No 15º aniversário do acidente do navio Exxon Valdez, que
despejou 41 milhões de litros de petróleo em uma área de vida
selvagem no Alasca (EUA), o Greenpeace exige que a empresa
petrolífera ExxonMobil limpe a área atingida. Maior companhia
petrolífera do mundo, a empresa, que comercializa seus produtos sob
a marca Esso, utiliza seu poder financeiro e sua influência para
fugir de qualquer responsabilidade sobre o desastre. A empresa foi
multada em mais de US$ 5 bilhões pelos danos ambientais decorrentes
do acidente do Exxon Valdez, porém entrou na justiça com um pedido
para recorrer da decisão (1).
Em 1991, a ExxonMobil foi considerada culpada por infringir
inúmeras leis ambientais e foi multada em mais de US$ 1 bilhão.
Essa foi a maior punição da história com o objetivo de minimizar os
danos causados por um desastre ambiental corporativo. A gigante
petrolífera também tenta encontrar um crime para acusar formalmente
38 voluntários do Greenpeace, que entraram na sede da ExxonMobil no
Texas (EUA) a fim de protestar contra a posição da companhia sobre
as mudanças climáticas.
No início da década de 90, a ExxonMobil financiou pesquisas que
afirmavam que a área atingida estava saudável e se recuperando bem.
Entretanto, novas pesquisas científicas, conduzidas por mais de 14
anos, atestam o contrário. O mais recente desses estudos, publicado
pela revista científica Science (2) concluiu que a recuperação da
área está longe de alcançar um nível ideal. A região continua a
apresentar problemas resultantes dos resíduos do petróleo
derramado.
Com 500 milhas de costa coberta com petróleo, a mortalidade de
animais após o derramamento foi alta. Lontras, aves marinhas e
populações de focas foram os que mais sofreram. Ao contrário do que
afirmam as pesquisas da ExxonMobil, até hoje a área está
contaminada pelo óleo, além de substâncias tóxicas persitentes,
resultando em impactos a longo prazo.
Denis Kelso, membro da comissão do Departamento de Conservação
Ambiental do Alasca, concorda que as declarações da Exxon Mobil que
se seguiram ao derramamento foram "parte das deliberadas
informações erradas da companhia" (3). Essa posição é sustentada
pelo cientista marinho Rick Steiner, que acredita que a ExxonMobil
construiu sua própria "realidade" sobre o derramamento, baseada em
impactos mínimos e recuperação rápida (4).
"As táticas da ExxonMobil são bem conhecidas e este é um caso
clássico de negação, enganação e demora", disse a campaigner do
Greenpeace Anita Goldsmith. "Assim como a empresa não aceita as
evidências científicas sobre as mudanças climáticas, nega que o
petróleo derramado está causando danos na área. Em ambos os casos,
a Exxon faz campanhas enganosas sobre sua responsabilidade
corporativa ambiental e social. Enquanto a ExxonMobil continuar
neste caminho, o Greenpeace continuará a fazer campanhas como a dos
voluntários do Texas, para expor isto".
Pagar pesquisas que dêem suporte a este argumento e informem
erroneamente o público não é novidade para a ExxonMobil. A empresa
financia a publicação de pesquisas em revistas acadêmicas, que
validam o argumento da companhia de que os juízes não são
competentes para determinar uma sentença para os danos ambientais
como no caso do Exxon Valdez (5). Estas pesquisas são uma tentativa
de incentivar uma mudança na legislação, que permita à ExxonMobil
vencer nas apelações para outorgar as indenizações que deve.
A empresa também conduz campanhas organizadas para minar as
constatações científicas sobre as mudanças climáticas. Em uma época
em que o mundo sofre as consequências do aquecimento global, como
inundações e secas, a ExxonMobil defende que são necessários mais
estudos antes de se iniciar uma ação efetiva de combate às causas
do problema. A versão da empresa para o derramamento de petróleo de
seu navio há 15 anos é uma história cheia de mentiras. Uma herança
que a empresa mantém em suas atividades até os dias de hoje.
(1) Exxon, "Attorneys general ask Exxon to pay up"
("Procuradores pedem que a Exxon salde sua dívida"), Anchorage
Daily News, 13 de maio, 1999.
(2) Revista Science, 19 de dezembro de 2003, Vol 302, "Long-term
Ecosystem Response to the Exxon Valdez Oil Spill" (Resposta a longo
prazo do Ecossistema ao vazamento de óleo do Exxon Valdez),
C.H.Peterson, S.D.Rice, J.W.Short, D.Esler, J.L.Bodkin,
B.E.Ballachey, D.B.Irons.
(3) Dennis Kelso, citação em "Critics Fault Exxon" ("Críticos
culpam a Exxon"), Christian Science Monitor, 14 de junho, 1989.
(4) Professor Rick Steiner in, "The Truth about The Exxon Valdez
Oil Spill" ("A verdade sobre o vazamento de óleo do Exxon Valdez"),
Prof. Rick Steiner e Dr. Riki Ott, 16 de novembro, 1993.
(5) Washington Post, Friday December 2003, "Exxon Funded
Research Into Jury Awards" ("Exxon financiou pesquisas para a
sentença judicial"), Alan Zarembo, 26 dezembro, 2003.
Leia mais:
(arquivos em inglês)
- The lingering effects of the Exxon Valdez oil
Spill
- Deny, dupe and delay - the underhand tactics of
ExxonMobil