Sem passar por avaliação da CCJ e atropelando o STF, o Senado aprovou a PEC 48. Greenpeace Brasil avalia a votação no Senado como afronta aos direitos e garantias fundamentais da Constituição e à sociedade brasileira.

O Senado aprovou, nesta terça-feira (9), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 48, que insere no artigo 231 da Constituição Federal a delirante tese do Marco Temporal como condição para a demarcação de terras indígenas, além de prever que o Estado indenize fazendeiros em caso de desapropriação por interesse social. 

O Greenpeace Brasil avalia a aprovação da PEC no Senado como um ataque aos direitos e garantias fundamentais da Constituição e condena a maneira como a votação foi conduzida: sem a participação dos povos indígenas e com apresentação do relatório com a sessão já em andamento. 

“A votação da PEC 48 reflete o modo de operar antidemocrático do Congresso: os povos indígenas não puderam acompanhar a votação em Plenário, o relatório foi apresentado com a sessão já em andamento,  o processo de votação foi acelerado e não respeitou o intervalo de 5 sessões e, ainda, inseriram um novo artigo ao texto que obriga o governo a indenizar o proprietário em caso de desapropriação por interesse social. Ou seja, não bastava o absurdo da tese do marco temporal, no atropelo final, incluíram uma especia de legalização da grilagem no novo parecer, momentos antes da votação. É a prova de que estão dispostos a tudo para garantir os privilégios de quem invadiu terra pública e ainda onerar os cofres públicos”, afirma a especialista em políticas públicas do Greenpeace Brasil, Gabriela Nepomuceno. 

Parado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) desde julho de 2024, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pautou a votação da PEC no plenário para esta terça-feira sem esperar decisão da CCJ sobre a constitucionalidade da proposta, atropelando o rito normal de tramitação. 

“Mais que inviabilizar terras indígenas que já estão em processo demarcatório e dificultar a demarcação de novas terras, a PEC 48 tem por objetivo final reescrever a Constituição Federal para dificultar cada vez mais o acesso dos povos originários aos seus territórios e abri-los à exploração econômica, atividade atualmente sem regulamentação”, complementa Nepomuceno.

STF precisa reafirmar direitos originários dos povos indígenas

A votação no Senado se deu em caráter de urgência e na véspera do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciar o julgamento da  Lei 14.701 na quarta-feira (10), chamada pelo movimento indígena como “Lei do Genocídio Indígena”.

“A mensagem que vem do Senado é nítida, a agenda do privilégio tem prioridade precedência sobre a agenda do povo. A votação de hoje foi um recado perigoso não somente ao STF, mas à toda sociedade brasileira, de que este Senado não medirá esforços para acirrar uma crise política entre os Poderes para mudar a Constituição Federal sempre que os interesses do agronegócio e da indústria estiverem na mesa e se chocarem com a lei”, afirma Nepomuceno. 

Atualmente, o marco temporal é previsto em lei, mas é questionado no STF, que pode derrubá-lo nesta nova fase do julgamento da Lei 14.701, que se inicia na quarta-feira (10).

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