Em discurso previsível, o presidente brasileiro descreve um país fictício e minimiza as graves crises que o país enfrenta no meio ambiente e na saúde 

Foto mostra fogo avançando sobre área em processo de desmatamento, com muita fumaça.
Queimada na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho (RO), em agosto de 2020, um mês após a publicação do decreto presidencial que proíbe as queimadas na Amazônia e no Pantanal. © Christian Braga / Greenpeace

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na 75ª Assembleia Geral da ONU aconteceu enquanto o país arde em chamas e testemunha a destruição de seus biomas e suas riquezas naturais. As imagens da Amazônia, Pantanal e Cerrado queimando estão há meses chocando o Brasil e o mundo sem que haja planos, metas ou orçamento capazes de proteger esses biomas de forma concreta e eficaz. 

Mesmo com a proibição imposta pela moratória do fogo desde 16 de julho, a Amazônia e o Pantanal registraram recordes de queimadas. Até o dia 21 de setembro, o Pantanal registrou 5.966 focos de calor, um aumento de 107% em relação a setembro todo do ano passado. Já a Amazônia registrou 27.660 focos entre os dias 1º e 21 de setembro, um aumento de 38% em relação ao mês de setembro de 2019. 

A política antiambiental do atual governo está derretendo a imagem do Brasil lá fora e prejudicando a economia nacional. O país que antes já foi visto como liderança na questão ambiental foi o que mais destruiu suas florestas no mundo todo, em 2019, segundo dados da Global Forest Watch. Em 2020 os dados mostram que a situação só se agravou.

“Negar ou minimizar o drama ambiental que o Brasil vive neste momento, resultado da política do governo Bolsonaro, agrava a difícil situação que o país enfrenta. Lamentavelmente, já estamos habituados a ouvir o presidente faltar com a verdade, desqualificar a ciência e buscar culpabilizar terceiros em vez de assumir a responsabilidade constitucional que possui. Entretanto, quando o faz na Assembleia Geral da ONU, diante de centenas de líderes de países, de investidores e do mundo todo, o presidente piora ainda mais a imagem do Brasil e agrava as sérias crises que enfrentamos”, comenta Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.

Ao contrário do que foi afirmado pelo presidente, os incêndios na floresta amazônica são fruto da ação humana, sendo uma das principais ferramentas utilizadas para o desmatamento, especialmente por grileiros e agricultores, que o utilizam para limpar áreas para a agropecuária ou especulação.

“Ao invés de negar a realidade, em meio à destruição recorde dos biomas brasileiros,  o governo deveria cumprir seus deveres constitucionais em prol da proteção ambiental e apresentar um plano eficiente para enfrentar os incêndios que consomem o Brasil”, completa Mota. 

A crise do clima no STF

Não é apenas a pressão internacional sobre o meio ambiente que questiona a política antiambiental do atual governo. Ontem, dia 21 de setembro, um dia antes do discurso de Bolsonaro na ONU, teve início uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a situação ambiental no país e a utilização dos recursos do Fundo Nacional sobre Mudança Climática. A audiência contou com representantes do governo e de organizações da sociedade civil, entre elas o Greenpeace Brasil, e prossegue hoje, 22, com a participação de especialistas e empresas.

Entre os participantes estavam também cientistas, como Carlos Nobre, Ricardo Abramovay e Thelma Krug, além de representantes de institutos e organizações que puderam explicar, com base em dados, o desmonte das políticas de contenção do desmatamento e o não uso do orçamento destinado ao meio ambiente. Todos os dados foram entregues à Corte. A ex-ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira, afirmou em sua intervenção que hoje em dia não se passa a boiada, se rastreia a boiada.

Fabiana Alves, coordenadora de Clima e Justiça do Greenpeace, ao terminar sua fala ao Supremo afirmou: “Temos que cuidar do nosso país em vez de fazermos comparações com outras nações que nos levam a um denominador comum que remete à devastação humana e ambiental, e a um desenvolvimento econômico que já se provou insustentável em todo o mundo”.

O desmonte de nossas políticas ambientais vai na contramão da soberania defendida pelo presidente. Ser soberano é ser capaz de agir com governança e eficiência para lidar com um país em chamas, além de defender as florestas e o meio ambiente, patrimônios do povo brasileiro.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!