Mesmo com os avanços na proteção do bioma, Unidades de Conservação e Terras Indígenas ainda estão sob ameaça

No mês da Amazônia, é impossível não olhar para as ameaças que seguem devastando a floresta e os povos que nela vivem. O garimpo continua sendo uma ameaça à Amazônia devido à persistência de redes ilegais que avançam sobre os territórios, mesmo diante de operações de combate.
Essa atividade provoca devastação da floresta, contaminação dos rios por mercúrio, perda de biodiversidade e coloca em risco a vida dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Além disso, o garimpo está associado a ciclos de violência, exploração de trabalhadores e degradação social, comprometendo não apenas o equilíbrio ambiental da região, mas também o futuro climático do planeta.
Apesar dos avanços nas ações de proteção territorial, essa atividade predatória busca maneiras de sobreviver dentro da floresta, abrindo novas fronteiras de destruição.
Um novo monitoramento realizado pelo Greenpeace Brasil, mostra que a área ocupada pelo garimpo em Áreas Protegidas da Amazônia já soma 99.030 hectares, o equivalente a mais de duas vezes o território da cidade de Curitiba. Desse total, 31.333 hectares estão em Terras Indígenas e 67.697 hectares em Unidades de Conservação.
O garimpo, antes concentrado principalmente nas Terras Indígenas Munduruku, Kayapó e Yanomami, têm se espalhado para outros territórios, como na Terra Indígena Sararé. O território do povo Nambikwara, sozinho, concentrou 773 hectares de novas áreas desmatadas pela atividade, enquanto as demais registraram redução significativa da abertura de novas áreas após as ações de desintrusão sob a coordenação do Ministério dos Povos Indígenas.
Esse dado mostra que é possível frear a devastação. A floresta e os povos que nela vivem ganham fôlego diante da pressão e dos impactos deixados pela atividade.
A pressão da exploração ilegal de ouro sob outros territórios.
Todas as três Terras Indígenas abaixo apresentaram aumento na área de garimpo em comparação a dezembro de 2024, somando 179,35 hectares de floresta só em 2025. A T.I. Aripuanã/MT, registrou crescimento de 31%, seguida pela T.I. Zoró/MT (36%) e T.I. Sete de Setembro/RO e MT (9%). Essas áreas estão localizadas no chamado arco do desmatamento, onde pressões econômicas e conflitos fundiários se sobrepõem, ameaçando diretamente a integridade cultural e ambiental da região.
A Terra Indígena Sawré Muybu/PA, do povo Munduruku, situada na bacia do Tapajós, possui 178 mil hectares, dos quais cerca de 80% se sobrepõem à Floresta Nacional de Itaituba II. Embora em setembro de 2024, tenha sido assinada a portaria declaratória que reconhece oficialmente o território, uma etapa importante no processo de demarcação, a área voltou a ser alvo de garimpeiros e madeireiros. Em julho de 2025, o Greenpeace denunciou a abertura de 11 hectares de novas áreas de garimpo no local e, durante um sobrevoo, constatou a presença de quatro barracões, além de pequenas piscinas formadas pela atividade ilegal dentro do território.

Embora as demais Terras Indígenas registrem áreas relativamente pequenas de garimpo, o monitoramento contínuo desses territórios é fundamental para garantir ações preventivas. A implementação de medidas urgentes pode conter a expansão dessa atividade criminosa. Caso contrário, a presença dos garimpeiros tende a se enraizar, tornando sua retirada cada vez mais complexa e difícil no futuro.

Pressão crescente sobre as Unidades de Conservação
Nas Unidades de Conservação, o cenário também pede atenção. Entre julho de 2024 e junho de 2025, a área de garimpo cresceu 18%, saltando de 13.484 hectares para 15.932 hectares. A maior parte dessa pressão (13.410 hectares) está concentrada em áreas de “Uso Sustentável”, mas até mesmo as de “Proteção Integral” não escapam da ação predatória (2.522 hectares).
A Floresta Nacional do Amanã, no estado do Pará, segue no topo do ranking das mais impactadas. Em termos de crescimento percentual, o Parque Nacional dos Campos Amazônicos, localizado entre os estados do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, registrou um salto de 95,9% em apenas um ano, seguido pelo Parque Nacional do Rio Novo/PA, na bacia do Tapajós.
Metade das dez Unidades de Conservação mais atingidas pela atividade garimpeira se encontra em um raio de 50 km da Terra Indígena Munduruku, sugerindo-nos que garimpeiros expulsos das Terras Indígenas migraram para áreas protegidas vizinhas, explorando a mesma província mineral do Tapajós.

Um chamado de alerta
Não podemos esquecer que o garimpo não é apenas um problema ambiental. Ele destrói rios, contamina populações com mercúrio, viola direitos humanos, ameaça culturas milenares e fragiliza a biodiversidade de um dos maiores patrimônios do planeta.
As Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Amazônia formam um mosaico de vida que precisa ser defendido em sua totalidade. O avanço para novas áreas deve servir de alerta urgente: onde o garimpo entra, ele tende a se consolidar, e sua remoção pode se tornar cada vez mais difícil.
Proteger a Amazônia é garantir o futuro. Os sinais de recuperação vistos nas Terras Indígenas Yanomami, Munduruku e Kayapó demonstram que a luta dá resultados. Mas para que essa vitória parcial se torne uma virada definitiva, é necessário seguir denunciando, monitorando e agindo com urgência. Assine a petição Amazônia Livre de Garimpo e junte sua voz à luta pela proteção das Terras Indígenas, das Unidades de Conservação e de todo o povo da floresta.
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