óleo do Exxon Valdez), C.H.Peterson, S.D.Rice, J.W.Short, D.Esler, J.L.Bodkin, B.E.Ballachey, D.B.Irons.

(3) Dennis Kelso, citação em "Critics Fault Exxon" ("Críticos culpam a Exxon"), Christian Science Monitor, 14 de junho, 1989.

(4) Professor Rick Steiner in, "The Truth about The Exxon Valdez Oil Spill" ("A verdade sobre o vazamento de óleo do Exxon Valdez"), Prof. Rick Steiner e Dr. Riki Ott, 16 de novembro, 1993.

(5) Washington Post, Friday December 2003, "Exxon Funded Research Into Jury Awards" ("Exxon financiou pesquisas para a sentença judicial"), Alan Zarembo, 26 dezembro, 2003.

Leia mais:

(arquivos em inglês)

- The lingering effects of the Exxon Valdez oil Spill

- Deny, dupe and delay - the underhand tactics of ExxonMobil

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