Encontro internacional discute amaça ao atum-azul no Mediterrâneo.
SÃO PAULO - O encontro da Iccat ocorre num contexto de pressão de organizações ambientais, cientistas e até celebridades para que o órgão, responsável pela proteção do atum-azul proíba a pesca da espécie no Atlântico, onde seus estoques entraram em colapso.
A Iccat regula a pesca do atum-azul cedendo à pressão da indústria pesqueira. Em 2008, por exemplo, o órgão definiu uma cota de pesca da espécie 47% maior do que o recomendado pelos cientistas.
Nesse ritmo, não restará nenhum indivíduo da espécie para ser comercializado no Mediterrâneo, região que abastece o principal mercado consumidor do mundo, o Japão. Na costa do Brasil, o atum-azul é considerado extinto. Seu último exemplar foi pescado aqui há mais de 10 anos.
A escassez do atum-azul transformou sua carne em artigo de luxo. Em 2001, 200 kg chegou a ser vendido por 220 mil dólares. No Brasil, poucos restaurantes, como o Sakamoto, em São Paulo, têm a espécie no cardápio.
"A situação do estoque de atum-azul no Mediterrâneo comprova que a Iccat se tornou um órgão de governança falido, que precisa retomar a liderança política de proteção da espécie", afirma Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de Oceanos do Greenpeace.
"Se a Iccat, mais uma vez esse ano, não atender as recomendações de fechar a pesca do atum-azul, iremos recorrer aos procedimentos legais para proibição da pesca através da Cites, afirma Sebastian Losada, coordenador político para oceanos do Greenpeace.
A triste história do atum-azul é a mesma de outros estoques marinhos, vítimas de má gestão e de um modelo de pesca industrial que captura mais do que a capacidade de reprodução das espécies. No mundo, 75% dos recursos pesqueiros encontram-se ameaçados. O cenário no Brasil é pior, atingindo até 80% de nossos estoques.
Para salvar o atum-azul, além de proibir a pesca, a Iccat precisa pressionar governos de países da região a criar áreas marinhas protegidas, capazes de acelerar a recuperação dos estoques do peixe. Se eles crescerem, o resultado terá conseqüências benéficas tanto para o ecossistema marinho como para a indústria pesqueira.
No caso brasileiro, as áreas marinhas protegidas, ao funcionarem como berçários livres da predação humana, trariam o mesmo tipo de benefício, contribuindo para a recuperação dos estoques pesqueiros. O Greenpeace defende que o país destine 30% de suas águas territoriais para áreas de proteção. Atualmente, apenas 0,4% da costa brasileira está protegida. No mundo, a taxa é um pouco melhor. Mas não muito. Fica em torno de 1%.
"Para o Greenpeace, a ampliação das chamadas áreas marinhas protegidas é fundamental para a superação deste cenário, evitando que o pescado desapareça das redes dos pescadores e, em conseqüência, do prato dos consumidores", diz Leandra.