Evento reuniu mais de 5 mil mulheres em Brasília, mostrando a força das mulheres indígenas no Brasil e no mundo

Entre os dias 02 e 08 de agosto de 2025, mais de 5 mil mulheres indígenas de diferentes povos e dos seis biomas brasileiros ocuparam as ruas de Brasília durante a IV Marcha das Mulheres Indígenas, organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Sob o tema “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta”, a mobilização se reafirmou como um dos mais potentes movimentos políticos de resistência e articulação das mulheres indígenas no Brasil e no mundo.
Muito mais que uma marcha, o encontro foi espaço de escuta, denúncia, espiritualidade e ação coletiva. Reunidas, as mulheres compartilharam suas dores e suas lutas, fortaleceram alianças e reafirmaram que seus corpos são também territórios em disputa e, por isso, precisam ser protegidos com a mesma urgência que suas terras ancestrais.
Neste ano, o evento ganhou dimensão internacional com a criação do Espaço Ancestral de Resistência Global, nos dias 05 e 06 de agosto, abrindo caminhos para o intercâmbio entre mulheres indígenas de diferentes países e culturas, para articular vozes globais em defesa da justiça climática, dos direitos das mulheres, dos saberes tradicionais e da vida na Terra.

O Garimpo e a violência contra os Corpos-Territórios
O garimpo é um dos maiores vetores de violência e destruição nos territórios. Mais do que devastar o meio ambiente, a atividade ilegal transforma aldeias em zonas de conflito, contamina rios com mercúrio e impõe às mulheres e crianças indígenas um cotidiano de violações.
Os dados são alarmantes. Pesquisa da Fiocruz revelou que mulheres e crianças indígenas estão entre os grupos mais afetados pela contaminação por mercúrio nas regiões impactadas pelo garimpo. Das amostras coletadas de 134 mulheres adultas e 144 crianças Yanomami, os níveis de mercúrio encontrados variaram entre 0,08 e 13,87 microgramas por grama. O limite considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 2,0 microgramas por grama. Ainda mais preocupante é que muitas amostras apresentaram níveis de mercúrio duas vezes acima do limite considerado perigoso para a saúde (6,0 µg/g), o que aumenta significativamente o risco de danos graves ao organismo.
Outro estudo, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Socioambiental (ISA) em 2024, mostrou que Mulheres Yanomami de comunidades indígenas próximas a áreas de garimpo são as que mais apresentaram déficit cognitivo causado pela contaminação com mercúrio, 40,2% de mulheres examinadas apresentam danos cognitivos severos relacionados à exposição crônica ao mercúrio.
Já em comunidades do Tapajós, os níveis da substância ultrapassam até duas vezes o limite considerado seguro pela OMS. Nos territórios Sawré Muybu, Sawuré Aboy e Povo Muybu, 62% das mulheres Munduruku em idade reprodutiva ultrapassaram o limite de referência de 6,0 μg/g H-Hg, da OMS.
As mulheres são especialmente afetadas pela presença do mercúrio no sangue durante a gravidez. Sem acompanhamento de saúde adequado, elas ficam em risco para si e para o feto, que também se contamina. A destruição não é apenas ambiental, é uma destruição que atinge os corpos. Dados da Fiocruz mostram a negligência com a saúde das mulheres indígenas: metade sofre de anemia grave, número que chega a 66% na Região Norte. A mortalidade por câncer de colo do útero é 80% maior do que entre mulheres não indígenas de baixa renda. Falta acesso a exames, a tratamento e a políticas públicas básicas.
A violência sexual também é uma realidade brutal enfrentada pelas mulheres indígenas. Em 2022, um relatório da Associação Hutukara Yanomami apontou que garimpeiros ofereciam comida, perfume e ouro em troca de sexo com mulheres e crianças indígenas. No mesmo ano, uma adolescente morreu após ser estuprada por garimpeiros numa comunidade na região de Waikás, uma das mais atingidas pela invasão de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami.

Marchar é existir, resistir e proteger o futuro
A Marcha das Mulheres Indígenas não é apenas uma mobilização simbólica, é um chamado coletivo à humanidade. Um grito ancestral que rompe o silêncio e convoca à responsabilidade. Ao reunir milhares de vozes, o movimento escancara a verdade: quem paga a conta da destruição ambiental são as mulheres. Seus corpos, seus filhos, suas águas, suas florestas estão em risco.
A luta das mulheres indígenas é uma luta pela vida. Pela floresta viva. Pela continuidade de modos de existir que respeitam a Mãe Terra. Apoiar essas lideranças é garantir um futuro ancestral, diverso e sustentável.
Assine agora a petição por uma Amazônia Livre de Garimpo. O tempo é agora. Ajude a pressionar por ações concretas que acabem com o garimpo nas Terras Indígenas e garantam o direito à vida, à saúde e ao território das mulheres indígenas. Porque proteger o corpo das mulheres indígenas é proteger o planeta.
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