Vozes do Xingu contra Belo Monte

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Notícia - 3 - nov - 2009
Greenpeace realiza projeção, no prédio do Ministério de Minas e Energia, contra construção de hidrelétrica no rio Xingu, que atenta contra interesses indígenas e ambientais.

Vídeo foi projetado na parede do prédio do MME, em Brasília.

A parede frontal do prédio do Ministério de Minas e Energia foi transformada em uma grande tela para a exibição de um documentário, sobre as manifestações realizadas em tribos indígenas no Xingu contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.

As cenas foram gravadas na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina, entre os dias 28 de outubro e 4 de novembro. Nesse período, os ministros do Meio Ambiente e Minas e Energia foram convidados a ir ao Xingu para discutir os impactos da obra na região. Eles não apareceram nem mandaram representantes. Os índios, então, foram para a capital.

A exibição é uma resposta ao ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, que, em setembro, deu uma declaração sobre a demora da emissão da licença ambiental, dizendo que existem forças demoníacas puxando o país para baixo. Lobão atribuiu ao Ministério Público (MP) e às organizações não-governamentais o papel de "forças ocultas" nesse processo. O filme mostra que, ao contrário do que diz o ministro, nada é oculto.

Veja as fotos:

Se concretizado, Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo e vai causar impacto mais de 9 milhões de hectares de floresta, uma área equivalente a duas vezes a cidade do Rio. Sua construção alagará 51 mil hectares de floresta e estima-se que atrairá para a região mais de 200 mil pessoas, provocando o aumento no desmatamento em diversos municípios da bacia do rio Xingu. "Se Belo Monte for mesmo construída, muitas coisas vão ficar diferentes. O peixe vai desaparecer e vai matar tudo o que a gente tem", diz o cacique Sadea. "O índio não aguenta comer arroz e feijão, pão e refrigerante todo dia. Ele vive do beiju e do peixe. A minha comunidade não consegue viver sem peixe e o rio Xingu é o que dá peixe para gente", completa a índia Watalakalu Yawalapiti.

Saiba maissobre a polêmica construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

A usina foi projetada para gerar 11.233 megawatts, no entanto, dada as condições de cheia e vazante do rio Xingu, o aproveitamento em alguns meses do ano não ultrapassaria os 40% do total instalado. "Embora o governo negue a necessidade de construção de novas barragens, para ampliar esse percentual e tornar o empreendimento economicamente viável, quatro outros barramentos rio acima precisarão ser construídos", diz Marcelo Salazar, do Instituto Socioambiental.

De acordo com o relatório do Greenpeace "Revolução Energética", sobre o futuro cenário energético do Brasil, o país tem condições de atender sua demanda a partir de fontes renováveis limpas e pouco impactantes em termos socioambientais, como eólica, solar e diferentes formas de biomassa. "A geração de energia na Amazônia deve estar baseada em soluções locais e sustentáveis, o que só será possível com um incentivo legal do governo", afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace.

Os impactos na Amazônia precisam ser discutidos sob a ótica da atual crise climática e das metas de redução de desmatamento apresentadas pelo governo federal nas reuniões preparatórias para a Convenção da ONU sobre clima, que será realizada em dezembro, na Dinamarca.

Mais de 20 anos de história - A resistência das populações locais tem uma história de mais de 20 anos, com momentos marcados por manifestações extremas daqueles que não conseguem ser ouvidos pelos que deveriam proteger sua terra e sua vida.

Belo Monte é alvo de críticas também por parte da comunidade acadêmica. Em recente parecer sobre o estudo de impacto ambiental, um painel de especialistas aponta os efeitos nefastos da obra e lista questões que ainda precisam ser respondidas para prever os alcances desses impactos.

O Ibama, por outro lado, já anunciou que a licença prévia para a obra será emitida nos primeiros dias de novembro. O governo marcou para 21 de dezembro do leilão da usina.

Assista ao vídeo projetado no prédio do MME:

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