A primeira mulher e brasileira a liderar a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos acredita na conciliação entre mineração no leito marinho e proteção ambiental, mas reconhece que inevitavelmente “haverá sacrifícios”
No início do mês, Leticia Carvalho, oceanógrafa, foi eleita para assumir o Secretariado Geral da Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos. Nos 30 anos da instituição, a eleição de Carvalho marca três ineditismos importantes: é a primeira vez que uma mulher ocupa esse cargo, é também a primeira pessoa latino-americana e a primeira cientista na posição de Secretária Geral da ISA.
Sua visão de conciliar mineração em alto-mar com a proteção ambiental promete uma nova direção para a organização, mas não sem controvérsias.
O perfil de Leticia Carvalho
A oceanógrafa defende que é possível desenvolver um código de mineração sustentável que proteja o meio ambiente, mas reconhece que “haverá sacrifícios”. Essa postura contrasta com a visão de muitos ambientalistas, que veem a mineração em alto-mar como uma ameaça irreversível aos ecossistemas marinhos. A tensão entre desenvolvimento e conservação será um dos maiores desafios de sua gestão.
“A mineração em águas profundas representa uma ameaça irreversível aos ecossistemas marinhos. Não há possibilidade de uma ‘mineração sustentável’ nessas regiões tão sensíveis, do ponto de vista biológico. Qualquer sacrifício imposto aos oceanos é um preço alto demais a se pagar, especialmente quando tratamos das espécies que vivem neste habitat, das mitigações acerca das mudanças do clima e das comunidades tradicionais costeiras que vivem da subsistência das águas. Os governos devem priorizar a proteção e a conservação dos nossos mares e oceanos, em vez de explorar seus recursos de forma irreversível”, comenta Denison Ferreira, porta-voz da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil.
Placar: 79X35
Com quase duas décadas de experiência no setor regulatório no Brasil e cinco anos no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Letícia Carvalho acumulou uma trajetória sólida e respeitada. Atualmente, como Coordenadora Principal do Ramo Marinho e de Água Doce do PNUMA, ela atua pela sustentabilidade dos recursos hídricos globais.
Letícia venceu Michael Lodge, que estava no cargo há oito anos, com uma votação expressiva de 79 contra 35. Uma vitória da ciência sobre a indústria predatória. O britânico é ligado à indústria de mineração e de acordo com fontes do conselho administrativo da ISA ouvidas pelo jornal New York Times, Lodge estava tentando acelerar o começo da mineração em escala industrial no fundo do Oceano Pacífico.
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos é responsável pela gestão dos recursos dos fundos marinhos além das jurisdições nacionais. A eleição da cientista surge em um momento crítico, com a crescente demanda por recursos minerais para tecnologias como baterias de carros elétricos, colocando a mineração em alto-mar sob os holofotes.
Mais ciência no fundo do mar
Dentre suas propostas, estão listadas como prioritárias mais transparência e responsabilidade na gestão da Autoridade, além de maior inclusão científica nos processos decisórios. Ela enfatiza a necessidade da ISA se alinhar com as melhores práticas da ONU e de assegurar uma participação mais equilibrada dos países membros, garantindo que todos tenham acesso igualitário ao conhecimento científico.
A eleição de Letícia Carvalho para a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos é um passo importante, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Precisamos parar a mineração em águas profundas para proteger nossos ecossistemas marinhos. Assine nosso abaixo-assinado #ParemÀMineraçãoEmÁguasProfundas e junte-se a nós na defesa dos oceanos!
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