Lobby nuclear quer reduzir padrões de segurança em toda a Europa

Notícia - 21 - mai - 2008
Proposta de políticos e representantes do setor de energia feita durante Fórum realizado em Praga foi alvo de protesto do Greenpeace.

Greenpeace projeta mensagens a favor de uma revolução energética, baseada em energias renováveis, durante Fórum Europeu de Energia Nuclear, realizado em Praga, na República Tcheca.

Não bastassem todos os problemas que a indústria nuclear oferece ao público, políticos e representantes do setor de energia ainda querem arrumar mais. Tanto que fizeram uma proposta pra lá de indecente durante o Fórum Europeu de Energia Nuclear, realizado em Praga, na República Tcheca: reduzir os padrões de segurança nuclear em toda a Europa.

O absurdo foi devidamente apontado por ativistas do Greenpeace que protestaram contra a idéia projetando mensagens contra a energia nuclear em locais próximos ao castelo onde era realizado o Fórum.

Os participantes do Fórum receberam ainda o Kit de Sobrevivência EPR (texto em inglês), um documento que traz detalhes sobre os problemas  que estão ocorrendo com os novos Reatores Pressurizados Europeus (EPR, na sigla em inglês), em construção na Finlândia e na França.

A idéia de rebaixar os atuais padrões de segurança nuclear na Europa tem como objetivo reduzir os custos de futuras usinas nucleares e ajudar a abrir portas para a expansão da energia atômica, expondo o meio ambiente e a segurança pública a grandes riscos.

Tendo o primeiro-ministro da República Tcheca como anfitrião e com a presença de políticos europeus e tomadores de decisão do setor de energia, o Fórum é uma feira de negócios para o lobby nuclear. As sessões de abertura foram um palco privilegiado para a estatal nuclear francesa Areva promover seu  "Reator Pressurizado Europeu" (EPR, na sigla em inglês), considerado o ícone da renascença nuclear no mundo.

O Fórum teve início depois que o Chefe de Estado e de Governo da União Européia, apoiou em março de 2007 uma proposta da Comissão Européia "para organizar uma ampla discussão entre todos os parceiros relevantes nas oportunidades e os riscos da energia nuclear". As organizações não-governamentais Greenpeace e Amigos da Terra são os únicos representantes da sociedade civil com assento no Fórum.

"Nós damos as boas vindas a um debate aberto e oportuno sobre energia nuclear. Mas ao se analisar custos, segurança energética e combate às mudanças climáticas, os argumentos são todos a favor das opções de energia limpa", disse Jan Beranek, coordenador da campanha de energia nuclear do Greenpeace Internacional.

Conheça o relatório [R]evolução Energética, do Greenpeace, com o caminho das pedras para limpar de vez a produção de energia. 

Uma pesquisa de opinião pública da Eurobarometer sobre as tecnologias de energia, publicada em 2007, aponta que apenas 20% da  população da União Européia apóia o uso da energia nuclear - ver aqui a íntegra da pesquisa, com texto em inglês).

As propostas apresentadas no Fórum pretendem suprir o desenvolvimento de políticas, e talvez da legislação, da União Européia. Desde o início de novembro de 2007, o Fórum tem defendido o abrandamento dos padrões de segurança, forçando a aceitação da energia nuclear.

Apesar da insistência da indústria nuclear em divulgar suas vantagens, a realidade traça um cenário diferente. A industria nuclear está atolada em problemas técnicos, de seguranca, prazos e orcamentos estourados em vários paises. Na França, o projeto do EPR de Flamanville 3, por exemplo, enfrenta entraves técnicos após apenas três meses de obra e apresenta problemas de qualidade e segurança na execução do projeto. O outro EPR da Areva em construção, o Olkiluoto 3, na Finlândia, após dois anos e meio de construção, já apresenta problemas: está dois anos atrasada, vai dobrar seu custo inicial, e já soma mais de 2,2 bilhões e euros de prejuízo.

No Reino Unido, as usinas vão custar o dobro do valor estimado inicialmente.

No Brasil, a renascença da indústria nuclear chega com o projeto Angra 3, mas ja enfrenta problemas financeiros e de segurança. A terceira usina nuclear do Brasil vai custar mais de R$ 9 bilhoes e a questão do lixo radioativo ainda não foi solucionada.

Leia também:

Alerta radioativo: carga de urânio é barrada em porto de Salvador 

Energia das usinas nucleares de Angra causam prejuízo milionário à Furnas

Tópicos