Conheça histórias reais de quem cuida da Floresta Amazônica e combate o desmatamento, mas falta apoio – COP30 é chance de fazer justiça

Mesmo diante do avanço de ameaças como o PL da Devastação, precisamos manter a força e a coragem. Para se inspirar, neste Dia Nacional das Florestas (17/07), apresentamos 11 guardiões da Amazônia que o Greenpeace teve a honra de conhecer há mais de duas décadas. Em maio de 2025, voltamos a encontrá-los na Expedição ‘Respeitem a Amazônia’, no Médio Juruá, no Amazonas.
À convite de ribeirinhos e do povo Deni, o Greenpeace visitou a região, entre 1999 e 2003, para apoiar no combate ao desmatamento e na luta pelo território. Até os anos 90, as populações locais enfrentavam trabalho análogo à escravidão e extração ilegal de madeira.
Mas, com muita união, conseguiram transformar um cenário de destruição em solução. Além de expulsar os invasores e se libertar, conquistaram um mosaico de áreas protegidas, com quase 2 milhões de hectares:
- duas Unidades de Conservação — a Resex Médio Juruá, criada em 1997, e RDS Uacari, oficializada em 2005;
- e a Terra Indígena Deni, demarcada em 2003.
Hoje, o Médio Juruá (AM) é um exemplo global de superação. As comunidades e aldeias vivem do manejo e da extração sustentável de seringa, açaí, copaíba, mel, sementes e pesca, como pirarucu. Juntando saberes ancestrais e tecnologias sociais, geram renda, bem viver, proteção ambiental e equilíbrio climático.
Conheça histórias reais de quem está cuidando da maior floresta tropical do mundo:
1- Manoel Cunha
Manuel Cunha era seringueiro quando conheceu o Greenpeace, em 1999. Atualmente, seu principal trabalho é como liderança e gestor da Resex Médio Juruá pelo ICMBio.“É possível faturar sem derrubar uma árvore. Não conheço nenhuma comunidade que destrua o ambiente e viva bem. Eu conheço patrão que melhorou de vida, mas comunidade não. É muito mais fácil melhorar a qualidade de vida com uso sustentável dos recursos, do que desmatando”, afirma.
2- Vititivi Hava Deni
Vititivi Hava Deni é ancião do povo Deni, morador da aldeia Itaúba, e atuou na autodemarcação da Terra Indígena, ou seja, o próprio povo Deni demarcou seu território, homologado pelo Estado em 2004. Hoje Vititivi conta as histórias para os mais novos, descrevendo os anos de luta pelo reconhecimento da terra, e se orgulha de cultivar roças em harmonia com a floresta.
3- Miriane Silva
Em 1999, Miriane Silva era menina quando o Greenpeace visitou sua comunidade Bauana pela primeira vez, antes mesmo da criação da RDS Uacari. Reencontramos com ela 25 anos depois, na casa de farinha de sua família. “A vida na floresta é pesada, igual fazer farinha, mas tenho muito orgulho. Antes da reserva era difícil. Não tinha preservação ou peixe, só ataque. Hoje melhorou muito”, conta.
4- Baba Hava Deni
Baba Hava Deni é ancião e agente de saúde do povo Deni, cuida da qualidade da água e até do calendário de vacinas. Também participou da luta pela demarcação da Terra Indígena Deni no início dos anos 2000 e lembra das primeiras visitas do Greenpeace: “Iam para mata e até para Manaus com a gente, ajudavam a marcar o território e nas reuniões com autoridades.”
5- Flavio do Carmo
Nascido e criado na comunidade Bauana, Flavio do Carmo é conselheiro da Asproc, associação mãe do Médio Juruá, secretário do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e assistente do Memorial Chico Mendes (MCM). Assim como a maioria do povo juarense, ele vem de uma família de seringueiros, como seu tio Xeruã, que aparece na foto antiga, em 1999.
6- Antonio Raimundo (De Açúcar)
“Sem mel, não temos vida”, destaca seu Antônio Raimundo, conhecido como ‘De Açúcar’. Ele sempre gostou de coletar mel, como mostra a foto dele em 1999. Só que, antigamente, derrubavam árvores para extrair, já hoje é o inverso: a criação de abelhas sem ferrão, que ele mesmo implantou no seu quintal, ajuda a polinizar a floresta e gerar vida ao redor.
7- Mavarivi Bukure Deni (Leo)
Mavarivi Bukure Deni coordena a fiscalização da Terra Indígena Deni, mantendo a área livre de invasores, e registra tudo nos documentos da vigilância. Na foto de 2003, ele aparece ajudando a carregar os marcos para a demarcação do território, quando passaram 20 dias na floresta, com fome e frio, mapeando toda a área — e o Greenpeace estava junto.
8- Raimundo de Souza (Seu Pi)
Aos 73 anos, Seu Pi (Raimundo de Souza) é um dos mais velhos a coletar andiroba na comunidade do Roque, na Resex Médio Juruá — como mostram as fotos de 1999. A diferença é que hoje o trabalho melhorou: tem mais renda, tecnologia e parceiros, e as sementes viram cosméticos vendidos em todo o Brasil.
9 – Maria Lenicia
“Criei seis filhos na agricultura, nunca tirei nenhum da escola para ir trabalhar e nunca precisei derrubar a mata“, relata dona Maria Lenicia, da comunidade Bauana, na RDS Uacari. Quando ela era menina, eram raras as escolas no Médio Juruá (AM) — os antigos “patrões” proibiam, para seguir explorando ilegalmente a floresta e a mão de obra dos ribeirinhos e indígenas. Hoje, as comunidades e aldeias conquistaram suas escolas, embora precisem de melhorias e mais assistência do poder pública, afinal educação é um direito.
10- Antonio da Cunha (Seu Tota)
“A gente não pensa só no hoje, pensa no amanhã. Antes a gente só fazia o que o patrão mandava, podia ser bom ou ruim. Hoje, dentro da Reserva Extrativista, a gente trabalha com liberdade e responsabilidade, cuidando do que é nosso”, explica seu Antônio da Cunha (Seu Tota), seringueiro da comunidade São Raimundo, na Resex Médio Juruá. Na foto de 1999, aparece mostrando borrachas coloridas, feitas através da tecnologia que Greenpeace ajudou a instalar na época.
11- Bunarivi Varasha Deni (Dr. Barro)
Bunarivi Varasha Deni, pajé, também atuou na autodemarcação e até hoje se lembra das pessoas do Greenpeace que participaram do processo. Seu apelido é Dr. Barro, dado por médicos e antropólogos que estudam a medicina indígena Deni, porque ele trata as pessoas com argila da terra, um conhecimento ancestral. “Se mulher grávida tem hemorragia, cavo um buraco fundo e pego terra para curar.”
A floresta vale mais em pé – e isso já é realidade
O Médio Juruá (AM) é uma referência de sucesso para a Amazônia e o mundo, sendo gerido de forma coletiva e sustentável. Mas falta suporte e recursos para fortalecer e multiplicar suas soluções.
Mesmo sendo fundamentais para conter as mudanças no clima, os povos da floresta acessam menos de 1% do financiamento climático global. Por isso, a urgência em mudar essa realidade.
A COP30, em Belém, é uma chance de fazer justiça com financiamento climático direto para quem realmente cuida da natureza e do clima.
Ajude a cobrar nossos governantes e assine a petição
“Respeitem a Amazônia”