Recorde de queimadas na região e taxa de 6.288 km², no entanto, mostra que ainda há muito o que fazer para cumprir a meta de desmatamento zero

Fazenda desmatada e ocupada por gado em Lábrea (AM). © Marizilda Cruppe / Greenpeace


O desmatamento da Amazônia teve redução de 30,6% no último ano, na comparação no mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Programa de Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Cerrado também registrou queda na área desmatada, após cinco anos de altas consecutivas. 

De acordo com o Prodes, a estimativa da taxa oficial de desmatamento na Amazônia Legal, que considera o período que vai de agosto de 2023 a julho de 2024, foi de 6.288 km², a menor área desde 2016 e a menor taxa dos últimos nove anos. 

Para Thaís Bannwart, porta-voz da frente de Florestas do Greenpeace Brasil, a retomada do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), é a principal responsável pela queda do desmatamento na região, mas ainda é preciso avançar ainda mais no combate ao desmatamento e prevenção de queimadas.

“Embora a volta da fiscalização e a estratégia de priorização de municípios críticos tenham refletido positivamente nos números anunciados, o Brasil segue muito longe do objetivo de alcançar o desmatamento zero até 2030, assumido pelo governo brasileiro”, afirma.

Enquanto os estados de Rondônia e Mato Grosso tiveram as maiores reduções no desmatamento, com quedas de 62% e 45% respectivamente, Roraima teve aumento de 53% na área desmatada. Análise do Greenpeace aponta que esse resultado foi impulsionado pelas intensas queimadas enfrentadas no estado nos primeiros meses de 2024, que entraram no cálculo do Prodes. 

Desmatamento no Cerrado começa, finalmente, a cair

No Cerrado, os dados do Prodes apontam para uma redução de 25,7% no desmatamento, em relação a 2023. Foi a primeira queda, após cinco anos de aumentos consecutivos, chegando a  8.174 km². Considerando os estados que compõem o MATOPIBA (Acrônimo de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), região de interesse econômico marcada pela expansão agressiva do agronegócio e que nos últimos anos vem registrando aumentos expressivos no desmatamento, houve queda em todos os estados, com destaque para a Bahia, que teve redução de 63% no desmatamento, na comparação com o período anterior, e Maranhão, com queda de 15%.

“É um resultado que merece ser comemorado, mesmo com todos os desafios que ainda existem.  O Cerrado é berço de nascentes que alimentam várias das principais bacias hidrográficas que abastecem o país, além de ser um hotspot da biodiversidade e precisa não só de um plano, mas de ações de longo prazo para sua proteção, que inclua o reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas e populações tradicionais”, afirma Thaís.

Para combater as mudanças climáticas, desmatamento precisa acabar

Acabar com o desmatamento é fundamental para reduzir a contribuição do Brasil com a crise climática, tema que estará em pauta nas reuniões da COP29 e do G20. A agropecuária e o desmatamento compõem a maior parte (74%) das emissões domésticas de gases do efeito estufa. De acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) para 2023, do Observatório do Clima, 46% das emissões vieram de mudança do uso da terra e 28% foram provenientes da agropecuária, que é também o setor que mais desmata. 

Em 2023 e 2024, enfrentamos anos com temperaturas recorde e secas históricas. Já vivemos um cenário marcado por inundações, secas, queimadas e não há tempo a perder. A atualização da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, com metas mais ambiciosas para 2035, é uma oportunidade para acelerar as mudanças necessárias, mas é preciso agir o quanto antes.

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“É necessário, ainda, bloquear todos os caminhos utilizados pelos desmatadores, com ações estruturantes e medidas de longo prazo, tais como vedar crédito, regular efetivamente os fluxos financeiros que ainda chegam a quem desmata, além de avançar na destinação de terras públicas, demarcação de territórios tradicionais, na regularização ambiental das propriedades inscritas no CAR e transparência de informações socioambientais e em mecanismos que promovam a rastreabilidade total de produtos agropecuários”, defende Thaís Bannwart.

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