25 anos depois, ribeirinhos e indígenas do Médio Juruá (AM) voltam a receber o Greenpeace – hoje, região é exemplo global de conservação e soluções para o clima
Em maio, o Greenpeace voltou às águas ancestrais e amazônicas do Juruá, o rio com mais curvas do mundo. Há 25 anos, quando estivemos lá pela primeira vez, o Médio Juruá, no Amazonas, sofria com o desmatamento.
Hoje, essa mesma região se tornou um exemplo mundial em sustentabilidade na Amazônia, graças à resistência e organização de comunidades ribeirinhas e indígenas.
A bordo da Expedição ‘Respeitem a Amazônia’, registramos histórias reais de conservação ambiental e soluções climáticas, mas que precisam de mais financiamento para serem ampliadas.
“Queremos ecoar para o mundo que as soluções já existem na Amazônia e nas outras florestas tropicais, mas precisam de apoio financeiro direto, sem burocracia e chegando no chão dos territórios”, destaca Rômulo Batista, coordenador de Soluções da Floresta do Greenpeace. “A COP30 será um momento decisivo para garantir que o dinheiro chegue a quem realmente cuida da floresta.”
Selecionamos para você os cinco melhores momentos, confira!
Soluções da Amazônia, maior floresta tropical do mundo
Durante quase vinte dias navegando, visitamos 7 comunidades ribeirinhas e 4 aldeias do povo indígena Deni. Tivemos o prazer de conhecer atividades inspiradoras que geram renda e conservam a floresta amazônica, como:
- coleta de sementes de andiroba e murumuru
- extração de seringa, açaí, mel e óleo de copaíba
- manejo de tartarugas e peixes
- agricultura familiar, como roça de mandioca para fazer farinha
São práticas tradicionais que combinam economia, tecnologias sociais e saberes ancestrais, gerando renda e conservação. Por exemplo, o óleo extraído das sementes é vendido para empresas de cosméticos, como a Natura, já a borracha da seringa é comercializada para fabricação dos tênis Vert, enquanto o manejo sustentável multiplicou em 50 vezes os pirarucus e as tartarugas nos últimos 15 anos, beneficiando diversos ecossistemas e espécies.
Porém, falta incentivos financeiros para melhorar o bem-estar das populações locais que atuam nessas atividades, fomentando a proteção da floresta e contribuindo diretamente no enfrentamento às mudanças climáticas.
Quase 2 milhões de hectares conservados
“Para o povo juarense, a reserva será a melhor comemoração, será a resposta aos seus ecos. Será como o canto do uirapuru que, na memória amazônica, é sinal de bênçãos da fortuna”, disse Chico Mendes nos anos 80 sobre a luta das comunidades do Médio Juruá.
Hoje, essa profecia se concretizou. O Médio Juruá se tornou um mosaico de áreas protegidas, que foram conquistadas pela luta dos moreadores. São quase 2 milhões de hectares de Floresta Amazônica conservados, com reconhecimento legal e gestão comunitária:
- Resex Médio Juruá – 286.954,81 hectares
- RDS Uacari – 632.949,02 hectares
- Terra Indígena Deni – 998.400 hectares
O Médio Juruá é maior que países como Luxemburgo e Jamaica juntos! É a prova de que é possível viver da floresta em pé, com produtos da sociobiodiversidade que valorizam a fauna, a flora e as pessoas.
A união que libertou o Médio Juruá
Até os anos 90, as comunidades locais enfrentavam a semi-escravidão, com patrões que impunham dividas exorbitantes, impediam a criação de escolas e exploravam seus trabalhos e a floresta. Só teve fim quando o povo se juntou e conseguiu se libertar, criando a Asproc (Associação dos Produtores de Carauari), a maior organização do Médio Juruá.
O segredo para mudar essa realidade foi a união e a parceria com organizações, como Meb (Movimento de Educação de Base), Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Opan (Operação Amazônia Nativa), CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e Instituto Juruá.
Atualmente, a região possui mais associações e cooperativas que contribuem na organização local, como a Codaemj (Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária do Médio Juruá), a Asmanj (Associação de Mulheres Agroextrativistas do Médio Juruá), a Amaru (Associação dos Moradores da RDS Uacari) e a Aspodex (Associação do Povo Deni do Rio Xeruã).
Reencontros e memória de luta
Entre 1999 e 2003, o Greenpeace atuou no Médio Juruá várias vezes a pedido dos ribeirinhos e do povo Deni, para apoiar:
- na denúncia contra a exploração ilegal de madeira e o desmatamento;
- na produção sustentável da seringa sem defumação;
- e na autodemarcação da Terra Indígena Deni.
Mais de duas décadas depois, fomos mais uma vez muito bem recebidos pelo povo juarense e encontramos uma realidade diferente: a luta rendeu frutos que enchem a todos de esperança.
“Se hoje vemos sumaúma e outras árvores centenárias na beira do rio, é porque Greenpeace nos ajudou a denunciar o desmatamento e combater a madeira ilegal anos atrás”, conta Seu Basto, primeiro presidente da Asproc, associação mãe do Médio Juruá.
Floresta tem mais valor em pé: hora de financiar quem protege
Apesar dos avanços, ainda falta apoio e acesso direto a recursos para melhorar a qualidade de vida e fortalecer as soluções do Médio Juruá. A COP30 será um momento decisivo para financiar quem realmente mantém viva as florestas tropicais na Amazônia, África ou Ásia.
Para isso, defendemos a criação de mecanismos com governança forte, transparência e inclusão de povos indígenas e comunidades tradicionais, como o TFFF, que propõe a remuneração por hectare conservado e que, se bem implementado, pode mudar essa realidade de escassez financeira– diferente do crédito de carbono, que remunera por compensações, em sua maioria, ineficazes e que atrasam o abandono dos combustíveis fósseis, principais causadores da crise climática.
As verdadeiras soluções estão na floresta e nas mãos de seus guardiões. Ajude a demandar os governos a direcionar dinheiro para quem realmente faz a diferença!
Assine a petição “Respeitem a Amazônia”
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