Ratos de laboratório, alimentados com milho transgênico
produzido pela Monsanto, mostraram sinais de intoxicação nos rins e
no fígado, de acordo com um novo estudo lançado esta semana pela
publicação norte-americana Archives of Environmental Contamination
and Toxicology (Arquivos de Contaminação Ambiental e Toxicologia).
É a primeira vez que um produto geneticamente modificado, liberado
para o consumo humano e de animais, apresenta sinais de ter
provocado efeitos tóxicos em órgãos internos de seres vivos.
O estudo analisou os resultados de testes de segurança enviados
pela Monsanto para a Comissão Européia quando a empresa buscava
autorização para comercializar a variedade MON863 de milho
transgênico na União Européia, em 2005. Os dados dos testes mostram
que o milho MON863 traz significativos riscos à saúde. Mesmo assim,
a Comissão Européia licenciou a comercialização do produto para
consumo humano e de animais.
"Esse é o golpe final na credibilidade do sistema de autorização
para produtos transgênicos. Se o sistema desenhado para proteger a
saúde das pessoas e dos animais autoriza um produto de alto risco,
mesmo com todas as evidências sobre seus perigos, precisamos
suspender imediatamente esse procedimento de aprovação e rever
todos os demais produtos autorizados", afirmou Christoph Then,
representante da campanha de engenharia genética do Greenpeace
Internacional.
A evidência sobre os efeitos nas cobaias foi obtida pelo
Greenpeace após uma batalha judicial e foi passada a uma equipe de
especialistas para ser analisada. A equipe foi liderada pelo
professor Gilles Eric Séralini, especialista em tecnologia de
engenharia genética da Universidade de Caen, na França."As análises
da Monsanto não resistem a escrutínios rigorosos. Para começar, os
protocolos estatísticos deles são altamente questionáveis. Pior, a
empresa fracassou em fazer análises suficientes das diferenças no
peso animal. Dados cruciais dos testes de urina, indicando
intoxicação do rim, ficaram escondidos em publicações internas da
empresa", disse o professor Séralini numa coletiva de imprensa
conjunta com o Greenpeace, realizada hoje em Berlim.
Os dados em questão vêm sendo objeto de grande debate desde
2003, quando foram identificadas mudanças significativas no sangue
de animais alimentados com o milho MON863. Esse milho foi aprovado
pela Comissão Européia apesar da oposição da maioria dos
países-membros da União Européia, que levantaram preocupações sobre
a segurança do produto.
A análise do professor Séralini confirma cientificamente essas
preocupações. "Com os dados existentes, não se pode concluir que o
milho MON863 é um produto seguro", diz ele. Apesar disso, o milho
geneticamente modificado da Monsanto foi autorizado para venda e
consumo na Austrália, Canadá, China, Japão, México, Filipinas e
Estados Unidos, além da União Européia."O mais preocupante é que,
assim como esta, outras evidências importantes sobre os impactos
das variedades transgênicas também podem estar sendo negligenciadas
pelas empresas e pelos órgãos responsáveis por avaliar a segurança
dessas variedades", disse Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha
de engenharia genética do Greenpeace Brasil.
No momento em que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança) está justamente discutindo a liberação de outras
variedades de milho transgênico, o estudo da publicação
norte-americana coloca em dúvida todo o sistema de aprovação
comercial de novos transgênicos. Isso porque, atualmente, a CTNBio
não exige uma lista mínima de documentos que as empresas de
biotecnologia sejam obrigadas a apresentar para pedir a liberação
de novos transgênicos; também não há a necessidade de confrontar os
estudos feitos pelas empresas com análises externas e
independentes."Com isso, as empresas podem apresentar apenas o que
lhes for conveniente, sem ter que prestar contas sobre os impactos
dos seus produtos para a população e o meio ambiente", alertou
Gabriela.
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