Lideranças indígenas dos povos Kayapó, Munduruku e Yanomami levam até Genebra o pedido pelo fim do mercúrio e do garimpo nos territórios.

O garimpo é uma ameaça à vida dos povos indígenas e é um problema de saúde pública que atravessa as fronteiras do território amazônico. É com essa mensagem que as lideranças Jairo Saw Munduruku, Junior Hekurari Yanomami e Doto Takak-Ire Kayapó participam da COP-6 da Convenção de Minamata sobre Mercúrio, que acontece de 3 a 7 de novembro de 2025, em Genebra, na Suíça.
A reunião reúne países signatários do tratado internacional que busca eliminar gradualmente o uso do mercúrio em produtos e processos industriais, controlar seu descarte e proteger a saúde humana e o meio ambiente. A convenção foi adotada em 2013, em homenagem à cidade japonesa de Minamata, onde a contaminação por mercúrio despejado por uma fábrica nas águas da baía da cidade, causou uma tragédia sanitária e ambiental que marcou o século XX.
Hoje, mais de meio século depois, o mercúrio volta a ameaçar vidas, desta vez, na Amazônia. Nos territórios indígenas Munduruku, Yanomami e Kayapó, o garimpo avança, contaminando rios, solos e corpos com mercúrio usado na extração do ouro. O índice de contaminação nos Munduruku é um dos mais altos do país. Segundo uma pesquisa feita em 2019 pela Fiocruz, cerca de 57,9% apresentaram níveis de mercúrio acima do limite máximo de segurança estabelecido por órgãos de saúde internacionais, como a agência ambiental americana (EPA-US, na sigla em inglês) e a OMS (Organização Mundial da Saúde).
O levantamento analisou indivíduos de dez aldeias do médio e alto Tapajós, e a concentração mais elevada foi observada em mulheres e crianças. Outro estudo produzido em conjunto pelo Greenpeace Brasil, Fiocruz, WWF e ISA (Instituto Socioambiental), apontou que 21% dos peixes vendidos em feiras livres na Amazônia têm alto índice de mercúrio. A análise incluiu 1.010 espécies em 17 municípios de seis estados da Amazônia Legal, dentre eles Itaituba e Santarém, na região do Tapajós.
“Nós precisamos de um equilíbrio, um equilíbrio justo, político, econômico e social. Queremos ser ouvidos, não os nossos líderes decidirem por nós, porque eles precisam ouvir as populações tradicionais que estão nos territórios. É triste ver a cena das nossas crianças tão felizes brincando no rio contaminado por mercúrio. Eu quero que vocês se sensibilizem pela vida. Nós lutamos não só em prol das nossas vidas, mas em prol da humanidade. A Amazônia é de todos, é do mundo e ela precisa ser protegida, seus povos precisam ser protegidos”, discursou Jairo Saw Munduruku durante plenária do evento.

Além da contaminação, as lideranças alertam para outros impactos trazidos pelo garimpo: insegurança alimentar, violência, presença de facções criminosas, aliciamento de jovens, destruição da biodiversidade e perda das áreas de caça, pesca e roça.
Aliança pela vida e pelos territórios
As três lideranças participam da COP representando a Aliança em Defesa dos Territórios, que reúne organizações indígenas, entre elas a Hutukara Associação Yanomami, a Urihi Associação Yanomami, o Instituto Raoni, o Instituto Kabu, a Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn, a Associação Indígena Pariri e tem apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e do Greenpeace Brasil.
O grupo atua em incidência política nacional e internacional para denunciar os impactos do garimpo e exigir políticas públicas efetivas de desintrusão e recuperação dos territórios.
“Minamata foi o alerta que o mundo não ouviu. Hoje, a Amazônia vive o mesmo drama: corpos contaminados, rios mortos, florestas destruídas. A diferença é que ainda há tempo de mudar o curso da história. E essa mudança começa com a superação do garimpo e o fortalecimento de uma economia capaz de conviver com a floresta, superar a pobreza e respeitar os direitos humanos ”, afirma Danicley Aguiar, porta-voz do Greenpeace Brasil.

De Genebra à Belém
A agenda da Aliança segue até a COP30, que será realizada em Belém, em novembro de 2025, onde o grupo pretende reforçar o chamado por uma Amazônia Livre de Garimpo em uma série de ações de incidência política. Um dos eventos centrais será a exibição do documentário “Amazônia: A Nova Minamata?”, realizado pela Aliança em Defesa dos Territórios, Greenpeace Brasil e Oceans Films.
A exibição especial acontecerá no Cine Líbero Luxardo, seguida de um cine-debate com grandes lideranças indígenas como Alessandra Munduruku, Davi Kopenawa e Raoni Metuktire, um momento de reflexão e diálogo sobre os desafios do combate ao garimpo na Amazônia.
Proteger a Amazônia é assegurar o futuro do planeta. A proteção das Terras Indígenas e das Unidades de Conservação é fundamental para a manutenção do equilíbrio climático, da biodiversidade e da dignidade dos povos que vivem na floresta. Diante das ameaças crescentes do garimpo ilegal, é imprescindível fortalecer o compromisso coletivo com a proteção da Amazônia. Assine a petição Amazônia Livre de Garimpo e reafirme seu apoio à defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos da floresta.
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