© Marie Jacquemin / Greenpeace

A contagem regressiva para COP30 já começou, e o clima, em todos os sentidos, anda fervendo. Com Belém prestes a virar o centro do mundo, a pergunta que não quer calar é: o que realmente precisa sair do papel nessa edição histórica da Conferência do Clima?

Afinal, não é todo dia que quase 200 países se reúnem no coração da maior floresta tropical do planeta. E essa coincidência geográfica não é detalhe: é uma chance única de colocar as florestas no centro da conversa global sobre clima.

Mesmo sendo protagonistas silenciosas da estabilidade climática, as florestas ainda são tratadas como coadjuvantes nas negociações de clima da ONU. Logo elas, que absorvem bilhões de toneladas de carbono, regulam as chuvas, abrigam biodiversidade, são chave na adaptação climática e sustentam milhões de vidas.

Por isso, o desafio (e a esperança) é que a COP30, sediada no coração da Amazônia, seja o ponto de virada: o momento em que as florestas e os povos que as protegem deixem de ser pano de fundo e ganhem o destaque que merecem – junto com temas como financiamento climático, adaptação e transição para longe dos combustíveis fósseis. Há uma expectativa real de que isso aconteça, especialmente com o avanço das conversas sobre a necessária sinergia entre as três convenções criadas lá no Rio-92: Clima, Biodiversidade e Desertificação. Mas quem já viu o enredo de uma COP sabe bem: nas negociações internacionais, o script muda até o último segundo.

Um dos capítulos mais aguardados dessa novela climática é a cobrança por um plano de ação global pras florestas. Sim, a gente já ouviu promessas parecidas antes – lá na COP28, por exemplo, o mundo prometeu eliminar o desmatamento e a degradação florestal até 2030. Mas promessa sem plano é tipo novela sem o capítulo final.

Para a coisa realmente andar, e não virar só mais um “acordo da vez”, é preciso um plano concreto, bem amarrado e cheio de metas de verdade. E a COP30 pode ser o cenário ideal para fechar essa novela cheia de suspense e emoção. 

É lá que os países podem apresentar um plano que contemple alguns pontos que são o verdadeiro drama (e solução) desse enredo tão cheio de plot twists:

  • Colocar as florestas no centro do palco, com uma agenda de negociações própria e presença garantida nos planos nacionais de clima e adaptação dos países que têm florestas. Chega de tratar o tema como figurante: as florestas e seus povos precisam ter fala e destaque nas decisões.
  • Garantir o protagonismo dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais e Locais. São eles que seguram a linha de frente da conservação. Demarcar, titular e proteger seus territórios é a forma mais eficaz de manter a floresta em pé e valorizar seus saberes é reconhecer quem realmente entende de equilíbrio.
  • Mudar o fluxo do dinheiro. O financiamento climático precisa ir direto para quem faz a diferença nos territórios. Em vez de apostar todas as fichas no mercado de carbono, o foco deve estar em fundos que gerem benefícios sociais, de biodiversidade e climáticos reais.
  • Ir na raiz do problema: enfrentar as causas estruturais do desmatamento. A expansão de commodities de alto risco como soja, carne e óleo de palma continua empurrando a floresta para o limite. É hora de encarar essa conexão de frente e garantir uma transição justa, que ofereça alternativas sustentáveis de renda para quem vive da floresta.
  • Olho vivo nos dados. Fortalecer o monitoramento do desmatamento é essencial para garantir transparência e cobrar resultados. Relatórios internacionais, como o  balanço global e relatórios de transparência, ajudam a separar o discurso do que realmente acontece na prática.
  • Manter as florestas no topo da agenda política global. Isso significa garantir diálogo entre as Convenções do Clima, Biodiversidade e Desertificação e integrar de vez as metas nos planos nacionais de clima, adaptação e biodiversidade.
  • Nada de desculpa fóssil. O plano de ação precisa caminhar lado a lado com a transição energética, sem virar moeda de troca para compensar emissões de outros setores. Proteger a floresta não pode ser usado como cortina de fumaça para continuar queimando combustíveis fósseis.

Se esse plano de ação sair do papel, ele pode virar um marco no regime climático internacional, inspirando outras áreas, inclusive a da transição energética. Pode também reforçar políticas públicas, acelerar a criação de áreas protegidas e impulsionar a demarcação de terras indígenas e quilombolas.

E, claro, deixaria nas mãos do Brasil a oportunidade de entregar um legado histórico da Amazônia para o mundo: provar que proteger florestas não é apenas um discurso bonito, mas um compromisso real com o futuro da vida na Terra.

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