De acordo com dados do sistema Deter para o mês, foram 322 km² com alertas, aumento de 61,8% em relação a fevereiro de 2022

A Amazônia ainda deve colher frutos podres da intensa destruição dos últimos quatro anos. Será necessário muito trabalho do novo governo para virar esse jogo.
© Chico Batata / Greenpeace

Dados divulgados hoje pelo sistema Deter-B, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontam para uma área de 322 km² com alertas de desmatamento na Amazônia Legal em fevereiro. O número acumulado para o mês representa um aumento de 61,8% em relação a fevereiro de 2022 e um recorde da série histórica. 

O estado de Mato Grosso liderou nos alertas de desmatamento, com 162 km² (50,3% do total), seguido de Pará e Amazonas, ambos com 46 km² (14,2% do total). Em fevereiro, a Unidade de Conservação com mais alertas foi a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, no Pará, com 6,31 km² afetados. 

Em janeiro, o sistema havia apontado uma queda de 61% no acumulado de alertas de desmatamento, em relação ao mesmo período em 2022, chegando a 167 km². Para Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, o aumento da taxa de desmatamento em fevereiro, comparado ao mês anterior, pode ser interpretado por inúmeros fatores, entre eles a intensa cobertura de nuvens no período, que dificulta a observação neste período do ano.

“Primeiro, é necessário entender a metodologia do programa de monitoramento realizado pelo Inpe, que é referência nacional e internacional. Os sistemas são baseados em satélites ópticos e eles não conseguem enxergar abaixo das nuvens. Isso pode ter sido responsável por essas diferenças tão grandes nos dois primeiros meses, tendo em vista que estamos no inverno amazônico, que se caracteriza pelas chuvas e coberturas de nuvens muito intensas. Ou seja, parte do desmatamento que foi registrado agora em fevereiro poderia ser do mês de janeiro ou até mesmo de meses anteriores a fevereiro”. 

O “inverno amazônico”, como é chamada esta época do ano, é o período de chuvas intensas na região Norte, que vai de dezembro a maio. Nesta época, os índices de desmatamento costumam ser menores, tanto devido a dificuldade de realizar o desmate e a queimada em um contexto de intensas chuvas e o difícil acesso a certas áreas, como pela alta cobertura de nuvens, que impede a leitura feita pelos satélites. Já no “verão amazônico”, que vai de junho a novembro, quando as chuvas são mais escassas, o desmatamento tradicionalmente aumenta, pois é quando o clima fica mais seco e propício para as atividades relacionadas ao desmatamento. 

Amazônia: sob nova direção

Depois de quatro anos de intenso desmonte dos sistemas e órgãos de fiscalização e controle do desmatamento na Amazônia, e da corrida pela invasão da floresta, o Brasil ainda deve colher muitos frutos podres desta política de destruição. 

“Acabamos de sair de um governo que apoiava o desmatamento. Enquanto a fiscalização e o controle não chegam ao território, os desmatadores ilegais podem estar aproveitando para expandir esse desmatamento”, salienta Rômulo.

Há uma movimentação por parte do atual governo para redução do desmatamento, como os retornos do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e do Fundo Amazônia, este que tem mais de R$ 3 bilhões para financiar ações de fiscalização, mas ainda não é o bastante.

“Foram iniciativas que já surtiram efeito no passado, no entanto o momento agora é outro.  A Amazônia e o Brasil de hoje não são o mesmo de 20 anos atrás. Vai ser necessário muito mais trabalho e também inovações tecnológicas, legais e infralegais, para combater as queimadas, o desmatamento, a violência contra os povos da florestas e o garimpo ilegal, que não só estiveram fora do controle, como foram apoiados pelo último governo”, finaliza Rômulo. 

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