Pior acidente nuclear da história completa quase três décadas. Usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, expôs ao mundo os problemas relacionados à energia nuclear

Protesto em Berlin, no 20º aniversário do acidente nuclear de Chernobyl.

Protesto em Berlin, no 20º aniversário do acidente nuclear de Chernobyl.

Há 29 anos um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e matou dois trabalhadores. Material radioativo foi liberado no ambiente e grandes áreas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia foram contaminadas. Nos quatro meses seguintes, 28 trabalhadores da usina, de um total de 600, morreram em decorrência da radiação recebida, e outros 106 foram contaminados. Mesmo quase três décadas depois deste emblemático acidente – e de outros desastres nucleares como o de Fukushima – o Brasil dá sinais de que quer voltar a investir em energia nuclear.

A explosão que ocorreu por uma combinação de falha no projeto – mais especificamente no desenho técnico – erros operacionais e segurança inadequada, causou um desastre de dimensões enormes. Para se ter uma ideia, uma área de 30 quilômetros ao redor da usina teve acesso proibido e mais de 330 mil pessoas tiveram que ser evacuadas de suas casas, sem nunca poder voltar. Até hoje, já foram detectados cerca de 6 mil casos de câncer de tireoide relacionados ao acidente, e o número segue aumentando.

Os trabalhos de contenção também foram hercúleos. Cerca de 600 mil trabalhadores e bilhões de dólares foram colocados nos trabalhos de limpeza. Na época, um edifício de contenção, conhecido como “sarcófago”, foi construído ao redor da usina para limitar o escape de radiação. Mas esse “sarcófago” já passou do seu prazo de validade e um novo está sendo construído, a um custo de US$ 3 bilhões, e só deve ficar pronto em 2017 após sucessivos atrasos.

O pior desastre nuclear da história coloca em xeque os argumentos de que energia nuclear é segura e limpa. Seus defensores dizem que é bastante segura e que um acidente como o de Fukushima acontece somente uma vez a cada 250 anos. No entanto, nos últimos 70 anos, Fukushima, Chernobyl e os acidentes de Three Mile Island e Fermi 1, ambos nos Estados Unidos, provam o contrário.

Para piorar, um recente estudo publicado pela revista de tecnologia MIT Tech Review afirma que existe 50% de probabilidade que outro evento como Chernobyl aconteça nos próximos 27 anos, um evento como o de Fukushima aconteça nos próximos 50 e um como o de Three Mile Island, nos próximos 10 anos. Ainda há o agravante de que não existe solução permanente para todo o lixo atômico produzido.

Apesar de todos os problemas, custos e riscos da energia nuclear, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, declarou na última semana que o Brasil terá mais quatro usinas nucleares até 2030 e outras oito até 2050. “Braga afirmou que precisamos da energia nuclear para garantir a segurança energética do país, no entanto, isso não é verdade. A segurança brasileira pode ser alcançada com mais investimentos em energias renováveis, como solar e eólica”, diz Thiago Almeida, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

A energia eólica já é hoje a segunda mais barata no país e a perspectiva é de que a energia solar se torne a mais barata em um horizonte de cinco anos. Já o custo de uma usina nuclear é sempre crescente e nele não está incluído o custo de descomissionamento, em torno de US$ 1 bilhão por usina.

Em relação ao tempo de construção, o de usinas eólicas e fotovoltaicas é igual ou inferior a dois anos, enquanto um reator nuclear tem levado mais de dez anos para ser construído de acordo com médias globais. Vale lembrar que Angra 2 demorou quase 20 anos para entrar em operação e Angra 3, cujas obras começaram em 1984 e foram retomadas em 2010, foi prometida para 2012 a um custo de R$ 7 bilhões. No ano passado, o custo foi revisto para R$ 14,9 bilhões e sua entrega ficou para 2018 – por enquanto.

Sobre a confiabilidade de eólica e solar, a experiência internacional recente mostra que as redes de transmissão se adequam facilmente a fontes dinâmicas enquanto a energia nuclear segue como opção de resposta lenta para o despacho do sistema. Angra 1 segue com seu apelido de “vagalume“ devido à intermitência do fornecimento de energia.

“Energia nuclear não é 100% segura, além de ser muito mais cara do que se divulga. Também não é a fonte do futuro, basta olhar dados de 2014 mostrando que foram instalados em todo o mundo 95 GW de energias renováveis, contra 5 GW de nuclear”, continua Almeida. “Já passou da hora dos governantes abandonarem essa energia perigosa e investirem nas energias do século XXI. Solar e eólica são a melhor solução para uma matriz energética mais limpa e segura.”

 

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