Ferramenta de georreferenciamento monitora o avanço do desmatamento e do garimpo ilegal por meio de dados enviados por satélites em tempo quase real

Monitorar as diferentes formas em que a Amazônia vem sendo destruída e ter todas as informações necessárias sobre o tamanho dessa destruição, o mais rápido possível, é o primeiro passo para protegê-la.

Foi com esse objetivo que o Greenpeace Brasil desenvolveu o Papa Alpha, uma ferramenta criada para receber, de maneira rápida, alertas emitidos a partir da captação da imagem por satélites que permite a detecção da ação de destruição da floresta – seja ela desmatamento, queimada ou garimpo ilegal.

“Por meio desse sistema, conseguimos monitorar de perto qualquer perturbação da floresta, ir a campo com assertividade para registrá-las e expor essas atividades ilegais na Amazônia a nível internacional”, explica Nilo D’Avila, pesquisador sênior do Greenpeace Brasil.

“O Papa Alpha é fundamental para o trabalho da área e tem ocupado um papel importante no apoio às campanhas em defesa do bioma e de seus povos”, ressalta D’Avila.

Imagens via satélites capturadas pelo Papa Alpha e posteriormente analisados pelo time de Pesquisas do Greenpeace Brasil (Imagem: Nilo D’Avila/Greenpeace Brasil)

Como o Papa Alpha funciona?

O Papa Alpha correlaciona e processa informações de dois alertas diferentes, desenvolvidos para monitorar perturbações em florestas tropicais. Ambos utilizam dados de satélite mas apresentam tecnologias diferentes.

O primeiro usa a tecnologia GLAD (Global Land Analysis and Discovery), criada pela Universidade de Maryland, que consiste em um sistema para detectar mudanças nas florestas tropicais úmidas a cada 5 dias, dependendo da região.

O dispositivo apresenta imagens de satélites convencionais, que são mais fáceis de interpretar visualmente, e geralmente são chamados de “sensores ópticos”. A tecnologia GLAD emite alertas vermelhos quando há alterações em áreas de 30×30 metros. O sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por exemplo, emite alertas a partir de 250×250 metros de área danificada. 

Além dos alertas dessa tecnologia serem mais rápidos e apresentar imagens com melhor definição, eles também são disponibilizados com maior rapidez. Ou seja: com a GLAD, é possível identificar e frear o desmatamento antes que ele cresça a partir de notificações semanais.

O segundo sistema de alertas utilizado pelo Papa Alpha é o RADD, sigla para Radar for Detecting Deforestation. Ele tem a mesma função das imagens via satélite, mas permite “ver através das nuvens”, apresentando uma informação ainda mais precisa já que as imagens de radar funcionam como um raio-x e não sofrem interferência em dias mais nublados.

Esse alerta utiliza dados do satélite Sentinel-1 da Agência Espacial Europeia, que utiliza uma metodologia de detecção produzida pelo Laboratório de Ciências da Geoinformação e Deteção Remota da Universidade de Wageningen (WUR), Holanda, e que possibilita a identificação de perturbações florestais em tempo quase real. 

Essa metodologia é particularmente vantajosa no monitoramento das florestas tropicais, uma vez que o radar de penetração de nuvens do Sentinel-1 e os tempos de revista frequentes permitem um monitoramento mais consistente.

Enquanto o GLADD usa imagens ópticas, o RADD se baseia em imagens de radar, em preto e branco e, por serem mais técnicas, geralmente exigem interpretação de especialistas.

No Papa Alpha, esses dados viram apenas um produto final”, detalha Bianca Cavalcante, pesquisadora do Greenpeace Brasil. “O sistema já processa os alertas relacionados com lugares determinados como UCs e Terras Indígenas, para mostrar diretamente o resultado das mudanças entre o ‘antes e depois’, sem a necessidade de interpretar as imagens brutas”.

Diferenciais 

Uma outra inovação do Papa Alpha é que ele permite a visualização da abertura de novas estradas na floresta, o que normalmente indica o avanço do desmatamento na região. Por demandar mais tempo, a abertura de ramais é muito mais difícil de ser monitorada por outros sistemas.

Após as tecnologias captarem mudanças na cobertura florestal, os alertas são disponibilizados e enviados de forma automatizada para a ferramenta. Os dados são estudados pelo time de pesquisa do Greenpeace Brasil para interpretação, identificação e classificação dos alertas.

Sendo assim, o Papa Alpha garante agilidade ao acesso à informação com um intervalo menor de tempo, qualificando o monitoramento da Amazônia. Sistemas como Deter, Prodes e Map Biomas são importantíssimos e auxiliam a potencializar as análises. 

Por ser mantido por uma organização do terceiro setor de maneira independente, o sistema de monitoramento do Greenpeace Brasil também é uma segurança frente a possíveis “apagões de dados”.

As versões do Papa Alpha

A primeira versão da ferramenta, o Papa Alpha Amacro, teve como prioridade o monitoramento do desmatamento na região do Amazonas, Acre e Rondônia. Esse primeiro modelo ajudou o Greenpeace Brasil a melhorar a interpretação dos alertas e os aprendizados de programação utilizando o Google Earth Engineer.

A partir de então, outras três versões foram pensadas e aprimoradas, sendo possível realizar buscas com objetivos específicos.

O Papa Alpha Amazônia, destinado a monitorar o desmatamento e exploração em toda a Amazônia, tem como diferencial o foco nas origens do desmatamento – agricultura, pastagens ou garimpo. Já o Papa Alpha Prodes é destinado a relacionar a taxa anual de desmatamento em relação à propriedade e áreas protegidas.

Outra importante versão é o Papa Alpha Garimpo, que possibilita o monitoramento do garimpo nas terras indígenas mais afetadas pela atividade ilegal atualmente: Munduruku, Yanomami e Kayapó.

O que é possível fazer com o Papa Alpha?

Há inúmeras possibilidades de análises a partir dos dados disponibilizados pelo Papa Alpha. É possível, por exemplo, sobrepor informações de áreas desmatadas ou de exploração ilegal de madeira com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou informações do Incra.

A partir do Papa Alpha também é possível identificar se determinada área é uma floresta pública não destinada, Unidade de Conservação ou uma Terra Indígena. 

Resumindo, a ferramenta permite o acesso à informação a partir de um clique. Ao acessar o alerta o usuário recebe informações sobre a situação fundiária do local (terra pública ou privada, unidade de conservação, terra indígena); data do alerta, coordenada geográfica. Além disso, é possível gerar uma linha do tempo com até 30 imagens do satélite para analisar a evolução ou não da alteração no local.

O tempo da atualização de dados depende muito da região, mas geralmente as informações são atualizadas entre 6 a 11 dias.

O Papa Alpha pode ser utilizado por jornalistas, organizações socioambientais e até mesmo por pessoas que não possuem conhecimento aprofundado em geoprocessamento. 

Para ter acesso, envie um email para [email protected].

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