Sem acesso a água potável e alimentos, comunidades isoladas em Tefé pedem socorro e recebem apoio da primeira missão da iniciativa Asas da Emergência em 2023

Asas da Emergência realizou a primeira entrega de cestas básicas a comunidades afetadas pela estiagem severa na Amazônia em Tefé, no Amazonas (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Entre os dias 4 e 8 de outubro o Greenpeace Brasil realizou a primeira missão da iniciativa Asas da Emergência 2023, que visa levar ajuda humanitária às populações mais afetadas pela estiagem histórica enfrentada na Amazônia e oferecer apoio logístico às organizações que vêm atuando na pesquisa sobre os impactos à fauna local. 

Nessa primeira viagem, estivemos no município de Tefé, no Amazonas. Foram transportadas três toneladas de alimentos para comunidades ribeirinhas e indígenas do município, além de pesquisadores, insumos e equipamentos em apoio à Operação Emergência Botos Tefé, liderada pelo Comando de Incidentes (CI) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Instituto Mamirauá, e que reúne as seguintes instituições: Sea Sheperd Brasil, GRAD Brasil, WWF-Brasil, Associação R3 Animal, Ong Aquasis, LAPCom/USP, Projeto Baleia Jubarte, Universidade Nilton Lins, Instituto Tamanduá. 

A vida sem rio

A seca histórica mudou a rotina na sede do município de Tefé. Na beira onde costumavam atracar grandes embarcações e balsas que abastecem o município, já não é mais possível encostar. O rio Tefé, que antes corria volumoso, dividiu-se em canais, entremeados por grandes bancos de areia, e agora uma imensa praia repleta de barcos e casas flutuantes encalhadas compõem um cenário de apocalipse.

A dificuldade de navegação já se reflete no preço de produtos, já que as cargas que antes eram desembarcadas diretamente na rua principal do município, em apenas uma viagem, agora são transportadas por catraias (pequenas embarcações de madeira) e voadeiras (embarcações de alumínio), que precisam realizar diversas viagens para descarregar uma única embarcação, o que aumenta o custo logístico e, consequentemente, o preço dos produtos para os consumidores do município. 

Ponciano Simão, de 59 anos, é agricultor, mas nesse momento, trocou a enxada pela catraia. Ele passa o dia transportando pessoas e produtos das embarcações maiores que não conseguem chegar até o porto. “Eu nunca tinha visto uma seca que nem essa desse ano. O ano passado secou bastante também, mas a desse ano está maior. Já faz uns 25 anos que eu moro em Tefé, já vou fazer 60 anos, e a pior seca que eu vi durante a minha vida é essa daqui”, afirma. Ponciano diz que muitos produtos já estão mais caros, como o açúcar, por exemplo, que era encontrado por R$ 3 em média, e agora é vendido por até R$ 5,50. 

Para o encarregado por uma embarcação de passageiros, Luiz Nunes de Moura, de 41 anos, o perigo da navegação fez com que as operações fossem canceladas, faz 15 dias que seu barco regional está atracado no porto, sem possibilidade de sair. Sem viagens, ele e seus nove funcionários estão sem fonte de renda.

O leito por onde corria o rio Tefé, próximo à comunidade Porto Praia, se transformou em um grande areal. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Crise humanitária 

Para quem mora em áreas mais isoladas, além da falta de renda e do preço das coisas, falta acesso ao básico, como água e comida. É o caso da agricultora Ana Carla Pereira da Silva, que vive na Comunidade São Sebastião do Turé, próxima ao lago de Tefé. Com a seca, ela teve que ir com a família para uma casa flutuante, encalhada na lama no porto de Tefé. 

“Eu vim pra cá porque lá, onde nós moramos, tá difícil. Nós vivemos para dentro do Lago e já não tinha mais nem água, é só lama pura mesmo. A gente tem que pescar para comer, mas o peixe não está bom de pescar, porque é só lama, os peixes estão morrendo”, conta.

Com a escola dos filhos fechada, sem peixe para se alimentar, sem possibilidade de deslocamento para voltar para casa e com a onda de doenças que vem atingindo a população da região, devido a água contaminada, Ana Carla está presa à casa flutuante que não flutua mais, enquanto o marido passa o dia fazendo pequenos trabalhos na cidade para conseguir alimentar a família. “As pessoas estão precisando de ajuda, estamos todos necessitados, inclusive, não é só nós lá na nossa comunidade, mas em outras comunidades também. Mas eles [políticos] só vão lá em tempo de política, onde nós mora, eles não vão lá nem ao menos saber, conversar se a gente precisa de alguma ajuda. Eles deveriam fazer mais pelas pessoas também”, apela.

Asas da Emergência em Tefé

“Nesse momento de emergência, o Greenpeace mobilizou suas equipes e sua aeronave para levar ajuda às comunidades impactadas por este evento climático extremo que castiga a região, levando alimentos e itens de primeira necessidade à comunidades indígenas e ribeirinhas”, explica Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace. 

Nesta primeira missão, levamos alimentos às comunidades ribeirinhas da Floresta Nacional de Tefé, em colaboração com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e apoio da Associação dos Moradores e Produtores Agroextrativistas da Floresta Nacional de Tefé (APAF), e para as comunidades indígenas Porto Praia e Nova Esperança do Arauiri, do povo Kokama, em Tefé, e Terra Indígena Jaquiri, do povo Kambeba, no município de Uarini, em colaboração com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e apoio local da Associação de Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (AMIMSA) e da União dos Povos Indígenas do Médio Solimões e Afluentes. 

Entrega de cestas básicas na comunidade indígena Porto Praia, da etnia Kambeba. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

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