Evento celebrou 12 anos da tradicional disputa de MCs no ABC Paulista e crise climática esteve no centro das rimas, conectando justiça climática com luta por direitos nas periferias.

No último sábado, a cultura hip hop se uniu à luta por Justiça Climática na celebração dos doze anos da Batalha da Matrix, tradicional disputa de MCs realizada no Parque da Juventude, em São Bernardo do Campo (SP). Foi um encontro de vozes que ecoaram alto e com força as dificuldades e os saberes de quem sente na pele as consequências de uma sociedade desigual e injusta — abismos que se aprofundam em um contexto de crise climática.
A Batalha pelo Clima, uma das fases do evento incorporou as pautas da justiça climática e do racismo ambiental. A proposta foi fazer com que as rimas trouxessem à tona vivências, memórias e percepções das quebradas sobre a crise climática, evidenciando como as consequências dos eventos extremos se sobrepõem às vulnerabilidades e às desigualdades nos territórios periféricos.

“A cultura hip hop é também um movimento social e político. Tudo o que a gente traz para um evento como este — com o objetivo de denunciar, contestar, entender e cobrar — tem a ver com as nossas vidas, nos impacta diretamente e, por isso, são temas muito importantes de serem pautados”, defende Luana Ribeiro, apresentadora da Batalha da Matrix.

Na fase da Batalha pelo Clima, os MCs Vinicius ZN, de Pernambuco, e Magrão, da zona sul de São Paulo, improvisaram no freestyle a partir de palavras-chave que eram exibidas ao longo da batalha. O desafio foi para gigantes — mas os MCs e as rimas deram conta do recado. As palavras selecionadas pela produção do evento, em parceria com o Greenpeace Brasil, incluíam termos como clima, enchentes, calor extremo, poluição, chuva, lixo, cobrar, pressionar, entre outras.
Assista a fase da Batalha pelo Clima:
As rimas escancararam uma realidade: enquanto parte da população dispõe de moradia segura, saneamento básico, ar-condicionado e infraestrutura para lidar com os impactos do clima, muitos outros não têm as mesmas ferramentas para enfrentar esse cenário. Vivenciam enchentes que arrastam tudo, calor que adoece, acesso precário à água potável e o abandono de políticas públicas que deveriam garantir o básico para uma vida segura.
Nesse contexto, expressões como o rap, o grafite e outras manifestações da cultura de rua não aparecem como solução para o problema, mas como formas de dar visibilidade às injustiças, de fortalecer a resistência e de mobilizar a força coletiva. São encontros que reafirmam identidades, fortalecem vivências silenciadas nos espaços de poder e ajudam a construir caminhos possíveis para a ação.

Para o MC vencedor da fase, MC Magrão, este é o ambiente certo para debater Justiça Climática. “É um tema que a gente precisa debater nos guetos e nas rodas culturais, pois muitas vezes a gente não tem acesso a esse tipo de informação. E é muito importante a gente dar atenção a essas vozes que estão gritando e falando sobre coisas que impactam nossas vidas diariamente. Muitas coisas já aconteceram no Brasil por conta da negligência de políticas públicas e por racismo ambiental, e nós, jovens negros, precisamos falar sobre isso numa roda cultural, que é onde a gente tá. Somos nós que vamos fazer a diferença pro clima de amanhã”.

Vinicius ZN MC, que também participou da Batalha pelo Clima, reitera a relevância de se levantar a pauta a partir das vozes das juventudes pretas e periféricas. Afinal, onde pulsam cultura e juventude, também pulsam sabedoria, sede de mudança, criatividade e resistência.
“A batalha de rima conversa com a juventude, que é o futuro. Trazer o debate sobre meio ambiente e racismo para esse espaço é fundamental, porque são as periferias que mais sofrem com a falta de respeito e de saneamento. Cuidar do ambiente onde vivemos é cuidar do ambiente onde vão viver as próximas gerações”, comenta Vinicius ZN.
Arte para além das rimas
Além da Batalha pelo Clima, o Grupo de Voluntários do Greenpeace Brasil do ABC Paulista realizou outras atividades conectadas com a festa de aniversário.
Como a Batalha acontece todas as terças-feiras à noite, o grupo marcou presença nos dois encontros que antecederam a festa, buscando aproximar o tema da Justiça Climática do público — em sua maioria jovens vindos de comunidades de diferentes municípios do Grande ABC e da Região Metropolitana de São Paulo.

No dia da comemoração de aniversário, o grupo convidou o artista NOM, que fez um grafite em tempo real refletindo o encontro do rap com a justiça climática. Além disso, montou um ponto verde com materiais informativos e produtos das campanhas da organização para serem compartilhados com o público.

“Esse encontro da Batalha com o Greenpeace é a realização de um sonho”, comenta Victor Monteiro, do Grupo de Voluntários do Greenpeace Brasil do ABC Paulista, que frequenta a Batalha há anos e foi um grande articulador desse encontro.
Para Victor, é essencial estarmos em espaços como este como forma de potencializar a discussão sobre crise climática a partir das vozes do hip hop, da cultura negra e periférica, fundamentais para estabelecimento de política deste país. “Nós trouxemos esse iglu gigantesco, que é o que nós temos de mais visual a gente ter pra chamar a atenção das pessoas pra virem trocar ideia com a gente pra que possamos conhecer mais sobre o que é preciso ser feito para enfrentar as desigualdades, as injustiças climáticas e entender que a mudança também está nas nossas mãos, complementa.
“Ao unir a voz das ruas com a nossa estratégia de pressão pública por mais políticas de prevenção e adaptação climática com a participação das pessoas mais impactadas, buscamos influenciar ainda mais os tomadores de decisão a implementar essa agenda”, comenta Rodrigo Jesus, porta-voz da campanha de Justiça Climática do Greenpeace Brasil.
(assista aqui a live completa da comemoração de 12 anos da Batalha da Matrix)

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!