Para Greenpeace, tratar do tema é essencial para enfrentar os principais desafios do país, como a fome e o desemprego
São Paulo, 28 de agosto de 2022 – A última semana foi marcada pelo início oficial da corrida eleitoral, na qual a sociedade brasileira assistiu aos candidatos à presidência falarem sobre Amazônia, desmatamento e mudanças climáticas. Se por um lado é positivo que o tema ambiental tenha sido citado nos debates e entrevistas, por outro, ainda preocupa o pouco espaço e a maneira como nossos futuros governantes encaram a Amazônia. Apesar de pautada ao longo de toda a semana, a agenda ambiental ainda vem sendo tratada de maneira superficial e com pouca conexão com outros temas, como a economia, pelos presidenciáveis – e isso não é suficiente para reverter o atual cenário de crise climática e do grave contexto enfrentado pela população brasileira.
Para Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, o próximo governo precisa de propostas mais ambiciosas para reverter o desmonte ambiental que assola o Brasil atual. “O próximo governo precisa se comprometer verdadeiramente em implementar uma reversão concreta nos rumos das políticas ambientais atuais, o que passa por priorização orçamentária, coordenação interministerial e ampla participação da sociedade civil para a construção e implementação das políticas públicas”, destaca.
Desde 2019, o Brasil vem colecionando recordes negativos de desmatamento e queimadas, que cresceu, respectivamente, em mais de 75% e 218% nesse período em comparação com 2018. Na última segunda-feira (22), por exemplo, enquanto o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, afirma no Jornal Nacional que o ribeirinho “taca fogo”, a Amazônia registrava o maior número de queimadas em 15 anos. Foram 3.358 focos de incêndio em 24 horas. O tema da devastação da floresta e os seus impactos na economia do país, no desenvolvimento social da região Norte e até na política internacional do Brasil não podem ser tratados com superficialidade.
Confira o posicionamento do Greenpeace Brasil sobre os principais temas abordados na primeira semana da corrida eleitoral:
Agronegócio
“O país tem um modelo de produção agrícola que envenena a população para beneficiar o agronegócio, enquanto 33 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar grave no país. O governo atual bateu recorde de liberação de agrotóxicos, com mais de 1784 novas substâncias aprovadas, representando mais de 30% de todo histórico de 20 anos de registros. O Brasil precisa reverter esse modelo, e isso passa pelo fortalecimento da agricultura familiar, que realmente alimenta a população, e da agroecologia, que é uma importante solução para as atuais crises da fome e do clima.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Fome
“Se o próximo governo continuar negando o papel da agricultura familiar e da agroecologia, não haverá garantia de comida de verdade na mesa dos brasileiros. É preciso mudar o modelo atual que prioriza a exportação de commodities. Não é o agronegócio que alimenta o Brasil. Uma agricultura baseada na diversidade será a grande transformação na luta contra a fome.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Desmatamento
“Se compararmos 2018 com 2021, vemos que o desmatamento da Amazônia aumentou em mais de 75% e os incêndios florestais aumentaram em 218%. Apesar dos dados, 97% dos alertas de desmatamento emitidos desde 2019 não foram fiscalizados. Esses números são um reflexo do desmonte atual das estruturas e de políticas públicas que promovem a proteção ambiental. Para o Brasil cumprir o compromisso no esforço global para limitar o aquecimento global a 1.5˚C, o próximo governo precisará reduzir, no mínimo, 60% do desmatamento até 2025.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Clima
”Após décadas de alertas por parte de cientistas sobre a crise climática e seu impacto na vida das pessoas, esse tema precisaria ser mais debatido e os candidatos apresentarem propostas concretas. Cada decisão nos próximos anos precisa passar obrigatoriamente pelo envolvimento de múltiplos setores governamentais para que o compromisso do Brasil no esforço global para limitar o aquecimento global a 1.5˚C seja cumprido, sobretudo em um momento em que o Brasil tem aumentado sua emissão bruta, batendo em 2020 a maior desde 2006. Sem enfrentar a crise climática, não há como superar os demais males que ameaçam a vida dos brasileiros, como a fome.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Energia
“A conta de luz é uma das que mais pesam no orçamento das famílias brasileiras. Se hoje o consumidor paga 20% mais caro na conta de luz, comparado a 2020, é por conta de um modelo energético predatório que depende do acionamento das termelétricas. Além de ser muito poluente, é altamente impactado pelas secas. Um plano de governo comprometido com o povo brasileiro deve necessariamente incluir a transição energética para fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Saúde
“A saúde da população passa pelo meio ambiente protegido. Quanto mais desmatamento, mais chances de aparecimento de doenças, que podem se transformar em novas epidemias e pandemias que ameaçam a vida de toda a sociedade. O desmatamento atual tem batido sucessivos recordes, sendo em 2022 o maior dos últimos 15 anos. Só o desmatamento zero poderá garantir bem estar social e saúde dessa e das futuras gerações.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Igualdade de gênero
As mulheres estão entre os grupos que mais sofrem os impactos da crise econômica, ambiental e climática que vivemos. E, em 2019, elas chegaram a 80% da participação na agricultura familiar, que é o que alimenta de fato a população brasileira, mostrando o papel incontestável das mulheres na soberania alimentar. Como uma parcela significativa dos brasileiros aptos a votar, elas têm atuação social e política determinante para o futuro do país e do planeta. As mulheres brasileiras precisam de candidatos e candidatas que representem os seus ideias e que as respeitem acima de tudo.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
Liberação de armas
“Os recentes assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips mostram que o aumento da violência, estimulado pela facilitação do porte de armas, compromete a proteção do meio ambiente e coíbe os direitos dos povos indígenas. O Brasil é o quarto país que mais assassina ativistas ambientais no mundo e essa situação se agrava com uma política desenfreada de armar a população.”
Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil
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