Em menos de 24 horas, ministros reforçam agenda antiambiental que está em prática pelo atual governo e Bolsonaro afirma que áreas protegidas “atrapalham” o país.

Árvore solitária em um campo de soja, bem ao lado da floresta nativa, em Santarém (PA)

São Paulo, 4 de julho de 2019 – Em um curto período de 24 horas, integrantes do governo e o próprio presidente deixaram evidente em declarações públicas que a preservação da floresta amazônica não os interessa. Eles e o mundo não receberam bem os últimos dados de aumento de alertas do desmatamento na Amazônia, divulgados ontem pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): junho de 2019 registrou um aumento de 88% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Embora não sejam os dados consolidados do desmatamento, eles apontam um cenário alarmante. E chegam dias após a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia, que esboça a possibilidade de incluir salvaguardas ambientais, especialmente no que se refere ao desmatamento da Amazônia.

Em resposta, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general da reserva Augusto Heleno, desqualificou os dados, que são fornecidos pelo próprio governo desde 1985 e são uma referência mundial no monitoramento do controle do desmatamento. “A declaração é grave. O governo já começa a ver sua política antiambiental aparecer nos números que revelam a destruição da floresta. E qual a solução deles? Depreciar quem mostra a verdade. Há alguns meses, o próprio presidente já havia feito isso com o IBGE ao desqualificar os dados de aumento do desemprego. No atual governo funciona assim: se não os agrada, então é falso e não presta”, analisa Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.

Ainda ontem, o ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista, seguiu a mesma linha e considerou insignificantes os 8.000 km² de Amazônia destruída no último ano – tamanho que representa 5,2 vezes a cidade de São Paulo. Para o ministro, as mais de 1 bilhão de árvores derrubadas nesse período e a violência que o desmatamento causa aos povos da floresta não é importante. “Seu discurso só encontra semelhança ao de grileiros de terras, madeireiros ilegais e às máfias do desmatamento. Quem destrói a floresta tem hoje um aliado no comando do Ministério do Meio Ambiente”, finaliza.

Já na manhã desta quinta-feira foi a vez do próprio presidente atacar o meio ambiente. Em um café da manhã no Palácio do Planalto, Bolsonaro criticou a existência de áreas protegidas no país, afirmando que elas atrapalham o Brasil e ainda sugeriu que muitas seriam fruto de uma suposta “intromissão de estrangeiros”. Há alguns dias, o governo havia anunciado um plano para reduzir 67 unidades de conservação no país.

Os sinais de que o Brasil pode sofrer sanções já começaram. O governo da Alemanha comunicou ontem a retenção de uma nova doação de 35 milhões de euros, o equivalente a mais de R$ 151 milhões, para o Fundo Amazônia. A decisão é devido às incertezas do futuro do programa. Em comunicado, o governo da Noruega, maior doador, afirmou estar preocupado com o futuro do Fundo e o aumento do desmatamento da Amazônia. Em reunião com Salles, realizada ontem, os embaixadores dos países admitiram a hipótese de extinção do fundo bilionário. “A intenção de Salles parece ser esta mesma: extinguir o Fundo Amazônia, porque iniciativas de conservação da floresta não são bem vistas por um governo que tem uma agenda clara de destruição. Seria um prejuízo enorme para o país, não apenas financeiro, mas também de imagem”, avalia Astrini.

O Greenpeace não recebe recursos do Fundo Amazônia por não aceitar dinheiro de governos, de empresas ou de partidos políticos. Mas defende a manutenção da iniciativa por ser, comprovadamente, bem sucedida no combate ao desmatamento da Amazônia. Boa parte dos recursos, inclusive, é destinada a ajudar estados e municípios na implementação do Código Florestal.

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