O potencial de países como o Brasil para a geração de energia por meio de fazendas eólica é gigantesco e o custo (financeiro e ambiental) bem menor do que o de fontes sujas como a nuclear.
O governo brasileiro deu uma banana para as negociações que
mundo vem fazendo para chegar a um acordo sobre novas e rígidas
metas de redução das emissões dos gases do efeito estufa. Às
vésperas do Natal, o Ministério das Minas e Energia abriu o Plano
Decenal de Energia (2008-2017) para consulta pública, com um texto
que vai na contramão de tudo que vem sendo discutido até agora para
a construção de um novo acordo climático, a ser finalizado em
dezembro de 2009, na reunião da ONU sobre clima, em
Copenhangen.
Enquanto o mundo estuda meios de reduzir drasticamente as
emissões globais dos gases do efeito estufa, o Plano Decenal de
Energia do Brasil prioriza e estimula as fontes sujas de energia,
ignora o potencial da eficiência energética e considera a questão
socioambiental como mero entrave para o progresso do país. Um
desastre total.
O Plano Decenal prevê a construção de 81 usinas termelétricas no
país entre 2008 e 2017. O Nordeste, por exemplo, que conta com os
melhores regimes de ventos no Brasil, vai receber 55 novas usinas
térmicas. Enquanto o Greenpeace discute a geração de uma Itaipu de
ventos na região com o Banco do Nordeste, governadores e a comissão
de energias renováveis do Congresso, o governo federal promove uma
energia cara e suja.
Na reunião da ONU sobre clima realizada em Poznan, na Polônia
(dezembro de 2008), o Ministério do Meio Ambiente anunciou com
pompa e circunstância o Plano Nacional de Mudanças Climáticas com
metas de redução de emissões. Agora, para consumo interno, mostra a
sua verdadeira face.
"Mais uma vez, o governo mostra a esquizofrenia da sua
políticaambiental. Fez barulho em Poznan com um plano de metas para
reduzir odesmatamento e as emissões, mas no Brasil, anuncia às
vésperas do Natal um aumento de172% nas emissões de CO2 no setor
termelétrico, um belo presente de grego para os brasileiros", diz
MarceloFurtado, diretor executivo do Greenpeace.
Num primeiro momento, a expansão de usinas termelétricas ocorre
no Nordeste, com unidades prioritariamente à base de óleo diesel.
Num segundo momento, entre 2014 e 2017, a expansão ocorre na região
sul com uma fonte ainda mais poluente - o carvão mineral. O IPCC
aponta o ano de 2015 como ano-chave para atingirmos o pico das
emissões globais de gases do efeito estufa. A partir deste ponto
deveremos reduzir de maneira equitativa essas emissões. Enquanto o
mundo busca converter sua matriz elétrica suja em renovável, o
Brasil toma justamente o caminho oposto.
O planejamento energético proposto pelo governo em seu Plano
Decenal é orientado por uma abordagem ultrapassada e que privilegia
o aumento da geração e não a administração da demanda. Ou seja,
ignora de maneira espetacular os benefícios da redução do consumo
pelo aumento da eficiência energética como troca de lâmpadas
incandescentes e outros equipamentos por substitutos com menor
consumo. É emblemático o fato de que o plano, em nenhum momento,
faz referência à 'eficiência energética'.
A referência bibliográfica do plano deixa claro que toda a
contribuição técnica proporcionada pela sociedade civil na
discussão de uma nova matriz elétrica para o Brasil foi
ignorada.
O plano ignora, por exemplo, o verdadeiro potencial das fontes
de energia renováveis modernas no Brasil, como solar e eólica, e
minimiza completamente o papel da biomassa e das pequenas centrais
hidrelétricas. A participação prevista para a geração a biomassa é
de apenas 2,7% e a energia eólica, restrita aos projetos do
Proinfa, totaliza apenas 0,9% da matriz elétrica em 2017. Por outro
lado, promove novas (e desnecessárias) usinas hidrelétricas na
Amazônia, que têm alto impacto ambiental e consumirão grandes
quantidades de recursos financeiros, que poderiam ser melhor
aproveitados para a geração de emprego e renda no país, com fontes
limpas e sustentáveis. O potencial hidrelétrico a ser instalado na
próxima década é estimado em 43.053 MW, dos quais apenas 341,8 MW
seriam provenientes de PCHs.
O Brasil não precisa de mais hidrelétricas na Amazônia nem de
termelétricas em qualquer parte. O estudo [R]evolução Energética, do Greenpeace,
apresenta um cenário para o país em que poderemos atingir uma
matriz elétrica com 88% de energias renováveis e índices de
eficiência energética de até 30%. Como não bastasse, essa matriz
limpa é bilhões de reais mais barata do que a proposta pelo
governo.
"Momentos de crise são também momentos de oportunidade, e o
governo brasileiro deveria estar, a exemplo de outras nações,
comprometido com a solução para as mudanças climáticas. Os novos
investimentos para o setor elétrico deveriam ser prioritariamente
feitos para promover as energias renováveis, especialmente num país
que é privilegiado nesse tipo de fonte energética", afirma Marcelo
Furtado.