É urgente frear o desmatamento, retirar a destruição do meio ambiente da cadeia da pecuária e incentivar o pequeno produtor se quisermos um Brasil mais justo e com comida no prato em 2023
São Paulo, 20 de outubro de 2022 – Desde o início de 2019, o Brasil assiste a um desmonte generalizado da agenda socioambiental, o que levou à explosão do desmatamento (apenas em setembro, foram 1.455 km², maior devastação para o mês já registrada pelo Inpe), das queimadas e da ilegalidade em uma escala sem precedentes desde a redemocratização. Tal cenário gerou impactos no clima – em 2021 o país teve a sua pior seca em mais de 90 anos, com graves impactos na produção de alimentos e na conta de luz, que já é a segunda mais cara do mundo – e no acirramento da desigualdade social: a pobreza aumentou, o preço dos alimentos disparou e o Brasil voltou para o Mapa da Fome – estima-se que 33 milhões de pessoas estejam passando fome neste exato momento.
Há quem culpe a pandemia de covid-19 pela alta absurda no preço dos alimentos em 2022, mas não é bem assim. A combinação entre o negacionismo climático, um modelo de agronegócio baseado na destruição do meio ambiente e o avanço do desmatamento contribui diretamente para o avanço da fome no Brasil.
“Vivemos uma crise climática que se manifesta ano a ano em eventos extremos cada vez mais graves e nenhuma medida de enfrentamento às causas e aos impactos dessa crise são tomadas. Se o país não adaptar o seu sistema elétrico para esse cenário, com mais inserção de renováveis e menos termelétricas, a conta de luz vai seguir subindo e puxando a inflação. E, se o desmatamento não for combatido imediatamente, secas severas serão cada vez mais comuns, causando quebras de safra e crises de abastecimento dos reservatórios de hidrelétricas e até de água para consumo humano. Estamos em um ciclo vicioso, que encarece o alimento e a energia, e a conta quem paga é a população – que já padece com problemas estruturais graves.”, destaca Marcelo Laterman, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.
A seca registrada no ano passado, por sua vez, tem forte ligação com as mudanças climáticas e o desmatamento na Amazônia, que tem batido um recorde atrás do outro desde 2019. “Se por um lado a floresta funciona como uma bomba de umidade na atmosfera, o desmatamento tem efeito contrário no clima, alterando o regime de chuvas em todo o país”, acrescenta.
Por fim, o problema da alta dos alimentos também tem ligação com a política de incentivo ao agronegócio em detrimento da agricultura, o que tem reduzido nossa área de plantio de alimentos. Segundo dados do IBGE, entre 1988 e 2020, enquanto a área de soja (carro-chefe do agronegócio) aumentou 576%, as áreas de plantio de arroz e feijão diminuíram em 73% e 54%, respectivamente. Vale lembrar que os responsáveis pela produção do arroz e feijão no país são os pequenos agricultores, que perderam linhas de crédito e programas de incentivo no governo Bolsonaro.
“Diante dessa situação, precisamos ser realistas e priorizar ações que resolvam as urgências de quem está em situação de vulnerabilidade. Acreditamos que a solução para os problemas mais urgentes passam pelo fortalecimento da agricultura familiar de base ecológica; pelo incentivo da desconcentração de terra; e por uma transição energética justa que dê prioridade às fontes renováveis, como a solar e a eólica”, finaliza Laterman.
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