Estamos nos aproximando do final de 2025 – um ano que antes era um marco distante, usado para estabelecer metas ambientais e promessas de um mundo mais limpo e verde. Agora, dez anos após o Acordo de Paris sobre o clima e logo após a conclusão da COP30 em Belém, chegamos a um momento que parece urgente e repleto de possibilidades, mas ainda temos a sensação de estarmos estagnados. E certamente não estamos progredindo com a rapidez necessária em relação às ODS (Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, acordados por todos os 193 membros das Nações Unidas em 2015.

O icônico navio do Greenpeace, Rainbow Warrior, em Belém, cidade anfitriã da COP30.
© Filipe Bispo / Greenpeace

Estamos vivendo um momento em que múltiplas crises se sobrepõem: instabilidades geopolíticas, metas climáticas não cumpridas e compromissos futuros que parecem cada vez mais distantes da realidade. As forças que alimentam a degradação seguem pressionando o mundo rumo a um cenário de crise contínua, desde corporações de combustíveis fósseis, da agricultura industrial e das indústrias extrativas até grandes empresas de tecnologia e atores políticos que enfraquecem a responsabilização e promovem a divisão.

Mas uma coisa é certa: em tempos difíceis, a esperança é um ato de resistência. No Greenpeace, sabemos que a ação coletiva – que transcende fronteiras e gerações – alimenta a esperança. Como parte de uma onda crescente de pessoas que exigem dignidade, justiça, segurança e renovação social e ecológica, seguimos com esperança.

Apesar dos contratempos e das dificuldades muitas vezes esmagadoras, muita coisa boa ainda está acontecendo. A mudança está se desenrolando – às vezes de forma silenciosa, às vezes com ousadia – impulsionada pelas pessoas e suas comunidades, com coragem e cuidado uns pelos outros e pelo planeta.

A negatividade é fácil de ver e sentir, mas a positividade é poderosa, e é ela que nos mantém avançando e impulsionando o futuro rumo a um cenário melhor para todos nós.

Com o fim do ano se aproximando, temos a oportunidade de refletir sobre o ano que vivemos, além de agradecer pelo progresso alcançado pelo poder popular. Por isso, estamos aqui para compartilhar algumas de nossas vitórias mais significativas do ano – conquistas que comprovam que o progresso é real, a esperança é justificada e a ação importa.

1. Tratado Global dos Oceanos entrará em vigor!

Greenpeace Turquia organizou uma campanha com imagens digitais para exigir a ratificação da Carta Global dos Oceanos. As baleias, os golfinhos e as raias ajudaram a tornar visível o apelo pela ratificação do Tratado Global dos Oceanos.
© Caner Özkan / Greenpeace

O Tratado Global dos Oceanos alcançou sua 60ª ratificação em setembro de 2025, abrindo caminho para que entre em vigor em janeiro. Com apenas 0,9% do alto mar totalmente ou altamente protegido nos dias de hoje, o tratado é crucial para expandir sua proteção, estabelecer santuários que ajudem a mitigar a crise climática e resguardar a segurança alimentar para bilhões de pessoas que dependem de recursos oceânicos.

É um momento histórico para a proteção dos oceanos e uma prova de que os países podem se unir para proteger o planeta. A era da exploração e da destruição precisa acabar, e o Tratado Global dos Oceanos é a ferramenta para que isso aconteça. Esta é uma conquista enorme – fruto de décadas de trabalho – para todos os apoiadores e aliados que se juntaram pela proteção dos oceanos. Ativistas, comunidades costeiras, pescadores artesanais, cientistas e amantes do oceano em todo o mundo podem levar esse momento como prova de que, quando milhões de nós exigimos mudanças, podemos alcançar o que antes parecia um sonho distante.

Mas a luta pela proteção dos oceanos está longe de terminar. Os cientistas são claros: precisamos proteger pelo menos 30% deles até 2030. Governos de todo o mundo devem aproveitar esse momento para garantir que a primeira “COP dos Oceanos”, marcada para 2026, se torne um ponto de virada e, assim, comecem a desenvolver planos para os primeiros santuários previstos no novo tratado. Nossos oceanos não podem esperar, e nós também não.

2. Raja Ampat: vitória para ‘o último paraíso na terra’

Ativistas do Greenpeace Indonésia com uma faixa que dizia “Salve Raja Ampat, pare o níquel” e “Salve a Floresta de Papua”, tendo como plano de fundo a icônica formação de ilhas cársticas de Piaynemo, em Raja Ampat.
© Nita / Greenpeace

Em junho, o governo da Indonésia anunciou a revogação de quatro das cinco licenças de mineração de níquel em vigor em Raja Ampat, na Papua Ocidental, após crescente atividade mineradora no arquipélago. Dezenas de milhares de pessoas assinaram e publicaram mensagens pela campanha #SalveRajaAmpat em poucos dias.

Embora o anúncio do governo represente um avanço significativo, ele ainda não garante a proteção integral de Raja Ampat. A licença para a mina com maior tamanho permanece em vigor, e a última experiência demonstra que licenças revogadas podem ser restabelecidas. Juntamente com as comunidades locais e os povos indígenas da Papua Ocidental, o Greenpeace segue pressionando pelo cancelamento permanente de todas as licenças de mineração, a prevenção do desenvolvimento de minas de níquel e funções ligadas a Raja Ampat e a implementação de proteções legais robustas para garantir que a atividade de mineração não volte a acontecer.

Essa decisão demonstra o impacto de uma investigação contínua, da resistência dos povos indígenas e da pressão pública, representando um passo importante para a proteção de uma das regiões com maior biodiversidade do mundo.

3. Suprema Corte concede proteções históricas para comunidades afetadas pelas mudanças climáticas

Duzentas mulheres reunidas no Monte Yasur, um vulcão ativo na ilha de Tanna, em Vanuatu, segurando cartazes,
pedindo por justiça climática no Pacífico.

© Greenpeace

Após seis anos de campanha liderada por 27 estudantes do curso de Direito nas Ilhas do Pacífico, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu, em julho, um parecer consultivo histórico que reforça as obrigações dos Estados na emergência climática, indo além do Acordo de Paris.

O parecer confirma que todos os países têm o dever de prevenir danos ambientais significativos e que os Estados devem regulamentar empresas pelos danos causados ​​por suas emissões, independentemente de onde esses danos ocorram. A Corte também reafirmou que o direito a um ambiente limpo, saudável e sustentável é fundamental para todos os outros direitos humanos.

Esse parecer consultivo sinaliza uma nova era de justiça climática global. Ao definir claramente os deveres climáticos internacionais dos Estados e as consequências de seu descumprimento, a CIJ abre caminho para novos casos que podem levar à justiça as comunidades que sofrem os piores impactos de uma crise para a qual pouco contribuíram.

A mensagem da Corte é clara: a produção e o consumo de combustíveis fósseis, bem como a concessão de licenças e subsídios, podem violar o direito internacional, e os principais poluidores devem cessar suas emissões e indenizar pelos danos causados.

4. Julgamento histórico sobre greenwashing responsabiliza gigante petroleira

250 ativistas paralisaram as atividades da TotalEnergies exigindo compromissos imediatos e concretos de seu CEO, Patrick Pouyanné, sobre a retirada da TotalEnergies da Rússia e o fim de todos os novos projetos de combustíveis fósseis, como o EACOP em Uganda e o Mozambique LNG.
© Basile Barjon / Greenpeace

Em outubro, o tribunal de Paris proferiu uma decisão importante contra a publicidade enganosa da empresa TotalEnergies. O caso, movido pela ONG Friends of the Earth France, pelo Greenpeace França e a Notre Affaire à Tous, com o apoio da ClientEarth, questionou as tentativas da empresa de se apresentar como uma agente climática responsável enquanto continua a expansão de suas atividades com combustíveis fósseis.

A TotalEnergies alegava em seus anúncios que colocava o “clima no centro de sua estratégia” e que pretendia fornecer “energia mais limpa, segura e acessível”, destacando sua ambição de atingir emissões líquidas zero até 2050. O Tribunal considerou que essas alegações provavelmente induziriam os consumidores ao erro, observando que a empresa está simultaneamente aumentando sua produção e investimento em petróleo e gás – uma trajetória incompatível com as recomendações científicas do Acordo de Paris, que exigem uma redução imediata na produção de combustíveis fósseis.

Essa sentença é a primeira a reconhecer a mensagem de emissões líquidas zero da indústria petrolífera como greenwashing. Ela representa um passo importante para responsabilizar os principais poluidores por enganar seus consumidores e atrasar ações climáticas reais.

5. Um grande passo rumo à soberania da agricultura no Quênia

Consumidores e pequenos agricultores entregaram uma petição ao Parlamento e ao Ministério da Agricultura, solicitando uma reformulação do sistema alimentar do Quênia.

© Paul Basweti / Greenpeace

Em novembro, o tribunal queniano proferiu uma sentença histórica declarando legal a partilha de sementes entre agricultores, representando uma vitória significativa para os pequenos agricultores e seus aliados na defesa da soberania alimentar na África.

Durante anos, os agricultores quenianos viveram sob a sombra de uma lei que previa penas de prisão de até dois anos e multa de 1 milhão de xelins quenianos (cerca de U$ 7.800 dólares americanos) para quem vendesse ou trocasse sementes não registadas, concedendo, na prática, o controle do sistema alimentar do país para empresas multinacionais.

Essa decisão histórica protege as práticas agrícolas tradicionais e o direito dos pequenos agricultores de guardar, trocar e plantar sementes livremente, desafiando o controle corporativo sobre recursos agrícolas.

O veredicto reforça os sistemas comunitários de sementes que têm sustentado a segurança alimentar durante gerações, estabelecendo um precedente importante na defesa dos direitos dos agricultores e da biodiversidade contra leis restritivas que favorecem as grandes empresas agroquímicas.

6. Banco do Brasil e o fim do financiamento público na destruição da Amazônia

Greenpeace Brasil destacando o papel urgente do sistema financeiro em impedir o financiamento para a destruição ambiental, que, por sua vez, alimenta a emergência climática e a crise da biodiversidade.
© Tuane Fernandes / Greenpeace

Após meses de pressão pública, o Banco do Brasil atualizou suas normas ambientais e sociais para a liberação de crédito rural. O banco agora bloqueará empréstimos para qualquer propriedade rural com embargos ambientais, exigirá comprovação de que qualquer desmatamento foi legal e consultará as listas de embargos estaduais, mesmo que não constem no sistema federal.

Essas mudanças atendem a demandas importantes do Greenpeace Brasil, que demonstrou como as normas frágeis permitiam que dinheiro público financiasse desmatamento, queimadas e outros danos ambientais no país.

A atualização é um passo importante, mas ainda há muito a ser feito. O banco ainda não impede totalmente o crédito para propriedades rurais que utilizam queimadas ilegais e não exige rastreabilidade clara no financiamento da pecuária – um dos principais motores do desmatamento. Mesmo assim, a pressão da sociedade, as investigações e as ações públicas já trouxeram resultados concretos e deixaram uma mensagem forte: o dinheiro público não pode continuar financiando atividades que destroem florestas.

Junte-se a nós para proteger a Amazônia e todas as florestas do mundo.

7. Jovens ambientalistas cobram responsabilidade da Noruega sobre a exploração de petróleo

Greenpeace Noruega e a Natur og Ungdom reuniram-se no Supremo Tribunal, enfrentando o governo norueguês.

© Ludvik Baksaas / Greenpeace

Em maio, o Tribunal da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) confirmou que a Noruega deve contabilizar todos os impactos climáticos ao aprovar novos projetos de petróleo e gás – não apenas as emissões da perfuração, mas também as emissões liberadas, que são muito maiores quando o petróleo e o gás são queimados em qualquer lugar do mundo. Essa decisão corroborou o caso apresentado pelo Greenpeace Nórdico e pela Natur og Ungdom, demonstrando que o governo norueguês errou ao ignorar essas emissões de “Escopo III”, que representam cerca de 95% dos danos climáticos de um projeto.

A decisão tem consequências importantes para todas as futuras aprovações de combustíveis fósseis na Noruega e em toda a Europa. Os tribunais reconheceram que proteger as pessoas dos danos climáticos é um dever legal, não uma opção. A decisão segue decisões semelhantes no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Guiana, e fortaleceu uma vitória anterior no Tribunal Distrital de Oslo, onde a aprovação de três projetos de petróleo e gás no mar do Norte foi considerada inválida por não avaliar essas emissões.

O governo norueguês recorreu da decisão anterior, mas em novembro o Tribunal de Apelação de Borgarting decidiu novamente a nosso favor, reafirmando o que o Tribunal Distrital de Oslo, o Tribunal da EFTA e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos já haviam deixado claro: os governos devem avaliar todos os impactos climáticos dos projetos de petróleo e gás, incluindo as emissões causadas pela queima desses combustíveis no exterior. Essa é uma grande vitória para todos que lutam por um futuro mais seguro, provando que nossa luta por justiça climática tem força real.

8. O fim da exploração de petróleo e gás no Reino Unido

Escaladores do Greenpeace instalam uma nova e importante obra do artista Anish Kapoor, intitulada BUTCHERED, em uma plataforma da Shell no Mar do Norte.

© Andrew McConnell / Greenpeace

Em novembro, o governo do Reino Unido encerrou a exploração de petróleo e gás no Mar do Norte. Com isso, a Grã-Bretanha se torna a maior economia a acabar com a exploração de combustíveis fósseis. Após quase três décadas de campanhas – desde ativistas agarrados a plataformas de petróleo em meio a tempestades no Ártico, até advogados desmantelando decisões governamentais – esse é um momento histórico para o movimento climático e uma vitória que antes parecia impossível. O Greenpeace Reino Unido iniciou sua campanha sobre a questão das licenças de exploração de petróleo em 1997!

Isso não significa que toda a produção de petróleo e gás terminará de forma imediata, mas o fim das licenças de exploração significa que as empresas não poderão mais obter permissão para buscar novas reservas de petróleo e gás em áreas anteriormente inexploradas. Mas ainda assim é uma grande mudança. Cada novo campo descoberto mantém o Reino Unido a décadas de mais perfurações, mais queimadas e mais danos, e essa decisão interrompe esse ciclo.

Assim, os campos existentes no Mar do Norte, no Reino Unido, continuarão produzindo até seu fim, ou até que a produção seja interrompida por algum outro motivo. Mas, sem novas descobertas, a produção diminuirá constantemente até chegar a zero. A era dos combustíveis fósseis no Mar do Norte acabou, e é exatamente disso que o clima precisa. Mais países devem seguir o exemplo para garantir uma transição justa e rápida para a energia limpa.

Mas calma, ainda tem mais…

Essas são apenas algumas das vitórias que queremos lembrar e valorizar nesse final de ano. Mas existem muitas outras que não mencionamos aqui, igualmente importantes, que nos mostram que o movimento ambientalista, unido, pode de fato gerar mudanças reais. Não é fácil, às vezes a mudança não é imediata, mas estamos fazendo isso todos os dias.

Esperamos que possamos inspirar vocês com esperança e alegria, em vez de pessimismo e desânimo. Continuaremos nossas ações em 2026 e contamos com a sua ajuda. Juntos, podemos fazer a diferença.

E se algum dia você se sentir sobrecarregado pela imensidão do mundo em que vivemos hoje, saiba que você tem uma escolha. Você pode escolher entre alimentar a negatividade que o oprime ou celebrar o que existe de bom e se cercar de ações concretas e progresso, por menor que seja. Um momento de reflexão, uma respiração profunda e meditação também podem ajudar se você estiver lutando contra a ansiedade climática.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação mensal hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!