Ato público em Salvador alerta para 'cegueira nuclear' do governo federal

Notícia - 9 - mar - 2009
Cerca de duzentas pessoas participaram da marcha contra o programa nuclear brasileiro pelas ruas do centro de Salvador.

Após caminhada de 2,5 quilômetros, manifestantes promovem promovendo uma 'morte simbólica' coletiva no centro de Salvador, simbolizando os riscos da energia nuclear para a vida humana.

Em protesto contra o Programa Nuclear Brasileiro, cerca de duzentas pessoas de diversas entidades e movimentos sociais realizaram uma marcha silenciosa pelo centro de Salvador. Vestidos com camisetas pretas e amarelas, as cores do símbolo da radioatividade, os manifestantes percorreram um trajeto de 2,5 quilômetros entre o tradicional Mercado Modelo e o porto da cidade. O protesto, uma iniciativa do Greenpeace, foi encerrado com uma 'morte simbólica', na qual todos os participantes deitaram-se no chão, simbolizando os riscos à vida humana trazidos pela energia nuclear.

Salvador foi escolhida para este protesto porque todos os anos cerca de 400 toneladas de urânio provenientes da mineração de Caetité, no sudoeste da Bahia, são transportadas pela cidade para deixarem o país por meio do porto. O material é enriquecido fora do Brasil para ser utilizado como combustível nas usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ). A manifestação faz parte das atividades da expedição Salvar o Planeta. É Agora ou Agora, que está na capital baiana há uma semana.

A programação anti-nuclear começou pela manhã, quando o Greenpeace participou de uma sessão especial na Câmara dos Vereadores para discutir um projeto de lei municipal que proíbe o transporte de material radioativo em Salvador, já que a cidade está na rota do programa nuclear brasileiro.

No momento em que o governo federal decide expandir o Programa Nuclear Brasileiro, promover o debate sobre os custos e riscos dessa tecnologia na Bahia é fundamental, afinal o estado já sofre os impactos da mineração de urânio em Caetité e os riscos do transporte de material radioativo", disse Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace.

"À medida que novas usinas nucleares são construídas, aumenta a demanda por urânio e combustível nuclear, bem como o volume e frequência dos transportes de material radioativo pelas estradas baianas."

Em outubro do ano passado, o Greenpeace denunciou contaminação da água por urânio no entorno da mina mantida pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil) em Caetité. O Greenpeace identificou concentrações de urânio em amostras de água utilizada para consumo humano e animal até cinco vezes acima do permitido pela legislação brasileira (Conama). Em novembro, ativistas demarcaram cinco quilômetros da Avenida Bonocô, por onde passa o carregamento do urânio que sai de Caetité.

Clique aqui para baixar o relatório Ciclo do Perigo.

Participaram dos atos a Comissão Pastoral da Terra, Caritas, Associação Movimento Paulo Jackson Ética, Justiça e Cidadania, Gérmen, Sindicato dos Trabalhadores Portuários, Movimento Organização e Luta da Universidade Católica de Salvador, além dos comunitários de Caetité.

Ontem, durante o seminário Energias Renováveis: Potencial, Limitações e Relevância no Atual Cenário de Mudanças Climáticas, realizado a bordo do navio Arctic Sunrise, o governo do estado da Bahia anunciou o licenciamento do primeiro parque eólico da Bahia, que será construído em Caetité, com capacidade de 700 MV.

"Este é mais um argumento que mostra que a Bahia e o Brasil não precisam de energia nuclear e podem alcançar a segurança energética e o desenvolvimento social e econômico a partir das energias renováveis", disse Rebeca.

A expedição Salvar o Planeta. É Agora ou Agora está percorrendo sete cidades brasileiras desde janeiro para alertar a população sobre a urgência do combate às mudanças climáticas. O navio Arctic Sunrise fica em Salvador até quinta-feira.

Saiba mais sobre a visita do navio Arctic Sunrise no Greenblog.

Tópicos